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Artigos-->Evidências e exageros -- 30/09/2002 - 10:51 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É adágio conhecido o que afirma que “abrir uma escola equivale a fechar uma prisão”. Em períodos eleitorais, frases – e promessas – com conteúdo equivalente são repetidas à exaustão. É evidente o exagero. A prática está aí para desmentir a afirmação. Sociedades de escolaridade elevada cometeram atrocidades sem par – não é necessário fazer a referência incontestável aos nazistas alemães; mesmo hoje, norte-americanos bem formados cometem, com desenvoltura, barbaridades dentro e fora de seu país, como testemunham os afegãos atacados por causa do horrível atentado no World Trade Center e no Pentágono (cujos acusados de autoria, diga-se de passagem, tinham também freqüentado escolas). Se os nativos do que seria, a partir do século XVI, o Brasil cometeram crueldades uns contra os outros – eles, que ainda não haviam chegado à escrita e à escola –, certamente elas não tiveram as dimensões das atentadas nos campos de concentração do século XX ou mesmo nas que são cometidas hoje, em sociedades das mais avançadas tecnologias.



Causas e efeitos não têm relações assim tão diretas no caso. São necessárias condições reais, e não apenas aprendizado escolar, para debelar mazelas tão profundamente arraigadas na sociedade atual e de origens ancestrais, como a violência e a crueldade. Ainda em 1844, nas suas primeiras produções, os alemães Karl Marx e Friedrich Engels escreveram n’A Sagrada Família: “Se o homem forma todos os seus conhecimentos, sensações etc. do mundo sensível e da experiência no seio desse mundo, o que é então importante é organizar o mundo empírico de tal modo que o homem aí ganhe experiência e assimile o que é verdadeiramente humano, que aí ganhe experiência na sua qualidade de homem. Se o interesse bem compreendido é o princípio de toda a moral, o interesse privado deve confundir-se com o interesse humano. Se o homem não é livre no sentido materialista, isto é, se não é livre pela força positiva de fazer valer a sua verdadeira individualidade, não se deve castigar o crime no indivíduo mas destruir as raízes anti-sociais do crime e dar a cada um o espaço social necessário à manifestação social do seu ser. Se o homem é formado pelas circunstâncias, é necessário formar as circunstâncias humanamente. Se o homem é por natureza sociável, só desenvolverá a sua verdadeira natureza na sociedade, e o poder da sua natureza deve medir-se não pela força do indivíduo singular, mas pela força da sociedade”.







Analfabetos funcionais





É no conjunto da sociedade, na sociedade com “circunstâncias humanas”, que se inibirá a violência, e não num miraculoso poder que teria o ensino escolar na formação do caráter dos indivíduos. Ao se admitir as limitações do ensino, não se vá, porém, descuidá-lo, relegá-lo a segundo plano. Ou, ainda, transformá-lo em algo distanciado da vida.



O conhecimento deve ser científico – e aqui está o grande desafio de educadores e educandos. O senso comum não é o objetivo do aprendizado, embora possa ser usado como seu ponto de partida. A abordagem da realidade buscando sua essência, seu conhecimento, não é tarefa fácil. Exige estudo, observação, experimentação. Mesmo a leitura, que parece tão comum nos dias de hoje, não é uma prática isenta de esforço e dedicação. Que o digam os milhões de analfabetos funcionais – pessoas que freqüentaram escolas, aprenderam o “bê-á-bá”, mas limitaram-se a usá-lo para decifrar pequenos anúncios e lembretes, sem adquirir o costume de envolver-se com textos mais longos e densos. Não desenvolveram a prática da leitura de argumentações, explanações, controvérsias. Essa deficiência, ai de nós!, é encontrada mesmo em professores – os profissionais encarregados de despertar a curiosidade e transmitir saber acumulado.



Conhecimento é uma exigência permanente da vida, e não apenas uma obrigação a ser cumprida nos bancos escolares. Desvendar a realidade por trás do senso comum, isolar os eventos das crendices e paixões é desafio permanente colocado pela realidade. No seu “O mundo assombrado pelos demônios”, Carl Sagan indica algumas ferramentas para o pensamento cético. Procedimentos aparentemente simples, como confirmação independente dos fatos, análise a partir de vários pontos de vista, consideração de várias hipóteses etc. A lista é relativamente fácil de ser elaborada. Difícil é manter o rigor de aplicá-la e incorporar esse comportamento no cotidiano da vida. Ainda mais quando a sociedade conspira para afastar o indivíduo do estudo e da ciência (embora cobre isso do infeliz que está à procura de um emprego).



Por que a sociedade conspira contra o saber? Bem, os tiranos, os autoritários, os poderosos, os fundamentalistas (“as classes possuidoras”, diria Marx) temem o pensamento independente, o questionamento, a difusão do conhecimento. Não foi por acaso que Portugal proibiu a imprensa no Brasil colonial. Não é por acaso que tão pouco é investido e tão pouco é exigido da educação nos dias de hoje. “Não há nada mais terrível que a ignorância ativa”, escreveu o sábio alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).



Leia também O diabo e os ETs andando em círculos.
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