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cronicas-->A população da minha casa -- 26/02/2005 - 18:06 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Na minha casa, moram comigo: um cachorro de raça, um cachorro vira-latas, um papagaio, um canário e uma tartaruga. De vez quando somos visitados por um casal de pombos - ou mais de um casal, não dá para reconhecer se é o mesmo - que vem fazer seu ninho na beirada exterior da janela do meu estúdio. Dali dá para eu ver uma praça sem árvores e coberta de areia, pedrinhas e o esqueleto do que um dia foi um chafariz. Os pombos descobriram que esta janela dá para a melhor vista da casa e ali se instalaram. Tiveram seus filhotes, sumiram pelo ar. E, logo depois, ou eles ou outros pombos, voltaram a usar a mesma beira de argila de cor amarela, e ali se instalaram para o aquecimento dos ovinhos. Da primeira ninhada saíram dois pombinhos; da segunda, três. Parece que o lugar é bastante animador.

A população da minha casa é indiferente aos vaivéns dos pombos. Cada um está preocupado com sua própria subsistência e sobrevivência. E cada um deles procura não amolar o outro, nem ser amolado. O canário canta quando lhe dá na bola. O papagaio só fala o que quer lembrar e nunca para eu exibi-lo a alguma visita. "Fala, louro, fala!" - tentamos convencê-lo. Nada. Silêncio e um olha absolutamente indiferente a nossos rogos. "Louro, aqui ó, o hino do Corinthians!" E alguém começa a cantarolar as primeiras palavras do famoso hino, que o louro sabia de cor e salteado. Mas, nada. Sentindo-se invadido na sua privacidade, ele nos dá as costas. Nem se abala com o pedacinho de banana que lhe coloco ao pé da sua pata direita. Nem olha para mim. Continua nos seus pensamentos de papagaio.

A tartaruga tira a cabeça da carapaça, a muito custo. Um dia quis fotografá-la de olhos abertos, mas para isto tive de esperar horas até que ela se resolvesse sair da sua casa. Esticou o pescoço, lentamente afastou as pálpebras da parte baixa dos olhos, baixou a cabeça, se recolheu. Não tive tempo de apertar o botão da càmera. Elá já se tinha recolhido de novo. Parecia que fazia de propósito. Deixei uma banana e uma tira de alface bem ao alcance da sua boca. Para chegar até estes quitutes, teria de se esticar de novo. Não se deu ao trabalho. Cansada, fui dormir. No dia seguinte, tanto a banana quanto a tira de alface tinha, desaparecido. Decerto para dentro dela - e ela, para dentro da carapaça.

Os cachorros são os melhores amigos do homem mesmo. (Será que os homens são os melhores amigos dos cachorros?) O vira-latas me foi dado de presente de aniversário, por um menininho vizinho. A mãe dele se recusava a limpar o que o cachorrinho fazia e o pai ameaçou levá-lo para a linha do trem. A maldade humana não conhece limites. O menino resolveu salvá-lo, me presenteando o estorvo da família. Aceitei, pois não tinha nenhum cachorro então. E deixei-o com o nome com o qual viera para casa: Bagunça. Nome nada simpático, mas ele já estava acostumado a ser assim chamado e eu não estava com muita paciência para treiná-lo com outro nome.

O de raça, esperto, elegante, vivo e todo jeitoso, me foi dado numa complicada compra em que a mercadoria (de uma loja de antiguidades) não me foi entregue. Depois que ameacei mandar uma carta para o jornal, o lojista me perguntou se eu aceitaria um cachorro de raça, de valor maior do que a mercadoria que se "perdera" - com um mês de mantimentos para o cachorro. Aceitei, para não perder mais. Sempre poderia vender o cão - mas não o fiz. Ficamos amigos para sempre. Ele se chama "Samovar", porque esta foi a peça que tinha comprado e que nunca me foi entregue.

Samovar e Bagunça se dão bem, cada um come do seu próprio prato e não se invejam. A comida do Samovar tem de ser diferente daquela que dou para o Bagunça. E é também mais cara. Mas a comida do Bagunça é muito mais saborosa - acho eu. Pelo menos tem um cheirinho melhor. Bebem a mesma água, no mesmo prato fundo, esmaltado de azul. Cada um espera o outro terminar para então enfiar sua língua e fazer dela uma colher par engulir a água. É uma graça vê-los.

Na hora de todos nos recolher, fecho a portinha onde ficam os cachorros, desço o pano na gaiola do papagaio, o outro pano na gaiola do canário, boto a cerquinha portátil por volta da tartaruga, apago as luzes, desligo a televisão e vou para a cama. Nenhum dos meus companheiros vai me incomodar até de manhã. Porque sou a empregada de todos estes bichos, que não fazem nada a não ser por minhas mãos. Até o banho eu tenho de lhes dar. E a comida. E entretê-los com várias vozes, uma para o papagaio, outra para a tartaruga, uma melodia para cada cachorro e um piu-piu para o canário.

Até amanhã, meu zoológico.
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E.E.
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