Argentina em noventa e quatro,
eu, o Mário e meu filho Diego,
mais cinco argentinos num restautante,
de lá via-se os pampas.
Não fomos notados quando chegamos.
O churrasqueiro lia o jornal,
assava a carne e tomava cerveja,
parecia o dono, mas não era,
gerente também não, mas mandava,
era o dono - sim era o dono - soubemos depois.
Costume do local - pensamos,
como não fêz caso da nossa presença,
ficamos na nossa.
Conversavam num idioma
que não era castelhano.
Me disse o Mário,
era tupi-guarani-argentino
(idioma do argentino nativo)
Paciência pensei,
levantei o braço,
e estalando os dedos,
chamei o garçon.
Embora o gesto
não faça parte de etiqueta nenhuma,
parece que funciona no mundo inteiro.
Veio o garçon e nem mesmo anotou,
nem caneta, nem comanda tinha ele,
muito educado, porém frio
Pedimos cerveja, clara,
era Kilmes - veio em litro.
O churrasco? Delicioso.
Também não agradecemos,
lá só se agradece com gorjeta,
Brasileiro não está acostumado com isso,
não faz parte da nossa cultura.
Lembro-me de quando organizamos delegações
a fim de visitar outras nações, quanto nos é
pedido pelos capitães: Não nos esqueçamos
as gorjetas, é muito importante para eles,
e a nós não faz falta nenhuma.
Gorjeta? Não somos obrigados,
dizem muitos.
Questão de cultura
lá faz parte do salário do serviçal,
foi por isso que não fomos bem atendidos.
Mas como sabiam que não teriam gorjeta ?
Simples, nossa alegria e linguagem nos trai,
brasileiro parece macaco dizem lá
Quando voltar a Argentina,
não esquecerei do conselho da amiga Narcisa:
-Chegue, cumprimente o garçon,
deixe a gorjeta no seu bolso esquerdo,
isso tudo discretamente,
antes de sentar-se a mesa.
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