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Poesias-->ABSTRAÇÃO -- 23/10/2007 - 18:41 (Cristina Ancona Lopez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Escrevo sem pensar.

Como uma força que puxa meu centro de baixo para cima.

Sou levantada pela cabeça e lá embaixo só as mãos a dedilhar as teclas.

Deve ser alguma onda de energia.

Provavelmente cruzo alguma dimensão e sinto sensações diferentes enquanto os dedos correm e correm, sem que eu sinta o dedilhar.

Estou só neste espaço, apesar de saber que a minha volta existe movimento.

Aqui, só o barulho do silencio que em tudo se imiscui e toma conta da minha capacidade de escutar sons e de ter pensamentos lineares.

Estou voando pelo buraco de todas as almas e pelos neurônios de todos os cérebros, procurando uma morada.

Vou descansar em algum riacho suave e olhar a natureza

O corpo vai ficando leve. Difícil continuar a dedilhar. Torno-me uma massa mole, sem controle. Só os dedos pertencem a alguma coisa nítida.

O corpo vai se esticando e fazendo curvas e não tem mais forma nem começo e nem fim,. Só as mãos é que se encontram no mesmo lugar, sempre. Isso enquanto não largarem o teclado...

Não podem largar o teclado! Porque se o fizerem o corpo vai se desfazer, se desprender e se desgarrar no espaço misturando-se com o ar e com este barulho de silencio. Preciso não parar de escrever para manter minha vida na terra mas é difícil porque o fluxo dos pensamentos as vezes torna-se mudo e os dedos querem parar.

Preciso continuar a dedilhar e trazer o corpo de volta.

Trazer o corpo de volta.

Antes que ele se vá.



Tita Ancona Lopez

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