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Artigos-->Thomas Bernhard no país das maravilhas -- 08/03/2001 - 22:54 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ou "De como eu deveria me tornar diretor do Burgtheater"

Uma exposição em Viena apresenta o espólio de Thomas Bernhard e os "homens de sua vida"



De Ulrich Weinzierl (DIE WELT, 09/03/2001)

Trad.: zé pedro antunes



Enfim, e ainda que tão postumamente, Thomas Bernhard oferece resposta à questão: Onde fica o positivo? É, simples e comovidamente "O país das maravilhas, minha Áustria!" Assim o verso final de um poema, quase sem receio de assumir o mesmo tom hínico do poema "Die Königin der Städte" [A rainha das cidades], escrito em homenagem a Salzburg. Como é natural, no louvor local-patriótico, "Herz" rima com "Schmerz" [coração (amor) e dor]. O final não é menos comovente: "Und grabt mich in der Salzstadt ein,/ Dort unterm Abendsterne." [E enterrem-me na cidade do sal,/ ali, sob a estrela do entardecer.] Um conhecedor do assunto, o Heimatschriftsteller [autor prestigiado por seu ardor patriótico e localista] Johannes Freumbichler, assinalou o opúsculo com um enfático "Gut" [bom].

Para oferecer à verdade uma incomum honraria: O poeta, ao escrever essas linhas, acabara de completar 17 anos de idade, portanto, em plena fase de impunidade lírico-pubertária. No momento, na Biblioteca Nacional da Áustria, Martin Huber e Manfred Mittermayer apresentam não apenas os dois "homens da vida" de Bernhard - o avô e a maternal severa companheira Hedwig Stavianicek -, mas também, pela primeira vez, o seu espólio literário.

Por um lado, a exposição explicita com que força a imagem ideal (Vorbild) e a imagem assustadora (Schreckbild) de Freumbichler - que, para o neto, personificava a suma do "homem de espírito" fracassado - marcaram os personagens principais da obra de Bernhard. Chegando até à adoção de características expressões, extraídas dos livros de anotações avoengos, sinalizadoras de uma aspiração à imposição absoluta de sua verdade. Por outro lado, temos a aparição, mais expressiva do que até este momento, da figura de Hede Stavianicek, a bem aquinhoada filha de boa família burguesa, ano de 1984. Sua energia disciplinadora e sua dedicação, sua generosidade e sua mesquinhez de guarda-livros auxiliaram Thomas Bernhard de forma extraordinária, ao mesmo tempo que pesaram sobre ele. Para a dama da sociedade, não foi fácil encontrar o meio-caminho entre a proximidade e a distância. Muito lentamente, desenvolveu-se o tratamento missivístico que ela lhe dispensava, do terno "Kind" [Criança], passando por um antiquado "Er" [Ele], até chegar ao familiar "Mein lieber Thomas" [Meu querido Thomas]. No dia 28 de abril de 1984, ele inscreveu em seu calendário de bolso: "Hede morta em minhas mãos à uma e meia."

Thomas Bernhard foi um leitor muito especialmente crítico de si mesmo. Disso dão testemunho, justamente nos textos dos seus inícios como autor, grifos enfáticos ou a rigidez militar das correções. Sua primeira obra em prosa, surgida antes do romance "Frost" (1963), ele não a destruiu, mas rejeitou-a com toda radicalidade. Um tiposcrito chamado "Der Wald auf der Straße" (A floresta na rua) traz, de parte do seu autor, o comentário enfurecido: "Romance de merda! Porcaria! Como pode acontecer uma coisa dessas? Um nada, cheio de pretensão! É isso, seu idiota!!"

Especialmente instrutivas e hilárias: As anotações de Bernhard "De como eu deveria me tornar diretor do Burgtheater" (um outro título dizia: "A cabana teatral no ring") do ano de 1975. O mote: "Na Alemanha tudo já é consideravelmente deplorável, no que diz respeito à cultura, e as coisas, em sua maior parte, são incompetentes, ostentadoras e mentirosas. Mas os mestres [da] mentira, da ostentação e da incompetência, e os grão-mestres da intriga, todos eles, sempre, estão assentados em Viena!" Com efeito: Áustria, o país das maravilhas.



N. do T.: cf., neste site, "Thomas Bernhard: elogio do fragmento".
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