Quase uma aventura
Eles se conheceram na Internet. Numa sala de chat. Ambos
casados, morando em cidades distantes. Conversavam amenidades como
"hoje amanheceu chovendo" ou "trabalhei demais e estou exausto". Das
amenidades à s intimidades foi apenas uma questão de dias. Papo
vai, papo vem, começaram a trocar impressões sobre suas vidas.
Falaram de seus sonhos, planos até que um dia aconteceu o inevitável. A mãe dela adoeceu e ela precisou viajar exatamente para
a cidade onde ele morava. Marcaram para se conhecer. Dois seres humanos que nunca se viram antes se encontrando num bar do centro da cidade. Foi quando ele, alto e magrelo, meio careca, de óculos, que por um golpe do destino casou-se com uma dessas mulheres tão bonitas que
merecem capa de revista, conferiu a sua amiga, baixinha, gordinha, de
aparelho nos dentes, que se dizia bem casada com um empresário bem
sucedido.
Por incrível que pareça, a conversa fluiu fácil. Ele falava demais, ela era boa ouvinte. dessas pessoas que têm sempre um
conselho na ponta da língua, uma palavra de apoio sempre pronta.
Alguém que sabe sorrir na hora certa. Das conversas sobre suas
vidas, surgiu o clima de romance. Primeiro um beijo, depois outro, e mais
outro. E aconteceu o inevitável. Pularam-se não somente cercas
como quebraram-se todos os muros. A esposa bonita e o marido empresário ficaram no ignora.Foi um caso de amor de duas semanas, talvez um pouco mais, que afetou pouco a cabeça da moça, que logo voltou para sua cidade, mas deixou o rapaz totalmente pirado.
Nas semanas seguintes, ele chorou suas mágoas nas mesas
dos bares. Pensou em largar a mulher, os filhos, o trabalho e se mandar
de mala e cuia para encontrar a moça gordinha e de aparelho nos
dentes e viver uma nova vida. Foi até motivo de gozação entre os
amigos por causa das lágrimas que derramou copiosamente entre uma cerveja e outra. Eles ainda conversaram pelo telefone, pelo icq, nos chats da internet. Mas, tempo e distància são cruéis para quem diz
que ama. De repente, foi como se um vento de inverno congelasse os sentimentos cálidos como uma brisa de verão. Na falta da moça de aparelho, o rapaz de óculos voltou à sua vida normal. Descobriu novos
encantos na esposa que foi poupada de sofrimento e nunca soube de nada sequer por amigas fofoqueiras. Desistiu de separar e voltou a ser o marido apaixonado de antes. Nunca mais soube da moça gordinha que ria nas horas certas. E tudo foi embora com o verão. Somente um interlúdio
passageiro. Quase uma aventura. Mas, certamente, um sonho.
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