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Cronicas-->Nó na Garganta -- 17/04/2004 - 10:57 (José Geraldo Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, amanheci com um nó na garganta... Volta e meia me acontece isso. Mas, hoje a coisa está pior. Parece que o nó é grande demais. É tão grande que, mentalmente, consigo visualizar alguma coisa dentro dele. Alguma coisa, não. Vejo pessoas dentro dele.
Por exemplo, estou vendo o Maurito. E me recordo claramente do Arlindo, a quinta ou sexta pessoa na fila do guichê do banco onde eu exercia a função de caixa. Esse Arlindo, um grande amigo, pai do Maurito que tinha apenas dez aninhos, havia se mudado para uma cidade muito distante dali. Por isso, estranhei sua presença ali naquela fila. Não era período de férias, nem nada... Quando chegou a vez dele, estendeu-me a mão, arregalou os olhos e disse-me:
- Zito, o Maurito vai morrer.
- Como? Perguntei.
- Ele está com càncer, Zito, e é irreversível a situação dele.
Os demais integrantes da fila não entenderam quando viram dois homens feitos tentarem se abraçar por cima do guichê e chorarem como crianças.
Estou vendo também a Dona Carmela, minha mãe, que morreu na certeza absoluta de que seu filho era o melhor homem do mundo. Coitada, não percebia as falhas e as fraquezas de seu único filho homem, cujos defeitos eram transformados em virtudes na cabecinha daquela mãe amorosa e dedicada.
Vasculhando um pouco mais, vejo a Carmelina, minha irmã. Talvez por causa do nome, ela era quase igual à mãe. No amor ao irmão, se igualava à mãe que adorava o filho. Só que enxergava um pouco mais os defeitos do irmão, e se preocupava, a ponto de escrever algumas cartas, pedindo, ou melhor implorando ao irmão que se cuidasse um pouco mais, pois não aguentaria ver seu irmão morrer. E ela morreu bem antes, bem mais nova, num trágico acidente automobilístico, levando consigo a Bibi e a Marcinha, que estão lá, no cantinho do nó da minha garganta, as três juntinhas, de braços dados, lindas, lindas, lindas...
E as imagens vão se sucedendo em minha mente...
Vejo o Marquinho... Eh, Marquinho! Menino bom, meigo, doce, especial... Nunca vi o Marquinho falar "não". Filho exemplar, amigo de seus irmãos, amigo de seus amigos, dos amigos de seus irmãos e dos amigos de seus pais. Ele também está ali, preso nesse nó que não quer se desfazer. Eu queria que, dentro desse nó, houvesse um aparelho de som que tocasse todas aquelas músicas de que o Marquinho gostava. Principalmente as do Sérgio Reis.
De repente, vejo, quase ao lado do Marquinho, a figura de quem? Do Seu Lau, meu sogro. Gente fina! Humilde, mas grandioso dentro de sua honestidade e independência. Pobre sim, mas nunca se curvou a quem quer que seja. Acho até que só se curvou uma vez na vida: ao meu amor por sua filha, a Kiló. Kiló era o xodó do Véio Lau, sua querida Terra Preta. Mas, como diria o Zagalo, ele teve que me engolir!
Vejo a Bia, praticamente no colo do Vó Lau. A Bia, a quem chamei de flor e falei para a Yara que o único que tinha direito de colher essa flor seria Deus. E foi ele mesmo quem colheu a flor ainda em botão e deve guardá-la até hoje, irrigando-a todos os dias, com o maior amor e carinho, para mantê-la tão viçosa quanto o era em vida.
Deparo-me agora com a Luzia, a Lu querida, a cunhada que se identificava muito comigo, pois éramos bem parecidos. Fisicamente não, mas, nas atitudes éramos muito parecidos. E ela nos deixou sem querer nos deixar, tenho certeza. Tinha muita vida para gastar, tinha muita lenha para queimar. Alguns pensam que, pela perda da Bia, ela se entregou. Ninguém pode afirmar, mas a minha opinião é que ela se foi por uma fatalidade, pois, se não fosse a doença cruel que a acometeu, estou certo de que ela teria garra suficiente para dar a volta por cima. Bem, mas o fato é que ela também compõe o elenco que participa do nó de minha garganta. E olha, é uma das personagens principais!
Tem mais gente lá dentro. Muito mais gente, lógico! Tem até gente que ainda não morreu, mas, pela situação por que passa, merece um lugarzinho ali no recóndito daquele nó.
Mas, a sorte é que não são todos os dias que ele me aparece! Ainda bem, porque todas as vezes em que ele se faz presente, fico com a impressão de que estou prendendo todas essas pessoas dentro dele. E isso não é bom. Creio que mesmo as pessoas que já se foram para outro plano, também querem, merecem, e fazem jus à liberdade.
Onde já se viu prendê-las no interior de um nó? E logo de um nó que aparece na garganta de um mortal insignificante como eu? Tenha dó!
Ah! No dia 24 de novembro de 2003, eu me vi lá dentro. Estremeci. Mas, graças a Deus, adquiri a liberdade, e aqui estou.
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