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Erotico-->UMA NOITE -- 23/12/2001 - 23:44 (Fernando Tanajura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma noite

Nem mal tinha atendido a dois ou três clientes, dei de cara com o detetive/cafetão. Veio com o sorriso paternal de sempre e me ofereceu um cafezinho. Com um cinismo ímpar, me perguntou se eu tinha pensado na sua proposta e qual era a minha resposta, desta vez tinha que ser definitiva. Eu lhe disse que pensei bastante, refleti o que pude e a minha resposta era um não bem grande. Puxando um palito de um paliteiro de plástico vermelho com uma tampa branca que estava no balcão, ele falou baixinho entre os dentes que ia me deixar fazer calçada por hoje, mas, se eu gostasse da minha vida, que sumisse e não voltasse nunca mais por ali. Não me alterei. Pisquei o olho direito para ele e saí do botequim bonita.

Na calçada fui logo encontrando uns clientes fiéis, que estavam ali todas as noites. Saí com um, com outro e depois com outro. Lá pras tantas, eu vi uma Mercedes-Benz esporte rondando o quarteirão. Não conseguia olhar quem estava dentro porque o vidro fumê não deixava ver o interior do carro. Finalmente, parou e vi que baixavam o vidro da janela. Consegui distinguir Jacaré, o noivo, e Katatau, o organizador da festa de despedida de solteiro. Perguntaram se eu não queria sair com eles para dar uma voltinha. Lógico que eu disse que sim e entrei imediatamente no carro, me apertando entre eles. Na calçada foi um fiu-fiu só ao me verem entrar numa Mercedes-Benz esporte e sair em disparada. Foi o meu momento de glória. Maior glória estava por vir. Katatau estava no volante e dirigiu-nos direto para o Hilton. Fomos os três para uma suíte executiva, onde champanhe e queijos já nos aguardavam em bandejas de prata. Jacaré, o que tinha de tímido na noite de segunda-feira, estava hoje falador, contando histórias e detalhes do seu relacionamento com Katatau. Dizia serem amantes há muitos anos e só por obrigação e interesses de família é que estava se casando no próximo sábado. Katatau, também na mesma circunstância, estava quase noivo e planejava casamento para o próximo ano. Eles ficaram tão felizes com a festa que eu, Manon e Cassandra animamos, e saíram hoje na esperança de me encontrar e fazerem uma outra despedida de solteiro mais íntima, só nós três. Nem acertei preço ou pedi alguma recompensa. Estava ali mais pela satisfação de fazer dois rapazes felizes nas suas inconseqüências amorosas. Tomamos champanhe, conversamos e nos amamos como num jardim das delícias. Eles usaram palavras belas que eu nunca tinha escutado.

As janelas abertas descortinavam uma vista deslumbrante do décimo oitavo andar. Nunca tinha olhado São Paulo daquela altura. Enquanto eu me extasiava com as luzes da cidade, eles me diziam que melhor era o meu amor do que qualquer vinho importado. Estavam tontos com o perfume do meu corpo e gostavam do leite e do mel que conseguiam sugar por debaixo da minha língua. Eram gentis e agradáveis me chamando de pomba da madrugada, orvalho da noite de inverno, sumo de aloés. Eles me chamaram de tantas outras coisas que já nem mais entendia. Sedentos, beberam abundantemente do meu amor, pedindo a toda hora que lhes conduzissem às minhas entranhas. Repetiam nomes de especiarias - cravo, canela, pimenta-do-reino - me chamavam de figo do jardim dos anjos e cereja do pomar das virgens. Disseram que eu era mais doce do que um favo de mel. Desfaleci de amor uma, duas ou três vezes, envolvida nos braços jovens. Enquanto uma mão esquerda me acariciava a nuca, uma mão direita me puxava carinhosamente por volta da cintura. Eu segurava os dois estandartes do amor, enquanto outras duas mãos acariciavam meus peitos como se tocam dois lírios do campo. Eles sussurravam no meu ouvido, dizendo que era por isso que os homens me amavam, enquanto eu acariciava seus cabelos crespos, pretos como um corvo. Extremeci por cem vezes as minhas entranhas de gozo e de amor. Eles habitaram meu corpo mil vezes, dizendo que eu era tão formosa quanto a lua, tão brilhante quanto o sol e o meu cheiro era um canteiro de bálsamo. Repetiam que, o que era deles não guardavam, davam tudo para mim. Pediam que tomasse em minhas mãos os seus ramalhetes e os fizessem se derreterem de prazer. Quando tudo terminou, eles me disseram que queriam me cobrir de ouro e esmeralda, de safira, turquesa e rubi, queriam me perfumar com o cheiro do cedro e da alfazema. Antes de sairmos da suíte do hotel, eles me deram mil dólares, quinhentos cada um.


© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
(in Confissões anônimas [fragmento])
http://tanajura.cjb.net

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