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Poesias-->CHUSMA DE PALAVRAS -- 22/10/2007 - 19:50 (Cristina Ancona Lopez) |
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Naquele verão, para que nunca mais eu não soubesse o que dizer,
você resolveu me ensinar palavras.
Com paciência, buscou a cada dia uma palavra nova. Queria que as palavras
dadas me sensibilizassem a ponto de nunca mais esquecê-las. Você
sempre soube que eu só aprenderia as coisas que fizessem muito sentido
para mim e você precisava ter sucesso na tarefa a que se propôs. Ter
sucesso é até hoje imprescindível para a sua felicidade.
Foi assim que começamos a nos encontrar todas as tardes. Você trazia
uma nova palavra e conversávamos sobre todas as possibilidades de
usá-la e de nos expressar através dela. Rimávamos a nova
palavra, escrevíamos, repetíamos, mudávamos as letras de lugar,
testávamos as possibilidades de pronúncias e sons.
Aprendi com você que a tonalidade das palavras é que lhes dá a
devida importância. Através de seu tom, diferentes propósitos
podem ser atingidos. Começamos a agrupar as novas palavras conforme o
som. Desenvolvemos a teoria de que deveriam ser classificadas segundo a escala
musical.
As palavras “DÓ” deveriam ser usadas em momentos de
tensão enquanto que as palavras “FÁ”, transmitiam
carinhos e atenções. As “SÍ” só deveriam ser
pronunciadas ao descrever sentimentos profundos e as “RÉ” em
ocasiões de impaciência. Quanto às palavras
“MÍ”, seu uso era restrito e deveríamos ter cuidado ao
pronunciá-las. Poderiam magoar quem as escutasse.
Tornamo-nos mestres na classificação de palavras e no sentido dos
sons. Tornamo-nos mestres na precisão com que conseguíamos
transmitir nossos pensamentos mais profundos.
Quanto a mim, que outrora tinha tanta dificuldade de falar, tornei-me
exímia na capacidade de expressão.
Com o tempo, eu entendi.
Dar-me palavras foi a maneira que você encontrou de me presentear com algo
que se tornaria parte de mim. Ao tornarem-se as palavras inseparáveis do
meu todo, tornariam você, por tê-las dado a mim, inseparável
também.
É por isso que por mais que nossos caminhos se desviem e o tempo teime em
nos pregar peças, acabamos sempre nos reencontrando. Só quando
estamos juntos nossos sentimentos e expressões conseguem nos dar a alegria
de fazer sentido.
Tita Ancona Lopez
Vinhedo, 11/10/2004.
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