O Mito de Ícaro
. Márcio Filgueiras de Amorim
Fugir ao que aprisiona, anseio humano,
Inflama Dédalo e Ícaro no Labirinto.
Moldadas com cera e penas, asas tão frágeis,
Alçado o vôo, a eterna busca de liberdade.
Maravilhado ensaia Ícaro ousar, enquanto,
Escuta de Dédalo um apelo ao justo meio:
Que não voe, baixo demais, que o alcancem,
Nem alto demais, que o possa fascinar o sol.
Que abandonado o denso não o iluda a luz.
Não cabe ao homem, desmesura tamanha!
De com suas forças ir do terreno ao espirito.
Esquecido tomba e finda, Ícaro, no mar.
Estaremos qual Dédalo aprisionados,
Nos Labirintos que nos cria o intelecto?
Com as toscas asas de nosso pensamento,
Que nos eleva, mas logo nos atira ao mar?
Aspirar a ascensão, do escuro à plena luz,
Caminho primeiro e último do homem,
Mas se falsas as escolhas, seguido da queda,
No mar da vida, nas inconscientes profundezas.
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Fonte de pesquisa:
DÉDALO
... mesmo convidando seu filho a servir-se da precária invenção , Dédalo lhe dá um conselho dos maisd sensatos quanto aos dois perigos a serem evitados. Conjura Ícaro a não permanecer muito próximo da terra, mas também, e sobretudo, evitar uma ascensão muito audaciosa.; a aproximação imprudente do sol. Não se trata de um conselho intelectualmente sensato, é muito mais que isso: uma primeira indicação do ideal grego, o ideal do justo meio......
....torna-se evidente que Dédalo previne seu filho contra o perigo ao qual estaria exposto se alimentasse o desejo desmesurado de escapar das regiões perversas(Labirinto) na vã esperança de poder atingir a região sublime através unicamente de um meio absolutamente insuficiente que é o intelecto( as asa de cera).
As asas verdadeiras simbolizam a imaginação sublime, tal como as asas dos espíritos puros, dos anjos, do pégaso, cavalo das musas, símbolo claro da inspiração sublime e da imaginação criadora. A imaginação perversa, por outro lado, é frequentemente simbolizada pelas asas de animais noturnos. Assim, por exemplo, o diabo, o anjo decaído, personoficação cristã da imaginação perversa, é dotado em algumas representações de asas de morcegos.
A asas artificiais simbolizam o vôo muito próximo da terra, a sedução diabólica própria dos desejos exaltados que se transformam em devaneio.
O vôo em direção ao sol simboliza a espiritualização.; porém, o vôo com a ajuda de asas de cera só pode significar a forma insensata da espiritualização: a exaltação vaidosa. Fiando-se vaidosamente em suas asas, que não passam de um artifício, o intelecto, tornado imaginação perversa, não mais escuta qualquer conselho prudente, não conhece mais limite: quer ser o espírito, propõe-se atingir o sol.......
Este mito condensa a história da elevação e da queda do falso herói em uma única tentativa.
O sentido velado de todos os mitos não é outro senão a inesgotável amplificação de um tema único, o qual, expresso no mito de Ícaro pelo simbolismo “elevação-queda”, a despeito da diversidade das imagens variáveis, permanece como tema mais impressionante da vida: o conflito essencial da alma humana, o combate entre espiritualização e perversão.
Paul Diel
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