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Erotico-->26. LIBERDADE -- 05/03/2004 - 08:34 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Teotônio não cabia em si de contente. Fora avisado por Severino que receberia a visita de um dos negociadores, para firmarem pacto que chamou de “pacto de sobrevivência”.

Enquanto não se dava o encontro, Teo imaginava como seria o tal dispositivo para que a quadrilha não se visse nas garras da polícia.

— Evidentemente, vão querer que me mantenha calado. Vão assinalar o que devo e o que não devo revelar. Tenho notado, nos pronunciamentos dos seqüestrados soltos, que não querem fazer longas descrições do cativeiro, menos ainda dos raptores. Quando os bandidos são apanhados e o local estourado, os noticiaristas e repórteres anseiam por mostrar fotos e filmes.

Percebeu, no íntimo, forte apreensão pelo que lhe ia ser solicitado, já que o desfecho do pobre Leonel demonstrava, cabalmente, que não estavam para brincadeiras.

— Devo concordar com todos os termos, inclusive com pagamentos posteriores. Não sei em que estado vou encontrar as empresas, mas algo deve ter sobrado, já que Lídia não iria dar fim a tudo, em tão pouco tempo.

Ia-lhe o pensamento por esse caminho, quando Severino apareceu sem capuz. Instintivamente, Teotônio abaixou os olhos.

— Não precisa temer o conhecimento de seu guardião. Esse rosto haverá de ser o sinal de que novas exigências se farão. O resultado você conhece muito bem.

Falava um dos maiorais, este, sim, encoberto pela máscara.

— Quer dizer que continuarei sendo seguido e perseguido?…

— Quer dizer que você deve obedecer às diretrizes que estou passando. Se não gostar, faça diferente e arque com as conseqüências.

— Tudo bem! Mas o fato de ter cooperado com tudo…

— Cooperou nada! Até pra gravar as mensagens precisou de nós.

— Tenho tido comportamento exemplar.

— No puro interesse pessoal. Se souber onde se encontra, vai denunciar imediatamente às autoridades.

— Não queira ler no meu coração!…

— Não preciso ler nada pra saber. Está na cara: somos os assassinos, os bandidos, os facínoras, os raptores malvados, os criminosos etc. etc., que foi como nos chamou o tempo todo.

— Estava sendo sincero…

— Eu também, quando informo que se arrependerá amargamente, se não me atender.

Teotônio percebeu que ir por tal caminho era ficar marcando passo. Resolveu ouvir calado.

Após uns momentos, o desconhecido prosseguiu:

— Você reúne condições de sair. É claro que irá receber o impacto da realidade, após tantos acontecimentos de que não teve conhecimento. Por exemplo, você desconfia de quanto tempo esteve conosco?

— Tenho calculado que não pode passar de um mês.

— Cinco anos.

— Impossível!

— Perfeitamente possível.

— Eu contei as caixas dos remédios. Não passaram de três ou quatro de cada.

— Só aí o seu cálculo estaria errado. Cada caixa dá pra vinte dias. Três caixas completariam dois meses. Não estou certo?

— Então, quatro caixas ou mesmo dez não dariam para cinco anos.

— Se tomasse todo dia.

— Como assim? Não tomei todo dia?

— Só quando se lembrava.

— Eu controlava pelo relógio.

— Esse relógio está atrasando muito. Uma hora nele representa, pelo menos, dez horas reais.

— Não acredito!

— Você vai ver no calendário.

— Santo Deus! Não é à toa que estou cadavérico e minha pele um lírio. Mas minha irmã…

— Sua irmã demorou três anos pra se desfazer de todas as firmas, pois não quis vilipendiar o valor das propriedades.

— E minha freguesia?

— Dispersou-se, naturalmente. Com essas coisas, você vai se preocupar mais tarde. Vamos ao que interessa.

Teotônio não conseguia reprimir as lágrimas:

— Tanto tempo perdido, meu Deus! Condenado sem crime…

— Se quiser discutir tudo de novo, esse que você apelidou de Severino vai ficar à sua disposição. Mais cinco anos são suficientes?

Teo gesticulou implorando que o outro prosseguisse.

— Muito bem. Vai ser levado pra um passeio no porta-malas e largado em lugar seguro.

— Muito obrigado!

— Não seja cínico, por favor. Respeite o nosso direito de forçá-lo a nos atender. Se preferir outra solução…

— Maldita boca! Por obséquio, desconsidere tudo que possa parecer agressivo.

— Assim está melhor. Você irá encontrar alguma alma boa que o encaminhará pra casa. Por mim, faria Severino acompanhar você, mas temo que se rebele, assim que se julgar em segurança. É preferível um desconhecido.

— Também acho.

— Ótimo! Quando tiver percebido o desastre de sua vida, vai tentar esquecer que esteve preso. Se se revoltar contra nós, irá sofrer inesperadas desditas, incompreensíveis, repentinas. Sendo assim, é bom conformar-se desde já. Em tempo oportuno, receberá outras instruções no que nos diz respeito. Fui claro?

— Claríssimo! Pode contar comigo para o sigilo possível. Se me mostrarem o retrato de Severino, não vou fazer nenhuma menção de reconhecê-lo. Aliás, vou dizer de cara que nunca vi ninguém sem máscara.

— Melhor assim.

Retirou-se o manda-chuva.

Severino forneceu nova muda de roupa que reproduzia, pobremente, a indumentária com que fora seqüestrado.

— Tome um bom banho, escanhoe o rosto, dê um trato nos cabelos…

Enquanto falava, Teo observava os traços rudes do guarda. Não encontrou violência no olhar, rancor ou ódio nas expressões. Avaliou os cuidados em torná-lo apresentável, concluindo que não gostaria o bandido de que a polícia desconfiasse da rudeza do local em que foi trancafiado.

Pronto, tendo notado que os cabelos haviam, realmente, crescido, lembrou-se de que fizera vários cortes mecanicamente. Não dera importância ao fato, porque estava muito preocupado com preservar a mente saudável.

— Severino, posso saber como está o Doutor Jônatas?

— Faz tempo que foi devolvido aos familiares.

— Pagaram-lhe o resgate?

— Integralmente.

— Ainda bem. O pobre homem estava desequilibrado.

— Está na hora. Vamos?

— Vamos.

— Coloque o capuz.

Com a visão obstada, foi conduzido durante largo tempo. O chão parecia acolchoado, porque não fazia ruído algum. Após vários minutos, foi obrigado a entrar no porta-malas. Então, fez um gesto com o braço estendido, como se quisesse apertar a mão do vigilante.

— Eu também tive prazer em conhecer você — disse o outro. — Tivessem sido outras as circunstâncias e teríamos alcançado, talvez, ficar amigos.

Teo não queria dizer nada. Recebeu o forte aperto de mão, percebendo que vibrava emocionada. Esperou que batessem a tampa, para dizer com voz trêmula:

— Tivessem sido outras as circunstâncias…

E as lágrimas umedeceram o rude tecido do capuz. Faltava pouco para se sentir livre de novo.

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