Amo os animais e sempre os tive em minha companhia. Registrava experiências interessantes que vivia com eles, seu comportamento, suas diferenças e, principalmente, o prazer que eles me davam.

Certo dia resolvi contar as histórias que mais me comoviam. Acabou saindo um livro - "Meus Bichos - Histórias de Vida" - que publiquei quase artesanalmente, sob o patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura, Regional Marília. Quando escrevi não tinha nenhum objetivo audacioso, não pensava em um público alvo. Escrevi apenas, espontaneamente. Amigos meus foram lendo. Um dia um deles resolveu reunir os três filhos e ler para eles. Foi a enorme surpresa: as crianças ficaram interessadíssimas e não deixaram que ele interrompesse a leitura. Ao terminar, ele perguntou por que gostaram tanto e cada uma delas deu o seu motivo. Só então ele perguntou se elas sabiam quem escrevera aquelas histórias: resposta unànime, acertaram a autoria. Esse fato puxou um lançamento do livro que aconteceu no Bosque Municipal, entre os animais. Crianças foram convidadas pessoalmente nas escolas, principalmente as da periferia que nunca tinham tido oportunidade de presenciar um lançamento de livro. Compareceram em massa, acompanhadas de professores. Tinha banda tocando músicas infantis, especialmente "Os Saltimbancos", adaptação de Chico Buarque. Atores da cidade se fantasiaram de bichos e divertiram a criançada. Houve discursos, cumprimentos, autógrafos. E teve minha emoção e minha lágrima agradecendo as crianças por terem adotado meu pequeno livro. Os exemplares foram vendidos pelo preço da mais barata das revistas de banca. A edição se esgotou em pouco tempo.

A partir desse acontecimento inédito e de sucesso, a Delegada Regional da Cultura na cidade resolveu criar oficinas para crianças a respeito do livro. Fui convidada a ministrá-las e aceitei. E aí o meu espanto e o motivo de eu contar essa história. Cada oficina era única. O entusiasmo das crianças era evidente. Elas sempre tinham o direito de contar suas experiências com seus bichos e suas frustrações quando não os podiam ter. A estas eu incentivava dando dicas de como convencer seus pais. Quase todas conseguiram, o resultado vinha por cartas delas mesmas e/ou dos pais. Os professores ma davam notícias da mudança de comportamento dos alunos após a oficina e principalmente quando conseguiam ter seu bichinho de estimação. Eu pedira a eles esse retorno, que ficassem atentos principalmente na mudança em termos de sentimento nas crianças. Quase todos que me retornaram falaram em explosão de sensibilidade. Era o que eu queria e esperava.

A meu ver, é muito importante a convivência com animais na formação do sentimento da criança. E eu não vejo uma educação completa sem a base do sentimento. Adélia Prado escreveu: "Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento." E a criança é o terreno mais fecundo para se cultivar a semente do sentimento. Convivendo com um animal ela aprende a respeitar a vida como valor absoluto, aprende a ser responsável através daquele ser vivo que depende muito dela, aprende que, como ele, ela faz parte integrante da natureza e, consequentemente, a respeita, aprende a importància do instinto ao qual, em geral, damos pouca atenção, aprende, enfim, a encarar a morte quando ele parte. Numa palavra: aprende a ser sensível pela vida afora.

A literatura narra experiências incríveis da influência dos animais na formação de crianças. Crianças com problemas mentais apresentam melhoras incríveis ao se relacionarem com cavalos. Crianças de rua procuram a companhia de cães também abandonados e se sentem gratificadas. E temos notícias até de prisioneiros que se transformam com a simples companhia de um pássaro.

Por que não pensar nisso, Papai e Mamãe, quando negam ao seu filho o direito de ter um animal? E por que não aproveitar esse grande auxílio, você que é educador? Basta lembrar que o sentimento ainda é a coisa mais fina do mundo! E saibamos todos respeitar e agradecer aos nossos irmãos animais.

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