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Artigos-->Os palavrões não nasceram por acaso -- 05/11/2002 - 20:16 (Darlana Ribeiro Godoi) |
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Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente
validos e criativos para prover nosso vocabulario de expressões
que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuinos
sentimentos. É o povo fazendo sua lingua. Como o Latim Vulgar,
será esse Português vulgar que vingará plenamente um dia? Sem que
isso signifique a "vulgarização" do idioma, mas apenas sua maior
aproximação com a gente simples das ruas e dos escritórios, seus
sentimentos, suas emoções, seu jeito, sua Índole?
"Pra caralho", por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de
muita quantidade do que "Pra caralho"? "Pra caralho" tende ao
infinito,
É quase uma expressão matemática. À
Via-Láctea tem estrelas pra caralho, o Sol é quente pra caralho, o
universo é antigo pra caralho, eu gosto de cerveja pra caralho,
entende?
No gênero do "Pra caralho", mas, no caso, expressando a mais
absoluta
negação, está o famoso "Nem fodendo!". O "Não, não e não!" e
tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade "Não,
absolutamente não!" o substituem. O "Nem fodendo" É irretorquível,
e liquida o assunto. Te libera, com a consciência tranquila, para
outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho
pentelho
de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral?
Não
perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo "Marquinhos,
presta atenção, filho querido, NEM FODENDO!". O impertinente se
manca na hora e vai pro Shopping se encontrar com a turma numa boa e
você fecha os olhos e volta a curtir o CD do Lupicênio.
Por sua vez, o "porra nenhuma!" atendeu tão plenamente as
situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma
negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes,
que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele
em nosso cotidiano profissional. Como comentar a bravata daquele
chefe
idiota senão com um "É porra nenhuma!", ou "ele redigiu aquele
relatório sozinho porra nenhuma!".
"porra nenhuma", como vocês podem ver, nos proveêm sensações de
incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a
tardia e justa denúncia pública de um canalha.
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "Puta-que-pariu!", ou seu correlato
"Puta-que-o-pariu!", falados assim, cadenciadamente, sílaba por =
sílaba...Diante de uma notícia irritante qualquer um
"puta-que-o-pariu!" dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus
neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a
atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de
maiores =
dores de cabeça.
E o que dizer de nosso famoso "vai tomar no cu!"? Você já imaginou
o bem que alguêm faz a si próprio e aos seus quando, passado o
limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e
solta:
"Chega! Vai tomar no seu cu!". Pronto, você retomou as rédeas de sua
vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e saia à rua, vento
batendo
na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de
vitória e renovado amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de
maior Poder de definição do Português Vulgar: "Fodeu!". E sua
derivação mais avassaladora ainda: "Fodeu de vez!".
Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma
situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora
complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere
seu autor em todo um providencial contexto interior de alerta e
auto-defesa.
Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos
do carro e sem
carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de
você mandando você parar:
O que você fala? "Fodeu de vez!". Sem contar que o nível de stress
de uma pessoa é inversamente proporcional à quantidade de "foda-se!"
que ela fala. Existe algo mais libertário do que o conceito do
"foda-se!"? O "foda-se!" aumenta minha auto-estima, me torna uma
pessoa
melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. "Não quer sair comigo?
Então foda-se! ". " Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo?
Então foda-se!". O direito ao "foda-se!" deveria estar assegurado na
Constituição Federal: Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se.
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