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Contos-->A ver navios! -- 15/09/2007 - 21:27 (paulino vergetti neto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
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A ver navios!

Avistava o mar. Passava tardes inteiras no Mirante do Suisso olhando aquele marzão tremulando, aqui e acolá pipocando em flocos brancos de espumas longínquas, quando suas águas chocavam-se com os bicos dos penedos quase todos submersos. Minha visão andava a catar essas imagens até onde a paciência e a ilusão me permitiam. Havia horas em que o que via longe não me deixava entender a imagem. Parecia enxergar um paraíso no fim do horizonte que me encantava.
- Subiu algum hóspede?
- Hoje não!
O vigilante do pé da estrada calçada era monossilábico. Feioso à beça. Quando se deixava a beira mar, subia-se numa ladeira forrada de paralelepípedos, tortuosa e íngreme, até chegar-se à pousada. Atrás dela localizava-se o mirante onde o vento passava com força descomunal. Corria por sobre ele durante quase o dia todo. Quando a maré cansava, levava o vento para se esconder de nossa pele. Um calorzinho nem tão manso entrava em cena. Passava logo.
Ninguém conseguiria hospedar-se nela sem que antes fizesse reserva de estada. Não adiantava ir até o vigilante do pé da ladeira calada e pedir para adentrar. Educadamente ouviria um não.
- Apenas com reserva, senhor!
- Mas eu não sabia...
- Infelizmente não, senhor! A ninguém é permitido subir sem reserva prévia. Roger não receberia isso com naturalidade.
- Quem é Roger?
- O proprietário da pousada, senhor!
- Hum... hum!
Desci, fui até o primeiro orelhão de Japaratinga, o mais próximo de mim. Tinha comigo um cartão contendo os números telefônicos da pousada que o negrão havia me dado. Telefonei então!
- Boa- noite!
- Boa-noite, senhor. Pousada da Maré, às suas ordens!
- Há vagas?
- Sim, senhor, há! Quantas pessoas são?
Era o mês de julho, chovera torrencialmente apesar de naquela noite o céu mostrar-se de brigadeiro. Facilmente consegui minha reserva imediata. Deram-me um número confidencial para que me servisse de identificação, quando novamente eu estivesse com o porteiro monossilábico do pé da ladeira da pousada. Disse ao recepcionista que, em dez minutos, estaria entrando nas dependências da casa. Concordou comigo.
- Muito bem, senhor, dentro de dez minutos esperarei o senhor no meio de nós. Seja muito bem- vindo!
Não pensei que, com reserva, ser-me-ia tão fácil hospedar-se lá. O segredo da permissão para fazê-lo era justamente reservar o aposento, nada mais do que isso. Apenas uma palavrinha ao telefone e tudo fora liberado. Ai,ai...
Quando estacionei meu carro à frente do portão principal de entrada, antes de pô-lo definitivamente no pátio do estacionamento, espreguicei-me e contemplei reflexivamente o mar que avistei lá de cima. Como era belo esse mar!
Vi que havia dois navios bem iluminados a pouca distância da marola. É que a maré estava muito alta, talvez a esperar a ressaca costumeira de agosto. O vento que beijava minha pele era frio e úmido, como se tivesse azeitado. A pele ficava liguenta. Apanhei as bolsas no porta-malas do carro e adentrei. No balcão, um jovem sonolento me recebeu com um sorriso cheio de sono, ainda. Parecia ter acordado um minuto atrás com a zoada do motor do meu automóvel.
- Boa- noite, senhores, disse eu antes de ouvi-los: o moço e uma linda jovem a pentear seus cabelos lisos, longos e doirados.
- Boa -noite , senhor e seja bem- vindo!
Gentis os dois. Ele apressou-se para me livrar do peso das bolsas. Ela dirigiu-se ao balcão como se procurasse algo que deveria usar naquele instante. Mas, o que desejava mesmo era ver o sol no dia seguinte e as róseas tetas à beira da piscina. Meu amigo Haroldo, velho hóspede da pousada, foi o que mais me recomendou. A noite se foi então!
No dia seguinte, o sol brilhou forte e eu as vi lambuzando-se com um creme amarelado, acondicionado em uns potes redondos que mal cabiam em suas mãos. Parecia que usavam um creme de manga. Um troço nojento...
Demorei-me à piscina por um bom tempo e só depois fui ao mirante alto no alto do monte onde se incrustava a pousada. Binóculos à mão demorei lá muito mesmo.
Valeu-me o presente dado aos olhos pela insistência de minha curiosidade. Não tomei banho, mas as vi. Lindas mulheres, todas suissas, deitadas no gramado verde ao lado da pérgula da piscina, nuas, dessa forma tão lindamente natural como a luz do sol que, luzidia, clareava a beleza que meus olhos enxergavam satisfeitos.
O garçom que as servia me olhou e sorriu. Lia ele o que minha alma desejava ao dissecar aquele quadro fantástico e, cúmplice do meu olhar curioso, ele também as admirava. Eu estava excitadíssimo.
Vim a saber que se chamava Roldão. Garçon antigo na pousada. Eficiente!
- É sempre assim?
- Uma linda festa, senhor!
- Ficam sempre nuas?
- Completamente, senhor!
- E elas... saem?
- Não ouse isso, senhor!!!
- Por quê?
- Essas belas viram feras quando algum homem as canta.
- E o porquê disso?
- São lésbicas, senhor. Costumam hospedar-se conosco duas vezes no ano!
- E esses aviões são assim?
- Exatamente, senhor!
- Então prefiro subir ao mirante e ficar observando o mar. Ao menos ficarei a ver navios mesmo!
- Imagine o senhor que eu, como garçom que sou desta casa, enquanto espero nascerem os desejos loucos delas, fico a contemplar essa paisagem cheia de loiras nuas, sem daqui poder mexer um dedo sequer!
- Você fala de que desejo fica esperando delas?
Ele apenas sorriu.
- È melhor o senhor ir ao mirante, ver seus navios e deixar os meus em seu anonimato.
Na última madrugada que lá passei, descobri que Roldão era o garanhão daquele harém suisso. Todas elas eram servidas por ele, e os seus desejos, tão esperados por ele, nada mais eram do que a fantasia guardada por todas de, em raras noites de luar intenso, fantasiarem-se de heterossexuais.
- Não sei como você consegue brincar com tantas mulheres ao mesmo tempo.
- Elas são inteligentes, senhor!
- Até, Roldão!
Apenas seu sorriso cínico e discretamente elaborado se despediu de mim. A Pousada das Suissas era linda e elas, ainda mais; o erro de tudo, para mim, estava em elas não serem mulheres que gostassem de homens como eu. Dentro delas habitavam navios bem maiores do que os reais que meus olhos deixavam o meu coração faminto ver. Que pena! Fiquei a ver navios, após tantos navios e aviões ter visto! Fazer o quê?
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