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Contos-->a eleição da bicharada - a fábula -- 28/09/2006 - 17:44 (Hull de la Fuente) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A ELEIÇÃO DA BICHARADA - A FÁBULA


(Hull de La Fuente)


A floresta estava animada ante a possibilidade de reeleger o jabuti Tonhão no cargo de chefe da prefeitura.

A panfletagem corria solta, não havia regra que fosse obedecida. A câmara de vereadores havia criado uma lei proibindo o uso das árvores para a colocação de cartazes. Mas o presidente da câmara era o macaco Juracy, ele e seus primos Serjão e Pançudo, eram os que mais desobedeciam.

Durante a noite a macacada saia pregando cartazes de galho em galho, nas mais altas árvores e até nos coqueiros, pra desespero das araras e papagaios, pois Serjão, de propósito os colava em cima dos cachos de cocos, impedindo que as aves pudessem comê-los.

Por conta disso, a arara Araci, vereadora em final de mandato, apresentou um projeto propondo a mudança da lei eleitoral. Nas próximas eleições, quem descumprisse a norma, ou seja, quem colasse cartazes em locais impróprios, teria o registro da candidatura cassado.

Mas Juracy, Serjão e Pançudo, não estavam nem aí pras norma. Eles partiam do princípio de que lei era pra ser transgredida, e transgressão era brincadeira, diversão. Nenhum bicho tinha sossego quando eles estavam por perto.

A onça Filomena era uma de suas principais vítimas. Eles adoravam puxar o rabo e meter o dedo nos orifícios da onça, quando ela se distraia. A onça odiava as molecagens dos macacos e contra eles havia feito vários BO na DB, (boletim de ocorrência na Delegacia dos Bichos).

Decidida a mudar o estado de anarquia na floresta, Filomena resolveu se candidatar a uma vaga na câmara, pois onça que se preza não permite que macaco ou qualquer outro bicho cutuque seus orifícios.

Mas eram tantos os concorrentes, que o tribunal eleitoral florestal determinou que, a única maneira de selecionar os melhores, seria através do terrível teste da pimenta. Sairia candidato quem fosse capaz de comer uma bacia de pimenta malagueta, sem protestar.

Durante um mês inteiro, todas as manhãs, dois ou três candidatos seriam postos à prova.

Durante o “banquete” de pimentas, nenhum dos candidatos podia soprar ou puxar ar pra dentro da boca e nem beber água, sob pena de ser desclassificado. Era uma prova difícil e ardida.

A onça Filomena não se deixou intimidar, era melhor comer pimenta do que ser acordada no melhor do sono, com as cutucadas dos macacos. Junto com ela concorria o próprio macaco Juracy, pela quinta vez candidato do PCO, Partido Contrário à Ordem.

A floresta foi avisada da preliminar de pimenta. A fauna inteira acorreu ao evento. Afinal, pimenta na boca dos outros é refresco. Ninguém queria perder o ardente espetáculo, por nada da floresta.

Foi instituída uma comissão para julgar quem seria o vencedor. E fiscais foram designados pra evitar tramóias.

Juracy e seus primos, sabendo da seriedade da onça Filomena, escritora renomada, membro da AFLB, Academia Florestal de Letras da Bicharada, e benemérita social, tinham certeza de que ela venceria. Então combinaram entre si, tumultuar o teste a fim de confundir os integrantes da referida comissão.

A primeira providência deles foi saber quem fazia parte da tal comissão. Quando os macacos tiveram em mãos a lista com os nomes, deram piruetas pelos galhos, soltando gritos de alegria. Não ia ser difícil negociar com eles. E num hotel da floresta, na calada da noite, tudo foi arranjado com os integrantes da comissão.

O presidente da comissão era o bode Josué, famoso pelo bafo de pinga e alho. Ninguém suportava ficar muito tempo perto dele por causa do cheiro. Contava-se na floresta que seu fedor vinha desde a infância. Sua mãe tinha o hábito de passar alho nas tetas antes de amamentá-lo. Ela fazia isto porque o bode tinha a mania de fugir para roubar coisas nas fazendas próximas, deixando-a preocupada. Mas com o cheiro que exalava dele, ela podia encontrá-lo até no escuro.

Além do mau cheiro, o bode Josué era corrupto. O que, segundo a opinião da onça Filomena, completava seu caráter de chifrudo.

O segundo integrante era Mané Furafura, o tatu canastra, também beberrão e pertencente a uma numerosa família de tatus-sem-terra. Sabia-se que o avô de Mané Furafura tinha um pedaço de terra, mas não trabalhava nela: por preguiça, a família preferia comer a terra do jeito que estava. Improdutiva. Os tatus sem-terra, além de predadores do solo eram dados à prática de terrorismo em propriedades da região. O macaco Juracy sabia que eles vendiam a alma por dinheiro, Foi fácil comprá-los.

O terceiro integrante era o tamanduá João Dirceu, ex-deputado florestal, do PDM – Partido de Defesa da Mata. Sua grande contribuição, quando deputado, foi a criação da LEP, - Lei do Engarrafamento do Pum, que obrigava a todos a armazenar os puns que depois eram desengarrafados no meio dos redemoinhos. A fedentina tinha por fim afugentar os mosquitos, mas não só eles. Muitos animais preferiam enfiar a cara na areia ou buscavam refúgio em outras partes, nos dias de redemoinho, pra não ver e não sentir o que se passava na república da floresta.

O tamanduá tinha fama de violento e corrupto. Contra ele havia um processo movido por sua ex-companheira, por agressão física. Contava-se também que ele mantinha um caso com a anta Jacobina com quem estava formando uma nova espécie de animais corruptos e pouco inteligentes. Também foi fácil comprá-lo, concluiu o macaco Juracy.

O quarto e último integrante era um velho tigre banguela, fugido de um circo italiano e refugiado na floresta há muitos anos. Ele era o presidente do conselho de anciões. Era o sábio conselheiro da floresta. Ninguém fazia nada sem consultá-lo antes. Luigi era o seu nome. Tinha sido casado com uma jaguatirica espevitada que depois o abandonou por um domador argentino, com vocação a gigolô.
O tigre tinha um problema, porém. Ele era o maior colaborador da LEP - Lei de Engarrafamento do Pum. Sua flatulência era conhecida além da floresta. Ao mesmo tempo em que os animais buscavam aconselhamento com ele, expiavam seus pecados, pois a cada levantada de perna do tigre, o ar ficava irrespirável.

Os macacos concluíram que Luigi, apesar de honesto, não seria problema durante a prova, pois o velho tigre dormia quase o tempo todo, mesmo rodeado de barulho.

No dia da prova, na hora combinada, o esperto Juracy e seus primos se posicionaram em volta de uma das bacias com pimentas. Filomena chegou no seu passo bamboleante e calmo e também se sentou diante da segunda bacia. A bicharada gritava e aplaudia. Filomena olhou para a comissão julgadora e cumprimentou cada um dos membros com um aceno de cabeça. Diante da educação da onça, Juracy pediu silêncio alegando que precisava fazer um comunicado importante. A permissão foi dada e ele falou:

_ Senhores e senhoras! A concorrente já chegou cumprimentando a comissão. Isto não está certo! Por isto, eu peço para que os meus primos fiquem aqui do meu lado. Eles me darão apoio moral caso a onça Filomena tente algum truque. Afinal esta é uma prova muito difícil. Eu conto com a simpatia de todos vocês, minha gente da floresta! E parodiando um antigo animal político de outra floresta, saiu-se com esta frase de efeito: “Não me deixem só”!

Os aplausos e assovios foram ouvidos e alguns animais mais exaltados entoavam o seguinte refrão:


O macaco é companheiro
Trabalha com devoção
Não é amigo da onça
Ele tem boa intenção.

Filomena assistiu a manifestação na mais absoluta indiferença. A gritaria foi silenciada pelo bater do gongo. A onça lançou seu lindo e misterioso olhar sobre a bicharada e sobre o adversário Juracy, o macaco Pançudo ficou entre os concorrentes de olho nas bacias de pimenta. Serjão, na qualidade de porta voz do primo Juracy, de frente pra comissão não parava de adverti-los sobre a lisura da prova.

Foi dada a ordem para começar. A onça baixou a cabeça, abocanhou a primeira porção e começou a mastigá-la. Juracy encheu as mãos de pimenta, meteu algumas na boca, engoliu-as sem mastigar e disse pra onça:

_Dona onça! A senhora não pode fazer sviiiupss!!! – E chupava o ar pra dentro da boca – Se a senhora fizer sviiiupss!!! A senhora vai ser desclassificada... E assim ele fez durante toda a prova.

Enquanto ele dizia isto seu primo Pançudo tirava pimentas da bacia dele e a pretexto de incentivar a onça, gritava palavras de ordem: Vamos Filomena! Vamos Filomena! Coma tudo! Não deixe cair pimentas, não sopre! Não puxe ar pra boca! E metia as pimentas que tirava de Juracy, na bacia da onça.

O júri se “distraiu” com a “macacada” dos macacos e foi deixando a prova seguir enquanto Juracy comia poucas pimentas e, a pretexto de ensinar como é que onça não devia fazer, puxava o ar pra boca o tempo todo. E assim, saiu-se muito bem, pois além desta tramóia, mais da metade de suas pimentas passaram pra bacia de Filomena, graças ao auxilio dos primos e da comissão.

Filomena comeu em silêncio e com muita dignidade, mas lágrimas de dor escorriam por sua cara. Ao final, entre os apupos da fauna e a molecagem dos macacos que pulavam em torno dos competidores, o bode Josué anunciou que a competição tinha sido empatada. Segundo suas palavras, os candidatos haviam se portado igualmente, portanto nada mais justo do que a homologação das candidaturas por parte do tribunal eleitoral florestal.

O macaco Juracy foi carregado nos ombros de vários animais do PCO. Durante a passeata, vários integrantes das coligações fizeram questão de carregá-lo às costas. Entre eles, a anta Jacobina, que desfilou acompanhada de duas das suas criaturas mutantes, filhos do estranho relacionamento com o tamanduá João Dirceu.

A onça sofreu e viu toda a manobra dos habitantes da floresta. Saiu dali com a certeza de que a fauna gostava mesmo era da desordem, do roubo, do desrespeito às outras criaturas que não compactuavam com a anarquia reinante. Que fosse reeleito o jabuti Tonhão, que fosse reeleito o macaco Juracy. A fauna assim decidira.

Não adiantava convocar observadores vindos de outras partes, pois sua tão querida floresta era motivo de gozação no restante do mundo, a imprensa internacional vendia muito jornal e revistas, tudo à custa da sua querida floresta.

A vontade dos animais era soberana. Estava lá na carta magna florestal.

Haveria mudança algum dia?











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