Noticias do Front
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>Minha Bela, veja como essas flutuações do mercado do do´lar influenciam
diretamente nossas vidas, mais do que imaginamos. Havana para mim, nesse
momento, parece estar mais distante. Devo ir para Argentina, Córdoba, mais
precisamente.
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>Sim, agora eu entendo porque chorei copiosamente quando houve a crise do
pais vizinho; porque a musica de Evita Perón sempre me comoveu. La´ faz
muito frio e devo providenciar novos casacos; meu amigo de la´ diz que o
vinho e´ mais barato que a água. Talvez as argentinas queiram me ensinar
dançar o Tango.
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>De qualquer maneira, nesse momento, a partida e´ inevitável; se por um lado
entristece-me o exílio; por outro, a aventura também excita-me, alem de
resolver-me de vez com o idioma espanhol. Também tem a vantagem que irei por
terra.
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>Como vês, a economia anda ditando nossos destinos. A guerra moderna e´a
econômica. Sem um disparo nem repressão direta, milhões de indivíduos vem-se
forçados a emigrar, porque a grande honra de um homem e´ o seu trabalho.
Quando esse falta, há´ que se buscar em outros portos. Pela minha origem não
sentir-me-ei estrangeiro. Só´preocupa-me mesmo o frio. Em todo caso, o pais
ao qual irei será´decidido nos pro´ximos sessenta dias.
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>Estou mais sereno, mais confiante, mesmo com as adversidades por perto. Sei
que a vida de quem vive de escrever, ate´que se estabeleça, não e fácil,
muitas vezes nem depois de estabelecido. De qualquer forma, como um amigo de
la´ofereceu-me uma janela, que e´tudo que preciso para olhar o sol ou a
neve, não renegarei a mão estendida.
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>Sempre gostei de lá´, mesmo sem ter ido.
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>Desculpa se te mando com freqüência noticias daqui do front, e´que a
solidão me cerca, e não quero falar sozinho. Tudo isso mexe na minha emoção
de maneira forte. Meu peito e´ uma tempestade. Sinto algo muito forte no
mistério do meu destino que estou longe de entender. Comecei a ler as
memórias de Gabriel Garcia Marques. A leitura sempre me consola.
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>Meu pro´ximo livro, escrito `as pressas, chamar-se-a´"Cinza", porque são
assim os tempos que vivemos. Escrevo também para entender-me. E´ dificil
quando vivemos so´com o céu por testemunha. Alguns amigos (a) tem sidos bons
comigo nesse momento. Voce tem sido uma delas. Tudo agora depende do do´lar
e do destino.Abraços, Marcelino
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>Ps - A piada da Barbie e´muito interessante.
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>19/09/2003
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