Você tem no bolso documento demonstrativo do valor do relacionamento humano, quando feito sob os auspícios da comunhão, da irmanação, do conhecimento mútuo das necessidades das pessoas: o dinheiro. É sagrado o dinheiro para a fixação de bens e distribuição das riquezas. Devagar vai o ser humano coordenando seus ganhos financeiros, de modo a favorecer o crescimento das populações, no sentido de operar, cada vez melhor, a transformação do trabalho em bens de capital, harmonizando a sociedade em torno de ideais comuns de bem-estar.
Essa sabedoria, no entanto, extravasa os limites meramente financeiros e se estende para a assistência médica, em auxílio ao restabelecimento da saúde, quando as pessoas se vêem afastadas por doenças adquiridas no estrito campo do desempenho profissional.
Mais ainda, vêem-se freqüentemente homens capazes e “honestos” buscando burlar o fisco, na tentativa de usufruírem os valores materiais mais altos, valores de poderes discutíveis e, muitas vezes, contraditórios com os avanços da própria civilização, que cada um aceita e ajuda a estabelecer e a manter. Vemos homens que se dizem afeitos ao trabalho tramarem contra os menos aquinhoados no poder de compra, porque recebem parcela ínfima dos bens coletivos, a despenharem do alto de suas posições, as quais deveriam ser de salvaguarda dos beneficiários da coletividade, a assaltarem, com desmesurada cobiça, os cofres públicos e particulares, almejando vida plena de benefícios materiais, cheia de promissoras vantagens terrenas e de ganhos mundanos, a dominarem abusivamente o poder, sem considerarem sequer as próprias mazelas, sem se aperceberem de que agem segundo as leis da selva, aquelas mesmas que de há muito a humanidade aprendeu a rejeitar, ao instituir premissas mais condizentes com as virtudes que se espera que cada qual adquira, para desenvolvimento de sua espiritualidade.
O ser humano, portanto, visando a bem coletivo, extrapolou em seus sentimentos e se agregou em grupos de extermínio das virtudes necessárias para a consecução de seus desígnios. Claro está que esse avanço chegou aos poucos, através da aplicação, nas ciências humanas, do produto dos ganhos que se fizeram, a partir do momento em que, da agricultura extrativa ou meramente desprovida de qualquer auxílio tecnológico, se passou a indústria incipiente, nos primórdios das civilizações modernas.
Estas considerações se fazem necessárias para que fique bem claro, no espírito do leitor, que o homem não se adaptou às novas realidades porque quisesse estar “de bem” com Deus, mas por interesses crescentes em se fixar no comando, explorando o trabalho dos operários e aprendizes, bem como sacrificando as famílias deles, na busca desenfreada do poder. Em harmonia com esses sentimentos de luxuriante prazer, foi desenvolvendo, paralelamente, ciência voltada para a facilitação dos eventos concernentes à produção de bens de consumo, sempre mais rápidos e melhor adaptados à indústria e ao comércio, no gerenciamento dos próprios recursos, na busca de novos mercados e no incentivo ao progresso mercadológico.
Atentos aos fatos em desenvolvimento, puderam os desencarnados ir insuflando, na mente humana, idéias de solidariedade e de distribuição de riquezas, de forma que se propiciassem a todos, as comodidades materiais que favorecessem, por seu turno, o desenvolvimento espiritual, através da capacitação universal da leitura e do acesso às bibliotecas e ao conhecimento das eternas verdades que os livros sagrados registram. Em parte se conseguiu esse intento, pois muitas igrejas se preocuparam com a evangelização, apesar de muito dependentes do poderio dos que detinham o governo e que, portanto, interessadamente, buscavam as riquezas que entre poucos se distribuíam.
Agora, entretanto, o quadro das diferenciações sociais se agrava, tendo em vista que pôde o homem progredir incessantemente nos campos científicos e tecnológicos e tão pouco no da assistência e na disseminação dos valores mais profundos. O dinheiro, veículo da distribuição das riquezas, tornou-se o meio mesmo de captação delas e recurso seguro de fixação de bens de capital, o que onera, sobremodo, o avanço da civilização. Países existem, entretanto, mais desenvolvidos nos aspectos da benemerência, que se encontra institucionalizada nos códigos de leis e na atitude pessoal que cada qual assume diante do semelhante, já que o desenvolvimento material se deu a par do avanço moral, equilibrando-se as conquistas em ambos os campos.
No Brasil, contudo, tal não se dá. Nem é preciso viajar pelo país todo, para que se possa sentir quão diferenciadas são as suas regiões: de um local de grandes recursos, dotado dos instrumentos mais sofisticados inventados pela genialidade de cérebros altamente intelectualizados, até paragens grosseiras, onde o bezerro bebe da mesma água barrenta que “enfeita” o corpo das criancinhas em transe de morte, pela ignorância geral que grassa nos espíritos animalizados pelo descaso dos que detêm as riquezas e o poder. São de lastimar casos como o do irmão que se viu compelido a sacrificar toda a família para obter punhado de comida, que mal chegou para alimentar-se durante um dia sequer.
Vemos, por outro lado, acontecer ferrenha disputa política, objetivando obter o poder maior da nação, em querelas mil, em promessas de grandes trabalhos. Jamais teve o homem brasileiro tanto poder de decisão no que respeita à escolha de seu governante. Se olharmos para trás, veremos que, a par do crescimento dos recursos de que antes falávamos, havia também predisposição para a manutenção do “status quo”. Tal fato acaba de escapar das mãos dos poderosos mandantes e dignitários da pátria. Sem que se apercebesse, grupo de políticos se deixou levar pela euforia da liberalidade que o poderio armado deixou escapar, por precisar ater-se a compromissos estabelecidos com outras nações, e pôde o Congresso Brasileiro reunir, em documento “mágico”, acervo de elementos infiltrados das legislações de países mais avançados, o que se deu sub-repticiamente, sem que se tivesse inteiro domínio da situação. Agora pode o homem comum “virar a mesa” e conseguir para si mandante mais generoso e de capacidade, que tenha o coração mais desvinculado dos ganhos do poderio econômico existente e mais afinado com os grupos de espíritos que pregam a paz através da distribuição das riquezas e da capacitação do homem comum de adquirir, em pouco tempo, os recursos necessários para sua sobrevivência e para seu desenvolvimento, quer do ponto de vista material, quer do estritamente moral e espiritual.
Caso se abstenha o povo de seu poder, evidentemente em detrimento do próprio desenvolvimento, teremos novamente de providenciar socorro para muitos que se encontram fisicamente perdidos em mundo de misérias e de desgraças. Sabemos, entretanto, que muitas forças do bem se juntaram para ajudar os mais ignorantes e mais necessitados a reunirem-se em grupos de meditação e de prece, em auxílio à decisão que mudará os destinos da nação. Graças a Deus, este trabalho está sendo realizado com muito empenho e está deixando rastro de muito júbilo, pois a aceitação dele é imensa e inumeráveis espíritos engajam esforços, no sentido de conscientizar a população de seu próprio poder. Como se pode notar, há males que vêm para bem, se soubermos administrar, com judiciosa ponderação, os elementos que se encontram à nossa disposição, bafejados pelo hálito da benemerência soprado pelo Senhor, para alegria e recuperação dos homens.
Mais tarde, teremos oportunidade de nos estendermos em considerações mais abrangentes a respeito do desenvolvimento humano, no aspecto de aceitação dos valores espirituais que estão sendo transmitidos através dos trabalhos mediúnicos. Agora, estamos registrando tão-somente aspectos sociais de benemerência.
Resumindo as idéias: os homens buscaram lã e saíram tosquiados, no bom sentido.
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