Não aqui jaz,
aqui já era Jorge Amado.
Agora é cinza.
Cremado,
e espalhado,
conforme quis,
aos pés
de uma mangueira.
Antes, porém,
o grande velório,
pois quem é vivo
sempre aparece.
Carpe diem,
mas a vida continua.
Carpir, um hobby
nacional
com tradução
pronta e literal,
aldeia global
afora.
Uns dois dias
para que se pranteasse
a memória de quem se foi,
e se velasse
a carcaça, antes
que cinzas
se fizesse.
Uns dois dias
para que as carpideiras
expusessem ao grande público
os seus dons
para a choramingueira.
Lágrimas sentidas,
incontinenti ofuscadas
pelas outras,
mais do que incontidas,
lágrimas de ocasião.
Sônia Braga,
a eterna Gabriela,
não veio.
Mas subiu pelo telhado,
na tela da Globo,
um sem-número de vezes?
Betty Faria,
jamais cansada de guerra
e para sempre Tieta,
esbanjou sentimento,
classe e recato.
A Folha de São Paulo,
que não dorme no velório,
acionou o Paulo Coelho.
Quem vende, vende...
E até o Jô resolveu
entrar na dança.
Das cadeiras.
Na net rolou de um tudo,
dos chorosos companheiros
do usina aos (cala-te, boca!)
sempre heréticos
estraga-velórios.
E, é claro,
com aquele papo maneiro
do "literariamente
falando" (cala-te, boca!).
É por isso que acontece
tanta coisa ruim,
tantas "castrofe".
Agora é cinza.
Mas houve tempo
(uns dois dias?)
para que cada qual,
um a um,
tirasse a sua
lasquinha.
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