Um domingo destes estive na casa de minha mãe. Ela optou por morar só depois da morte de meu pai. É muito afeiçoada à casa, ao lugar, ao seu maravilhoso jardim e nada a tira de lá por mais de uma semana, sem que sofra.
Sempre que podemos estamos visitando-a e quase sempre nos falamos por telefone.
Ela se queixa da solidão, mas diz não saber viver sem suas flores, suas amigas, seus irmãos que moram na mesma cidade.
Estávamos conversando numa tarde de domingo e minha tia chegou acompanhada de suas duas enteadas.
Minha mãe foi buscar uma caixa de retratos antigos e começamos a observá-los.
Há fotos muito antigas. Fotos de meus antepassados.
Umas estão tão amareladas que nem conseguimos bem distinguir rostos, braços e pernas. Outras estão em ótimo estado de conservação.
Fico encantada com as noivas dos retratos. Seus sorrisos tímidos. Me fascina ver os noivos de braços entrelaçados. Os vestidos tão bonitos...
Numa das fotografias está minha tia Rita e meu tio Luiz. Ela tem um ar de menina ainda e ele é um moço lindo. Lindíssimo mesmo.
O sapato em duas cores. Era a moda. O terno branco... um ar de galã. Sempre comentávamos da sua beleza e ele sorria quando dizíamos.
Eu penso em como passou o tempo. Quantas pessoas guardadas naquela caixa já se foram. Quantas!
Seus sorrisos ficaram, suas caras espantadas. Gosto da espontaneidade na imagem que fica. É assim que podemos guardar as lembranças das pessoas que amamos.
Minha mãe comentou que guarda todas estas velharias e que depois que se for veremos o que faremos disso.
Mãe, a sua caixinha guarda a estória de nossa gente. É o nosso legado. Esta caixa não pode se acabar. Nem sabe como fez bem em ter guardado.