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Contos-->OUTRAS VIDAS -- 03/03/2007 - 15:18 (paulo izael) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OUTRAS VIDAS

Enfadado com as tumorações que cercam a ganância humana, onde o despudor ceifa sonhos e engabela ideais, a cada minuto eu vegetava embutido neste labirinto atordoante e hostil povoado por transeuntes em decomposição. A todo instante pressentia a aura negra da maldade estampada em centenas de olhos assustados, todos acometidos por errôneas investidas onde a ansiedade da pressa incorria no atrofiamento da liberdade psicológica. Chegava a ser curioso como essas criaturinhas ateístas temiam o castigo imposto pelo criador. Eu não mais tecia visões ilusórias carentes de faíscas esperançosas. Via um horizonte lúgubre e escuro. Terríveis acontecimentos interceptaram minha reeducação partidária da fé. Alheio a tudo, sempre incorria ao seio do desprazer.
A falcatrua generalizada fez com que eu fosse engolido pelo ódio crescente que os traumas proporcionam. Eu me sentia um número pegajoso que, vez por outra era aflorado por diminuta inteligência letárgica em compasso deprimente. Com o tempo, vi me engajado em resgatar minha identidade. Feito lâmina, meu coração se recusava a aceitar a amarga realidade. Então, meus raros momentos que ainda guardavam algum resquício de lucidez, transformam se em incontidos soluços.
Impedido de sentir emoção, incompreendi a exatidão do sentimento e busquei a incógnita de meu surgimento, sempre tentando achar me entre lacunas que embaralhavam meus tortuosos pensamentos. Procurava manter me avesso às surpresas do destino, alheio a traumas e medos. Lembrei me que eu sempre fora o acontecido e jamais acontecia. Vendo a raça humana em estonteante frenesi, passei a enxergar o caos sem esboçar alarde. Estava de alguma maneira compactuando com a animosidade praticada.
Sentia me em infinda alternância, ora destemido e covarde, em certos momentos, arredio e afável, lúcido e insano. Em minha memória uma tênue névoa que esboçava pseuda imaginação. Um sentimento vazio e profundo me fazia incursionar por amargas emoções. Então, decidi desprender-me de todas as preocupações. Acho que até levitei. Meu viver era indiferente a tudo e a todos. Enojei me das falsas adulações e do sorriso forçado. Tornei me hermético e impassível. Quase um estranho a mim mesmo. Absorto em meu mundo particular, desprovido de sonhos e repleto de planos imperfeitos, descartei todas as crenças com seus dogmas eclesiásticos e suas retrogradas regras. Olhei me de soslaio, o espelho assustava me. Pendi pensativo e perguntei me, desfeito de ilusões: conheço o caminho pelo qual direcionei minha vida?.
Entorpecido pelos desencontros da mente, nem ao menos vivia, sobrevivia à minha sombra, oculto sob os escombros da obra que não construí nem rascunhei. Se não subi ao pódio como vencedor, era justamente por estar competindo comigo mesmo no exato momento. Acuado pela sofreguidão da anunciada desistência, me despedi, queria outra existência que não fosse povoada por seres tão mesquinhos e vazios. Não mantive a outrora indicação intelectual que cismara em desabrochar. Tecnicamente, apropriei me indevidamente da vida. Desconstrui a alcunha de bom moço. Fiz me só, desinteressante e glacial. Aposto que não serei póstumo, apenas serei lembrado numa lápide com a inscrição “aqui jaz um medíocre ser”.
Minha alucinada mente em processo degenerativo, andava cansada de perguntas ininteligíveis e respostas nulificadas. Compreender o incompreensível, é faceta que requer um minucioso conhecimento dos anseios que perseguem a mente; é como revelar em papel, os sonhos abstratos. Virei me, o brilho do espelho ofuscou me, como que procedendo ao esmaecer da desbotada imagem. Um mergulho ao interior da mente, possibilitou me enxergar minha insignificância fadada a viver num mundo incorrigível, povoado por seres dormentes.
Fui dormir no suspiro do vento, coração entristecido, impulsionado pela ausência de afeto que teimava em visitar me em momentos de extrema apatia, norteado pela real e iminente vulnerabilidade sociável. A despeito de minha inaptidão, meus olhos verteram lágrimas que, de tão sofríveis, escorreram pela atordoada alma. Lembro que padeci ao relento, buscando argumentos para convencer me de que habitava no ostracismo do decaimento. Alardeei incompreensão, e vi me de mãos dadas com minha doce dor, fazendo alusão ao descaminho do conformismo.

A inquietude de minha ansiedade não sabia precisar quantas indagações repousavam estagnadas em meu mudaz coração! Deparei me com fagulhas equipadas com arestas sinuosas, remanescentes de situações adversas e inomináveis resquícios onde as relações perturbadoras atormentavam e castravam a passividade da mente, contrastando com surtos de extrema impaciência com repetitivos embates inacabados cultuando a temeridade que chegava em forma abstrata mas permanente, corroendo alguma perseverança, aniquilando a obscura persistência.
Frente ao raciocínio estático, me desatei das maledicências, desprendi me das agruras e entreguei me ao descaso, esmorecido numa acentuada inércia que me invadiu por inteiro, resultando em lamúrias angustiantes que não suavizaram meu próprio encontro, mas sim, exacerbaram o imoderado desejo de retratar nuances aflitivas que dilaceravam o coração numa insana e tresloucada busca que tinha como meta a coordenação e entendimento de minha existência.

Cada vez mais o desamor acenava e era meu par constante. Aliei me de braços abertos a minha infinda solidão. A úmida parede do desprezível cubículo, fazia com que meu silencioso ato invocasse a reconfortante depressão. Meu ódio acumulado pelo ser humano, funcionava como um bálsamo que me arremetia ao espaço num prazeroso vôo, beijando estrelas, regurgitando minhas toxinas em distraídos planetas; espancando fantasmas e vendo Deus atribulado com suas responsabilidades celestiais. Eu vagueava pelo cosmo em percurso inexato e fui tragado por um enxame de entidades disformes. Um ser materializou se e soprou sobre mim uma fragrância de cânhamo . Assenti aquilo com simpatia, vi me revigorado. Todo meu corpo estava em compasso lento, mas suficiente para degradar me, gerando uma providencial letargia.

Fechei os olhos e tateei minha cama, eu havia voltado do limbo. Tentei levantar me, senti um choque no coração, era a expressão da dor que enfim, estava se manifestando. Eu havia absorvido auras desconcertantes. Abri os olhos, vi neuróticas entidades que me impeliam ao flagelo.
Certifiquei me da presente insanidade e senti me acrescido por uma reconfortante comoção acentuada por um nó na garganta e um apaziguador tremor nas mãos. Fiquei feliz em saber que não transmitia carinho algum para com meus semelhantes.
Senti um soco no peito, talvez o coração estivesse cansado de tantas ingratidões e dava sinais de cansaço, a qualquer momento iria fenecer, então já seria tarde para o meu amanhecer. extasiado, há muito eu estava desfalecido ainda em vida, testemunhando a evaporação da aurora boreal e o descolorir do arco íris. Senti que minhas forças minavam em consecutivas neuroses com o poder de estremecer o pensamento num contínuo redemoinho hipnótico, resultando num decadente desencontro em conluio com a complexidade das aproximações, revelando o fim traumático da mente em decorrência da amnésia intuitiva do completo abandono da lucidez, incorrendo no desterro terminal.
Refleti e me perguntei incógnito: “até onde poderia ir o limite do sonho”? frente à situação, não consegui dissociá-lo da realidade. A imagem do mundo era surreal feito uma tela com exóticas imagens que passavam frente a meus olhos em cenas dotadas de super luminância. Novamente vi Deus, taciturno, ele espiava minha múltipla insanidade com indiferença. Não assenti como gesto punitivo, eu também não acreditava num Deus cáustico que permitia o domínio da força bélica, que sempre adicionava miséria onde a fome era assimilada com naturalidade.
Incompreensíveis lembranças das atrocidades praticadas pelos descartáveis seres humanos, fadaram me a conviver em atinada sintonia com a insanidade. Mais uma vez visitei o espelho e permaneci apático, ao ver me tão diminuído. Minha imagem refletida no espelho da vida, esvaiu se como um vulto que se projeta no tênue sopro de fumaça. Enraivecido pelos drásticos distúrbios acumulados ao longo da viagem da vida, fui agraciado com mais um soco no coração. Alguns vasos sanguíneos romperam se. Tornei me turvo, prisioneiro de um imediato e previsível esmaecimento.
Meus batimentos cardíacos eram inaudíveis, o organismo não havia suprido a irrigação do cérebro. Rodopiei e fui ao chão. Desiludido, o coração irrompeu debatendo se numa tentativa de implosivo jorro sanguíneo, buscando a fatalidade. Imóvel, tentei dizer algo, buscando forças para interromper o curso da desastrosa vida. Uma formicação percorreu minhas veias acidulando o sangue em súbito descompasso. Horripilantes lembranças das atrocidades humanas fixaram-se em minha atordoada mente, era o tétrico resultado do desalento final que determinava que estava diminuindo qualquer resquício da reativação da jornada.
Enquanto minha esquálida massa se contorcia em dores, minha alma sorvia a mansidão tétrica do ermo ambiente da reencarnação, mas algo superior impedia que ela se transmudasse do corpo. A alma fundiu se novamente a meu corpo. Perdi a noção de combate, pressenti atônito o avanço do demônio que aniquilava minha lógica do desprendimento libertário. Acuado pelo dissabor do conformismo, inevitavelmente a batalha parecia estar decidida. Meus olhos fecharam se, pude vislumbrar o desbotamento letal.
Não sei precisar o tempo decorrido, simplesmente senti brotar no peito um sopro de ativação cardiovascular, estendi a mão e tentei interceptar o gesto do destino que estava me privando o direito de abreviar a estadia neste deselegante labirinto apelidado de mundo. Os batimentos do coração estavam em processo de aceleração. Implorei meu direito de fenecer e continuei impassível diante dos fortuitos acontecimentos e pensei até onde poderia avançar aquele alucinante surto probatório que tinha como meta o meu adestramento, com poder de sedar me por tempo ininterrupto.
Quando o definhamento final desenhava o contorno que finalizaria minha trajetória, abri os olhos e vi um providencial clarão com luminância substancial. Novamente vi Deus, ele sorriu me, então pude me deleitar com a beleza do jardim da vida. A paz floresceu diante de mim numa alegria jamais sentida antes. De meu coração, brotaram pétalas de uma brancura apaziguadora. Uma erupção irrompeu, preenchendo o pulmão com perfumes florais. O manto azul celestial cobriu me de amor. O néctar perfumado interligou minhas artérias, avivando a mente e acelerando os movimentos. Coordenei me em estado de profunda felicidade. A contragosto, eu estava novamente vivo e contente, despojado de ódio ou rancor. Agora, meu pensamento estava direcionado para o ser humano, eu ansiava por sobreviver mas estava preso numa bolha pegajosa, respirava com dificuldade e senti enormes mãos puxando minhas pernas. Finalmente fui retirado da bolha. Meus olhos estavam fechados e meu corpo coberto por sangue. ouvi a voz de um homem que me segurava e dizia:

— É homem, a criança é um macho!
Estranhei quando alguém disse:
— Cadê o neném mais lindo do mundo?
Tentei desviar me do beijo mas não consegui.
— É a cara do papai, vem cá, no colinho!!!

Eu só conseguia mexer os pés e as mãos. Tudo era novidade para mim. Amedrontado, usei a única arma disponível, chorei. Acalentaram-me nos braços entoando cantigas desconhecidas.
— O bebezinho está com fome! Vem nanar no peito.
Em minha minúscula boca foi introduzido um bico, suguei, senti o leite adocicado alimentar me, senti me melhor. Incompreendi o momento, mas o amor recebido recompensara a ausência de memória.



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