Quando estive lá pela última vez, os flamboyants estavam floridos.
Lembro-me de quando foram plantados, um a um. Mas não fomos nós que fizemos os buracos. Havia quem os fizesse.
Fazia sempre muito calor, e era como se uma névoa quente cobrisse tudo. Uma névoa formada de sol. O ar que tremia enquanto o calor passava.
Eu gostava de andar pela estrada, sozinha. Imaginando a vida lá longe, escutando o silencio e criando cenas na minha cabeça.
Minha cabeça cria cenas.
De todos os tipos.
Chego a acreditar tanto nas cenas que cria que algumas vezes me emociono, choro ou me alegro com as cenas criadas.
Minha cabeça cria imagens tanto em preto e branco como em cores.
Filmes.
Algumas vezes sem som.
Os atores são vários, a depender da cena mas há uma coisa em comum: estou sempre lá.
Assisto sempre às cenas em que atuo.
Persigo-me, perfeccionista, detalhista, implicante, implacável; repassando ato após ato.
Sou meu próprio algoz, meu próprio ditador, meu próprio olhar ferino.
Nada mais perfeito do que sê-lo em uma estrada solitária, num local quente e distante.
Foram muitas as cenas.
A ultima a que assisti, naquela estrada, é inesquecível.
Foi a cena em que finalmente compreendi que a minha presença ali, tendo ao fundo o cenário dos flamboyants floridos, não fazia nenhum sentido.
Tita
31 de agosto de 2006.
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