Sem muitas palavras Ana respondia ao professor de matemática de
forma grosseira, sem saber ao certo o motivo de tanta ira pessoal,
Fernando também revidava a altura, impondo ainda mais sua posição
na hierarquia. E cada vez mais surpreendia - se com a ruivinha de pele escura, mais parecendo uma fabricação de produtos químicos
vendidos em farmácias.
Não respondia a chamada, não atendia aos pedidos do discente para
resolução de equações na lousa, nem sequer o olhava nos olhos. A
jovem adolescente agia instintivamente, sem pensar, sem raciocinar na gravidade de suas atitudes. Avisada pelos seus colegas de classe da possibilidade de uma suspensão pelo comportamento com o professor, Ana, resguarda - se ainda mais e cometia os mais absurdos atos de rebeldia, dentro e fora da sala de aula.
As brigas, os gritos entre os dois eram possíveis de serem ouvidos a
distância. Os outros adolescentes questionavam - se até que ponto os
dois iriam chegar, com tanta desavença que crescei mais e mais. O
murmurinho era mantido pelos amigos de Ana, era como um assunto
de classe, fora o jeito como eles próprio intitularam.
Nos corredores do Internato São Tadeu, no interior de Piracicaba - São Paulo, os comentários aumentavam a medida que as respostas da aluna ao professor soavam mais violentos e atravessavm facilmente as grossas paredes do rígido Instituto. Fernando não se dirigia a coordenação, apenas a repreendia a sua maneira, cautelosa de ser.
Mesmo aceitando tantos desaforos, Fernando só pedia a moça de 15
anos que se comportasse como suas colegas de classe, obediente. O
ano passava, as notas de Ana só subiam, mostrando que o professor
nada a castigava com descontos de pontos.
Com o final das provas do último semestre próximo, o professor
recebeu uma festa de despedida. Fernando deixaria o internato. Ele se
mudaria uma semana após a conclusão do ano letivo para a Capital,
sua intenção, cursar uma pós graduação.
Durante a música que tocava, as luzes do salão de festas foram
apagadas e o globo girava. Perto do fim as músicas lentas convidavam os participantes a deixarem a pista. Ana, reclusa na cozinha, fazia o que mais gostava, comer, seja doces ou salgados. Ela fardava- se se deliciando a valer. Sem saber quem encontraria por trás da porta de madeira trabalhada, Fernando se aproximara para também tomar parte das delícias, produzidas pelas cozinheiras do internato.
O silêncio reinou por um segundo, desta vez Ana não virou o rosto e o
encarava com seriedade. O professor sem nada entender solta uma
pergunta, porquê? Entretida no que comia, a aluna não ouvira as
palavras de Fernando, mas ele obtém uma resposta, que o deixa ainda mais confuso. Em um rápido segundo, Ana se levanta e cospe no rosto do homem em sua frente. Envolvido pelo momento e ouvindo o zunindo da velha geladeira, Fernando não tem reação. Ana vai embora e mais uma vez surpreende o professor que parte sem saber a razão.
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