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Poesias-->O Porquinho -- 24/09/2007 - 08:09 (Alvaro Nascimento Vieira) |
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O porquinho
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Era Domingo, tudo carmo na fazenda
A parentada vinha toda p’armoçá
Vinha as criança, que em tudo elas mexia
Vinha o meu primo, e cum ele as duas tia
E o caçulinha que só sabe apurrinhá
Acordei cedo e fui pra granja conferi
Se as galinha tava boa pra matá
Tinh’umas três ou quatro gorda pra valê
Mas eu achei que era pouco pra comê
Aquela gente que cum fome ia chegá
Então pensei fazê uma baita feijoada
“Rende bastante, vão comê e vai sobrá
Já tem feijão e os tempero da fazenda
E da farinha que engrossa mnhá merenda
Tem mais três quilo no garpão, é só pegá
Agora farta o principar que é o porco
Mas esse item num me faz me preocupá
Pois na fazenda tem um monte desses bicho
E eles fica o dia inteiro lá no lixo...
... unzinho a menos no totar num vai fartá”
Me apruximei dos bicho sem fazê baruio
E escolhi aquele que eu ia pegá
Saí correndo atropelando os bacorim
E nem olhei pros grande vindo atrás de mim
Purque senão eu desistia de tentá
Mas eu corri mais que os porcão e consegui
Era pequeno, mas já dava pra assá
Segurei firme no leitão e fui embora
Purque o armoço não podia tê demora
Senão meu primo nunca mais ia vortá
Só que o danado tava sujo e escorregou
Saiu correndo com’um potro a dispará
E eu atrás, cansado da primeira luta
Num consegui acompanhá o fiá-da-puta
E fiquei vendo meu armoço se escapá
“E o meu primo, e as criança e as muié?
Daqui a pouco todo mundo vai chegá
Num tem armoço e o que tinha num tem mais
Purque cansado num guentei corrê atrás!”
E os ponteiro num parava de girá...
Mas sô esperto e conhecia aquele porco
Era guloso e pra lavage ia vortá
Fiquei quietinho atrás de um pé de bananeira
Recuperando o ar da úrtima canseira
E esperando o meu armoço retorná
Quando ele veio tava bem desconfiado
Mas num me viu nem viu qu’eu ia lhe atacá
Num pulo rápido fechei o seu caminho
Me atirei com tudo em cima do porquinho
E a poeira começô a levantá
Ele chutava, se batia e esperneava
Eu segurava o que eu podia segurá
E, finarmente, terminou-se a contenda
Peguei o bicho mais arisco da fazenda!
E amarrei pr’ele num tê como escapá
Vortei pra casa e vi o carro do meu primo
Ele me viu e veio me cumprimentá
As duas tia fôro entrando e se espaiando
O caçulinha já chegou apurrinhando
E a criançada foi correndo pra brincá
Pió de tudo é que irrita quarqué um
Chegá na hora e ainda tê que esperá
O povo chega até sem ar de tanta fome
E o mau-humor só vai embora quando come
E entope a pança até os óio revirá
Mi apressei pra resorvê a minha parte
Fui pra garage com a pedra de amolá
De lá de dentro ouvia o choro do porquinho
Que estava preso no celeiro num cantinho
Vendo as criança que chegava pra olhá
Bem nessa hora eu chegava cum a faca
E as criança me olharam devagá
Fiquei cum medo, envergonhado e chorei
Chorei baixinho, chorei alto e só parei
Purque o porquinho foi parando de chorar
Olhei pra ele e as criança do seu lado
Sorriam muito e tinham brilho no olhá
Porque elas tinha apaixonado no porquinho
E pela grade acarinhava o focinho
Do animarzinho que eu pensava de matá
Vortei pra casa decidido a pô um fim
Na educação que a gente tem só pra agradá
Falei pra todos, mesmo com o forno em brasa
“Num tem armoço, vão embora desta casa!”
E as duas tia só fazia recramá
Em dois minuto o meu primo foi embora
Levando tudo (e foi pra nunca mais vortá)
Meu coração batia forte de alegria
Perdi um primo, três sobrinho e duas tia
Mas cum o porquinho, para sempre, eu vou ficá. |
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