De onde recebo as variadas cores com que o desejo pintar
Meu quadro tem matos densos sombras luzes e mistérios
Onde moram duendes
Tem universos e continentes
Europas, áfricas e américas
Idiomas e etnopoesia
Tem pássaros voando e cantando
Tem cachoeiras densas de águas brancas e brilhantes se insinuando
Ao deslizarem em minha pele com toques beijos e íntimas carícias
Tem trilhas e matas com leões dourados sonhados
Meu quadro tem ipês roxos e amarelos
Tem visão de corpos macios de esbeltas mulheres
Tem águas minerais nascentes e piscinas
Tem rios quentes condicionando a pele
Tem biodiversidade luzes e sombras
Lagos e horizontes
Sedutores panoramas que me levam a santa Eulália
Tem brisas dinâmicas abanando os leques dos buritis
Tem linhas no horizonte e colinas
Tem mares e ilhas românticas e castelos e monumentos
Tem montes e serras
Tem cerrados e planaltos
Tem águas marinhas e atlânticas tonificando minha paixão
Tem serras gerais e montes alvões
Tem senhora da guia e senhora da graça
Tem rios negros e rios verdes
Rios lagos e rios correntes
Amazonas, tejos gebas minhos douros e tâmegas
Com ondas e cursos cachoeiras e pororocas com redemoinhos e macaréus
Meu poema tem ventos e redemoinhos
Tem calores e neves brancas tapetando a montanha
Caminhadas e passos na terra e subidas a Feldberg e De Sanctis Gipfel
Tem corcovados e pães de açúcar
vôos pelos céus
Tem ribeirões, igarapés, ribeiros ribeiras e penas
Tem nascentes rios e peixes barbos trutas escalos e vogas
Tem vinhas e vergéis bucólicos e paisagens líricas e serranas
Tem maranus e tâmegas cervas e montes alvões
Alvadias saltos de ermelo e serras
Tem matas, carvalhais, pinhais e escaravelhos
Tem ouriços e castanhas
Noivas do vinho de São Martinho
Tem visualidades e lembranças
Emoções amores e paixões
Meu quadro tem minha alma
E com ela todo o arquivo de imagens
E todos os cliques da filmagem
Tem a ternura com que vivo
E com que vejo
Tem o enternecimento e a irmanação
Tem o sentido da terra
Meu quadro recolhe tintas de todos os tons
É solidário e caminha na história da terra registrando pincelando e cantando
Observando as novidades do movimento da natureza forte e bela que surge e se esvai que hiberna e retorna remoçada e limpa;
Meu quadro são meus olhos juntos com os teus
É toda a luz que tu derramas sobre eles e a capacidade que me dás de ver o mundo com tanta ternura e variedade.
Jan Muá
Brasília, 2002
Nota - Este poema foi publicado em 2002, com tela colorida e música, no site de Neide Noronha, artista plástica, do Estado do Rio de Janeiro. Está sendo publicado hoje pela primeira vez em Usinadeletras.