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Artigos-->DAFT PUNK S "DISCOVERY": VERY DISCO -- 27/03/2001 - 01:50 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Promessa de felicidade em novo CD. Fala, recordação: ampliação do espaço de jogo

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Por Michael Pilz

Trad.: zé pedro antunes

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Esta história soa demasiado aborrecida, soa por demais idiota para não ser contada: no ano de 1999, o vírus 999 tomou de assalto o computador de dois músicos populares, Thomas e Guy-Manuel. Resultado: voou pelos ares o sampler a ele acoplado. Para o tipo de música que eles fazem, o sampler é o instrumento essencial, capaz de armazenar sons de forma digital.



Mas também os músicos se viram afetados, e com muito mais intensidade ainda. Desde aquele dia, Guy Manuel e Thomas vagueiam pelo mundo feito robôs. O duo DAFT PUNK, de Paris, não é mais o mesmo.



Agora, tanto Thomas Bangalter como Guy-Manuel de Homem-Christo são tidos como cabeças extraordinariamente talentosas. O fato é que ambos têm 27 anos de idade. Terminado o ginásio, eles se dedicaram à Darlin , uma banda que formaram e cujo primeiro disco deu aos críticos britânicos a oportunidade da exclamação: "daft punks". Para eles, tratava-se de dois punks idiotas.



Pois isso caiu como uma luva nas pretensões dos dois músicos, numa época em que o house tornava a lançar as pessoas sobre as pistas de dança. Bangalter e Homem de Christo, que já haviam aderido ao computador, fizeram profundas reflexões sobre a música pop. Em 1996, apresentaram "Homework", um álbum que vendeu dois milhões de cópias, tornando a encher de júbilo, em espaços fechados, respresentantes de todos os segmentos do mercado.



Eis a benção do nascimento protelado. Sobre o pop, quem só chegou ao mundo nos anos 70 e ainda usava fraldas para se excitar com o punk e a disco-music, só pode ter idéias muito diferentes das dos veteranos do gênero. Emergentes costumam levar os mitos a sério. O fato é que a música pop sempre esteve por aí. Com o passar dos anos, de tanto ouvi-la, os emergentes foram ficando esperto. À contemplação mítica, juntaram-se o conhecimento e as regras de produção e dos negócios do ramo. Tudo isso está embutido na música do Daft Punk, e ainda mais.

A saber, recordação: Na mera sonoridade, eles abrigam o que aconteceu nos últimos 25 anos. Uma vida impossível de ser imaginada sem música [N. do T.: ver o artigo “A trilha sonora de nossa época”, por mim traduzida e publicada neste mesmo site; ver também “Quando o pop ainda era do mal”]. Na música pop, como no aroma das velas de natal ou no proustiano sabor das “madeleines”, toda uma infância se acha suspensa. Quem nasceu assim tão tarde, jamais haveria de brincar com os sons impunemente.



Quanto mais levemente idiota a história do vírus do milênio, mais belo o surgimento do novo álbum “Discovery”. Pois o frisson, provocado nos profissionais do ramo pelo acontecimento, só muito perifericamente tem a ver com as músicas do álbum. E os franceses do Daft Punk, tão inteligentes, só fazem alimentar a histeria. Mascarados de robôs – antes disso, como cachorros ou bobos -, ocultam suas fisionomias e desencadeiam uma mascarada, que já resulta ingênua desde “Residents” e “Kraftwerk”.



De quebra, as sempre mesmas entrevistas, nas quais Bangalter explica: "A música fala por si mesma – ou não tem nada para dizer.” E fala a sério, e o Daft Punk preserva o romantismo a poder de nonsense, que eles, de modo quase satírico, elevam à maxima potência, rompendo, assim, as regras conhecidas.



O jornal "Welt am Sonntag" acaba de abrir espaço a dois dos veteranos do pop, para que se manifestassem sobre o Daft Punk e sobre o álbum “Discovery”. O suíço Dieter Meier (Yello) acertou, ao escrever que a “música leva a ingenuidade ao absurdo e, com isso, a supera". Dieter Bohlen (Modern Talking) estava ofendido: sons ruins, a voz estaria demasiado alterada, ausência clara de “hits potenciais”. E murmurou: "Comigo, no estúdio, ainda estão os músicos, e eles tocam os seus instrumentos."

A quem nunca entendeu essa junção de punk e disco-music, nem se dispôs a tentá-lo pelo menos desde o álbum “Homework”, o Daft Punk haverá de permanecer estranho. Ainda que "Discovery" soe mais conciliador do que "Homework". O mais necessário já é o bastante: o sampler, alguns pequenos e velhos filtros para instilar estranheza em sons familiares. A superfície da música parece tosca e simples; o que a ela subjaz, tem a ver conosco mesmo.



Não é o caso de buscar justificativas no fato de os fragmentos serem provenientes de fontes tão extraordinárias como Van Halen ou AC/DC. O "Rock It", de Herbie Hancock, está ali, e o "Switched On Bach", de Walter Carlos. Aquele jogo vaidoso e elitista “Você reconhece a melodia?” [N. do T.: faz supor uma espécie de “Qual é a Música?” em versão européia] já era. As referências são por demais densas na sonoridade, na batida e, não importa onde, em meio aos ruídos enervantes. No lugar dele, como foi dito: recordação. Assim é que um descaracterizado "Celebrate and dance for free!" oculta muito, mas muito mais do que apenas Madonna e as férias de verão de 1983.



No ano passado, o CD "Music" de Madonna foi mesmo o que mais fortemente soava a Daft Punk. O produtor Mirwais, ele também francês, fazia passar a voz da cantora por aparelhos de efeito. Assim, distanciada, Madonna cantava sobre a burguesia. Mesmo Cher, em “Believe”, conferia um deslocamento ao timbre de sua voz. Pois o french house, uma nouvelle vague atual, possui o chic do algo estranho.



Que, nos anos noventa, a exportação de discos tenha crescido em torno de 30 vezes o que a França antes exportava, é algo que se deve, entre outros, ao Daft Punk. Tipos raros se tornaram estrelas mundiais. Air et Cassius, Alex Gopher, Motorbass, Benjamin Diamond, que, com o nome de Stardust, entoava para Thomas Bangalter o refrão, notavelmente infantil: “Music sounds better with you”. Toda essa movimentação do french house sempre foi algo muito peculiar, parecendo não ter senão um único ponto de união, Paris, o seu local de origem, com o grande delírio da dance music.



Para a dança, “Discovery” é apropriado apenas condicionalmente. As baladas, por exemplo, entram em cena. Mesmo quando as faixas a princípio são dançáveis, o clima de repente desaparece, tornando-se fragmentária a sonoridade. Mesmo o grito de prazer “We are dancing all night long!”, apenas timidamente se impõe a partir do fundo.

Não é um milagre que o single “One More Time” tenha encontrado, já ao final do ano passado, o caminho das discotecas e da parada de sucessos na Europa. Pois, de imediato, o ritmo contagia, e deixa os dançarinos desamparadamente sozinhos. Pouco a pouco, dessa hesitação inicial se produz um momento mágico de sensualidade: a expectativa pelo beat.



As regras existem, é preciso infringi-las. Como se vê, a rebeldia continua sexy. No pop, o artista detém também o controle sobre si mesmo e sobre a música, quando quer e tem poder para isso.



E enquanto, na briga em torno do Napster, da Internet e do copyright, a música se transforma em mera mercadoria, o Daft Punk inaugura o seu clube virtual na net. O álbum vem acompanhado de um cartãozinho com um código de acesso. Com ele, o comprador adquire sua entrada no maravilhoso mundo novo do Daft Punk, que se compõe de imagens, clips, sobretudo de sons e remixes. Esta foi, desde o início, a premissa do house: A obra pode estar superada, mas acabada ela nunca estará. O título do disco tem tudo a ver com isso: “Discovery”, no sentido da palavra, ou “Very Disco”, este antigo jogo de palavras do Pet Shop Boys.



Naturalmente, também a história de um clube na internet, por mais legal e verdadeira que seja, não passa de ração para a mídia. Nobre ingenuidade, silenciosa grandeza. Pois quem iria querer escrever que, com música e a posteriori, dois franceses pueris conseguem dominar os áridos discursos dos últimos vinte anos: exorcizar os opostos “underground” e “mainstream”, bem como “rockmusik” e “cultura clubber”. Esta história seria idiota, se fosse sobre robôs, sobre vírus que ajudam o dono da discoteca a transformar felicidade em melodias, batidas e sons.





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Sobre o DAFT PUNK:



No mundo todo, cerca de dois milhões de lares dispõem de um exemplar de “Homework", o CD que lançou o duo Daft Punk em 1996. Números pouco habituais para a música tecno ou house, que vive menos de álbuns do que de hits e singles. Daft Punk são os parisienses Guy-Manuel de Homem-Christo e Thomas Bangalter. Em 1995, eles encerraram a carreira da banda de rock Darlin’, para, com a parceria dos computadores, compor dance-music. O sucesso se deve a hits como “Da funk” ou “Around the world”. Em torno ao Daft Punk, cresceu um dos mais rentáveis segmentos de mercado da música pop dos anos 90: Com o “french house”, a França entra também para o rol das nações pop.



Agora acaba de ser lançado "Discovery", o segundo trabalho do Daft Punk (Daft Life/Virgin).



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