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Contos-->aquela noite -- 30/11/2007 - 13:13 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era tarde já. O silêncio reinava entre as paredes. Apenas o barulho do meu coração, acelerado, varava aquela ausência de som, levando meus ouvidos a querer interpretar o que as batidas, alucinadas, significavam. Havia um sabor de sangue na boca, sedenta também de um beijo verdadeiro, de um palavra qualquer que carregasse em si o sentido da redenção, da libertação de uma alma aflita, corroída pela estúpida certeza de sua insignificância. Um ódio monstruoso me consumia. Não era um sentimento tão facilmente explicável, havia nele fundamentação filosófica. Dilacerante, a mágoa que cobriu de ódio o meu ser levou-me a rejeitar, compulsivamente, tudo aquilo que aos seres humanos tão caro é. E naquela noite, especificamente, eu queria atirar na lua, pra destruí-la, deixando a noite tão escura que ninguém seria capaz de ver nada além das imagens que a mente tentasse preservar.

O gelo da noite concentrou-se no meu íntimo, afastando o mínimo resquício de humanidade que poderia existir em alguém chamado Augusto. O instinto de vingança somente havia crescido desde o momento em que aquela traição se perpetrou no beijo que roubou da minha boca toda palavra de inocência, quando a outra pronunciou o nome de um homem que não era eu. Acendi o cigarro. A fumaça encontrou espaço acolhedor no cérebro, fazendo-me sentir a vibração dos neurônios em choque com as substâncias que os ativavam. A tontura momentânea não relegou minha sede de matar aquela mulher a um plano meramente subjetivo. Vendo as cinzas do cigarro no chão, cansei os pensamentos na tentativa de elaborar um plano perfeito, que não deixasse qualquer pista sobre a morte de Isabel. As cinzas...

Passos de veludo. Mãos trêmulas. Noite de luar rasgada por sussurros doentios, quebrada em sua face prateada e silenciosa por uma sombra digna de pertencer a um corpo possuído por baixos instintos de vingança. O cigarro consumiu-se pelo o fogo. O fogo queria continuar consumindo matéria. Qualquer matéria. A chave cuja cópia eu fizera sem Isabel saber estava ávida para ocupar o espaço onde somente ela caberia perfeita para abrir aos olhos aquela imagem soberba, divina, eroticamente desenhada sobre a cama.

O último cheiro que aquela maldita mulher sentiria era o da pólvora espalhando-se invisivelmente pelo quarto escuro. Eu também senti aquele cheiro, que daria lugar ao cheiro fantástico de uma vida consumida pelas chamas da paixão frustrada. Eu não me lembro de quanto meus ouvidos suportaram os gritos da morte. Sei que as cinzas sempre preservam um pouco da substância da matéria de que se originaram. Quando aquelas cinzas chegarem ao chão e no seu lugar nascer qualquer flor, num milagre que somente em minha mais alucinada previsão pode acontecer, tomarei essa dádiva da natureza para ofertá-la à primeira mulher que encontrar.

Eu nunca dei flores a Isabel...
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