Raimundo conheceu o vício quando ainda era criança. O pai dele era o traficante que abastecia aquela região onde eles moravam.
O velho dele tinha uma pequena loja – dessas que vendem solto biscoitos de polvilho e de outros tipos, bolacha Maria, jujuba, bala de goma, paçoca, Maria mole e uma infinidade de doces comuns – onde vendia para os pequenos viciados.
O grosso do negócio, desse forte traficante, era a distribuição por quilo para os vendedores de outras cidades e era dali, daquela lojinha, que ele abastecia e comandava a grande rede de venda que existia nas portas das escolas.
Das mercadorias que o pai do Raimundo distribuía a que causava maior dependência era as bolinhas coloridas e por isso era sempre a mais vendida. Foram nelas que o Raimundo se viciou.
Ele colocava, quando era menininho e ficava na loja do pai, escondendo uma delas na boca e a mastigava entre as falhas dos dentes de leite que ainda tinha. Depois de algum tempo, já dominado pela dependência, passou a encher a mão com elas e a engolir várias de uma só vez.
Hoje o pai do Raimundo está aposentado e é ele, um jovem de dezessete anos, quem cuida da distribuição, comanda a venda nas escolas e passa o dia todo na lojinha engolindo as bolinhas coloridas. Tem oitenta e dois quilos e é o maior viciado em balas de goma daquela cidade.
CARLOS CUNHA
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