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Artigos-->Prostituta do gênero humano -- 18/11/2002 - 08:57 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A estudante Suzane, 19, seu namorado, Daniel Cravinhos, 21, e o irmão dele, Cristian, 26, foram presos dia 8 de novembro, após confessarem o assassinato do casal Marísia e Manfred von Richthofen, país da Suzane. A moça morava com os país e o irmão no Brooklin, região nobre na zona sul de São Paulo. O crime ocorreu na madrugada do dia 31 de outubro. O casal foi assassinado com pancadas na cabeça enquanto dormia, em casa. Ao tempo em que os dois rapazes matavam Marisa e Manfred, Suzana remexia em livros e papéis para simular um assalto e pegou uma maleta com dinheiro, de onde os três roubaram US$ 5.000 e R$ 8.000. A estudante planejou e ajudou seus parceiros a entrar na casa. Ela acendeu a luz do corredor que dá acesso ao quarto para que os assassinos pudessem visualizar as vítimas deitadas. Foi Suzane também quem separou sacos de lixo e luvas cirúrgicas para a utilização do material no crime. A psiquiatra Marísia, após ser golpeada, teve uma toalha molhada colocada na boca e um saco de lixo amarrado na cabeça, conforme depoimento de Cristian. Daniel agrediu o engenheiro Manfred.

Suzane disse à polícia que planejou o assassinato dos pais, junto com o namorado, porque Manfred e Marísia não aceitavam seu relacionamento amoroso. Pretendia herdar as posses dos pais, administrar seus negócios e viver com Daniel. Circularam versões de que ela pretenderia matar, também, o irmão Andreas, de 15 anos, com quem teria que dividir a herança.

O caso tem sido assunto para conversas em todo o país, em todos os setores da sociedade. Multiplicaram-se entrevistas e artigos nos meios de comunicação opinando sobre o ocorrido. "O amor não leva a que se cometa crimes", disseram alguns - no que são desmentidos por inúmeros casos ao longo da história. "Foi falta de educação religiosa", afirmou um frei, esquecido de que a moça tinha formação presbiteriana e estudava numa universidade católica. "Foi a maconha", argumentou um psiquiatra, levando em conta que a moça e os rapazes consumiam a erva e deixando barato que o uso da droga leva a patricídio e matricídio, sem mais nem menos, e danem-se as evidências em contrário.



Antiga tragédia



Afirma-se que a alma humana é indevassável. Talvez nunca se descubra que sentimentos moveram a moça a planejar o assassinato dos pais. Mas para viver seu amor pelo namorado bastaria fugir de casa, o que dificilmente valeria algumas linhas nos jornais. Ficou evidente que lhe interessava manter os bens que herdaria, e para herdá-los deveriam ser tirados de cena os pais e, mais tarde, quem sabe?, o irmão.

A ambição é um antigo móvel dos humanos e o episódio do Brooklin remete à tragédia grega. Sófocles (496a.C. - 406a.C.) escreveu, na Antígona: "Nunca houve instituição tão fatal aos homens como o dinheiro. É ele que arruína as cidades; é ele que expulsa as pessoas das suas moradas; é ele que seduz, que atormenta os espíritos virtuosos dos homens e os leva a cometer ações vergonhosas. Instiga-os sempre à vilania e à prática de todas as impiedades".

Gaius Plinius Secundus, naturalista romano (23 d.C. - Stabia, 79, conhecido como Plínio, o Velho), em sua História natural registrou: "É no dinheiro que a cupidez tem a sua origem (...) pouco a pouco ela queima com uma espécie de raiva: e já não é a cupidez, mas a fome de ouro". Nos primórdios da acumulação primitiva capitalista, o descobridor da América, Cristóvão Colombo, constatou numa carta datada da Jamaica em 1503: "O ouro é uma coisa maravilhosa! Quem o possui é senhor de tudo o que deseja. Com o ouro compra-se a entrada das almas no paraíso".

A sociedade capitalista é, por excelência, a sociedade produtora de mercadorias, o ápice da busca de riquezas. A ganância capitalista não tem limites morais, e assim ensina seus viventes. Acontecimento recente, como a reunião Rio + 10, na África do Sul, onde os países mais desenvolvidos (Estados Unidos à frente) se negaram a aceitar regras para a exploração, mesmo colocando em risco a vida no Planeta, remete também a uma denúncia escrita em 1838 pelo economista britânico William Howitt: "As barbaridades e as implacáveis atrocidades praticadas pelas chamadas nações cristãs, em todas as regiões do mundo e contra todos os povos que elas conseguem submeter, não encontram paralelo em nenhum período da história universal, em nenhuma raça, por mais feroz, ignorante, cruel e cínica que se tenha revelado" (ele nem imaginava o que viria pelo século seguinte, com duas guerras mundiais e inúmeros conflitos localizados, na disputa por mercados).

Junto com a sociedade capitalista, desenvolve-se e ganha dimensões jamais vistas a crise de valores morais, que se reflete em gestos como a da estudante que matou os país. Superar esta sociedade, substituindo-a por outra, em que "o homem não seja o lobo do homem", como sonhavam os idealistas do século XIX, é desafio que permanece. Até lá, continuam atuais estas palavras do Timão de Atenas, peça de Shakespeare escrita nos anos 1607-8:

"Ouro! Ouro amarelo, luzidio, precioso!...

Eis aqui suficiente para tornar o preto branco, o feio belo, o injusto justo, o vil nobre, o velho jovem, o covarde valente!...

O que é tal coisa, ó deuses imortais? E o que desvia dos vossos altares os padres e os acólitos...

Esse escravo amarelo constrói e destrói as vossas religiões, obriga a abençoar os malditos, a adorar a lepra branca; coloca os ladrões no banco dos senadores e confere-lhes títulos, homenagens e genuflexões. É ele que faz um jovem noivo da viúva velha e gasta...

Vamos, argila danada, prostituta do gênero humano..."
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