Um anjo torto e
negro desceu dos céus
para fazer a revolução:
“Executar a trombeta dos mártires”.
“Executar esferográficas, pincéis, espadas
e palcos pelo mundo...”
Diga aos querubins de Miguel Ângelo
que na catedral de São Pedro, um senhor
Apolo Yashanti chegou!
Afoxé – cáucaso e cachaça da Terra – , samba
de roda, pigmil nauseabundo, diáspora
dos Bantus...
Maometana crisma sincrética, épica de nossas
almas.
“Não é estar, é ser, é ver, com minhas veias
atlânticas a tua incessante luta
a cruzar as cruzadas em cantos Nagô”.
Macrogê, Tupinambá, Iê-la-yê: Tupi-Gêge
pós-moderno eu ajudei a construir!
Sou tua verve, teu orgulho, tua dor...
Meu coração é um Quilombo que
engole os quatro cantos do mundo...
Luther, Elza, Otelo, Couto
e Assumpção... Meu nascimento é a
fuga do ouro e da cruz.
Sou Haussa em minha pátria,
Sou Gana em nossa luz...
Sou Afrikanner, não sou inglês,
Sou Bosquímano, sou Bissau,
Meu Congo era Zaire...
Não estamos aqui, mas somos aqui.
Não há fuga, há luta. A essência
de minha alma é meu sangue e meu suor...
Sou a própria eternidade que vela por mim...
Sou tufão, rumor no tambor de nossas almas...
“Uganda na manga Luanda de Suazilândia, querida,
te liberto...”
Me sinto Havana embargada
há quatro palmos de tempos
na razão de Kingston dos
navios de Haiti – não é aqui?
Isso é Banzo de mar,
Fragata solta ao vento,
luta de Macambira Rei...
Somos tudo isso nas entranhas do passado
futuro: somos Zâmbia e Moçambique,
Madagascar, Eritréia, Etiópia,
Botsuana, Tanzânia, Egito, Marrocos,
Mauritânia, Congo, República Centro Africana,
Mali, Argélia, Tunísia, Líbia, Sudão,
Uganda, Senegal, Costa do Marfim, Malvi,
Zimbábue, Ruanda, Burundi, Quênia, Somália,
Gabão, Benin, Níger... Todos os reinos somos
nós... Banjul...
Todas as lutas, todos os tempos,
todas as mães, todas as crias,
todos os ventos...
Um anjo esbelto e negro
subiu aos céus
para coroar os Orixás e
trazer a conquista!
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