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Cronicas-->DRUMMOND E O PIAUí -- 26/01/2005 - 17:49 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DRUMMOND E O PIAUí

Francisco Miguel de Moura
Escritor

Sei de certeza que pelo menos dois poetas famosos lembraram do Piauí em seus poemas. Mário de Andrade foi o primeiro e sentenciou: «Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,/ As sensações renascem de si mesmas sem repouso, / Óh espelhos, óh Pirineus! óh caiçaras! / Si um Deus morrer, irei no Piauí buscar outro!» (Do livro «Remate de Males»).
O segundo foi Carlos Drummond de Andrade, que escreveu: «Lá vai o padre, / atravessa o Piauí, lá vai o padre, / bispos correm atrás, lá vai o padre, / lá vai o padre, a maldição monta cavalos telegráficos, / lá vai o padre lá vai o padre lá vai o padre, / diabo em forma de gente, sagrado.» (Do livro «Lição das Coisas»).
Mas Carlos Drummond de Andrade não se emendou, cometeu outra vez o pecado de citar o Piauí, em seus versos, agora lembrando os mortos de Jenipapo, enquanto remexia na história do Brasil. Só que não consigo encontrar o poema e não o decorei. Essas falhas que acontecem e que os psicólogos querem ter uma explicação.
Registro a ligação psicológica de Drummond com nossa terra para apresentar à posteriori as razões inconscientes que talvez possam ter levado o Governador Alberto Silva, quando governava pela segunda vez o Piauí, a fazer-lhe uma homenagem. Houve equívocos, naturalmente, na sua assessoria. Inventaram que ele deveria vir fazer uma palestra, como se fosse uma desculpa. Não precisava desculpa nenhuma, ora! Era só dizer que era um reconhecimento por ter imortalizado o Piauí, em seus poemas, pronto.
Todos sabem do temperamento áspero e arredio de Drummond, muito especialmente quando se referia a apresentar-se em público. Duas pessoas juntas, para ele, já era um grande público, lhe dava pavor - teria dito, um dia, ao um repórter impertinente.
Com a grande incumbência de trazer Drummond a Teresina, para fazer uma conferência, durante as festividades de reinauguração do Teatro «4 de Setembro», partiu o Prof. Arimathéa Tito Filho para o Rio de Janeiro. Lá, com muita dificuldade, esperando dias, conseguiu entrevista com o «monstro sagrado» de nossas letras. Num momento de santa ingenuidade, entrevistou-lhe:
- Dr. Alberto Silva, nosso Governador, vai reinaugurar o Teatro «4 de Setembro»...
- Sim senhor, só não entendo onde quer chegar.
- Ele convida nosso grande poeta a ir fazer uma conferência no Piauí.
Drummond meio contrafeito, responde com aquela ironia do seu feitio:
- Eu nunca fiz uma conferência em toda a minha vida. Não iria começar pelo Piauí.
Tito Filho contrataca no mesmo tom, procurando uma saída honrosa, ou, quem sabe, outro meio de convencê-lo:
- Poeta, seria uma forma de promovê-lo. É que lá ninguém o conhece.
Não esperasse o Prof. Tito Filho, Presidente da Academia Piauiense de Letras e Assessor Cultural do Governador Alberto Silva, que a troca de ironias teria terminado. O poeta falaria por último:
- Pois diga a seu Governador que vou ficar desconhecido no Piauí.
Na verdade não foi a primeira nem a última vez que o Drummond ironizou com alguém ou alguma coisa. Não era irreverência, era seu caráter, sua maneira de ser. Claro que ninguém do Piauí ficou zangado ou com raiva dele. Nem mesmo o Prof. Tito Filho, que contava o episódio, com a maior graça, aos seus pares, na Academia.
Eu ainda não tinha conhecimento desse fato, quando, um dia de manhã, andando pelo Rio de Janeiro, passo em frente ao apartamento do autor de «Brejo das Almas» e «Rosa do Povo». Dá-me imediatamente uma vontade danada de falar com ele, meu ídolo, por que negar?
Subi. Falei com a secretária.
- O senhor marcou com ele? Telefonou?
- Não. Precisa?
Precisava marcar antes. Não recebia pela manhã. Estava preparando um novo livro. Fiquei de telefonar mas não o fiz. Era melhor conservá-lo à distància. Na verdade, tive medo. Sou muito tímido. Que iria dizer a Drummond? Teria muito a dizer em poesia, na prosa prosaica, falada, depois de bem pensar, não tinha nada a dizer. Se muito, comprar um livro e levar para pegar o seu autógrafo. Ou então, confirmar: «Recebi sua carta, concordo com suas opiniões assim e assado...»
Talvez eu não fosse o único correspondente de Drummond no Piauí, mas seria um dos mais frequentes. Em toda a minha vida devo ter recebido 4 ou 5 cartas suas e enviado outras tantas. Eram polidas e mais ou menos distantes. Não se atrevia a usar ironias na correspondência, como bom espistológrafo, pois não é de bom tom, de boa educação. Mas essa nossa «longa» convivência escrita foi suficiente para que ele me convencesse da sua humildade, imaginem, e da sua timidez. Vejamos, são os mesmos sentimentos que possuo, porém os exteriorizo de forma bastante diferente. Deduzo, daí, que os sentimentos diferenciam os homens. São eles que os tornam originais. O pensamento, ao contrário, os universaliza, os tornam semelhantes. É matéria para outra discussão e outra crónica.
Mas quero concluir que minha decisão foi bastante madura, ajuizada. Não me arrependi.


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