Usina de Letras
Usina de Letras
177 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62269 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50658)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Fada Siciliana -- 07/10/2000 - 17:56 (Fatima Dannemann) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A fada siciliana

Fatima Dannemann©


Ma che bella ragazza... Olhei para trás ao ouvir aquela voz. Esquisito. Sete horas da manhã, toda Taormina ainda dormia e alguém me elogiava. Voz de mulher. Preferia que fosse a voz de algum daqueles belos rapazes com ares de artista de cinema que eu via pelas ruas da Sicília. Mesmo assim, conferi.
Era voz de Idosa. E alguém bem mais velha.
Sei brasiliana... Como poderia advinhar? Toda Taormina dormia. Havia apenas ruas desertas e umas poucos mulheres com ares de nona (avó em italiano) que varriam as portas de suas lojinhas esperando que o comércio abrisse, umas três horas depois. Olhei para trás e vi uma velha senhora. Ares de bruxa, sorriso de fada madrinha. Roupa felliniana. Parecia saída de um filme nonsense.
Maluca? Mendiga? caduca? Dispenso os rótulos. Prefiro lembrar de alguém com um sorriso doce que cantava uma música de ninar criança. Mais agasalhada do que pedia aquela manhã de outono siciliano, a velha senhora vestia um verdadeiro arco-íris entre saia, casaco, sueter, um lenço na cabeça, um sapato surrado, e meias vermelhas. Carregava uma sacola e empurrava um carrinho de bebê cheio de trapos. Mas, cantava como se embalasse o filho. Algo como um boneco. Mas eram trapos nessas sacolas de plástico em que as vezes falta o nome da loja. Um bebê imaginário a quem ela dispensava carinhos. Ajeitava um pedaço de cobertor desses desbotados pelo tempo.
Como sabe que sou brasileira?
Eu sei e és bela. Deve encantar rapazes com seu sorriso.
"Deve ser um sonho. Sonho curioso, mas sonho." Ia pensando enquanto parava no mirante para ver o sol nascendo com o Etna ao fundo.
Sou tão sonho quanto a paisagem que você está vendo. A velhinha disse mesmo aquilo ou eu imaginei? Sei lá. Sorri para ela que cantava em voz alta ninando o filho imaginário sentada no banco da pracinha. Ela me dizia: cante e sorria. você vai ser feliz. Ela falava em italiano. Eu falava em português.
A conversa misteriosamente fluía como se fossemos velhas amigas. O sino da igreja tocou e achei que era hora do café da manhã. Atravessei o portal fazendo o caminho de volta. O som da música de ninar não saia de minha cabeça. Nem o sorriso de fada da velha maluquinha com cara de bruxa. Cante e sorria... Você vai ser feliz. Tomara, fada siciliana, com ares de personagem dos filmes de Fellini.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui