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Erotico-->18. UM CAPRICHO DO GUARDA -- 26/02/2004 - 07:20 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Você deve estar se perguntando por que é que estou tendo o trabalho de considerar a sua permanência perto de mim como proveitosa. É que não tenho o hábito de passar muito tempo sozinho. Tudo o que planejo, preciso de gente para concretizar. Por isso, passo a maior parte do tempo trocando idéias, orientando ou aprendendo. Não sou de muito falar, contudo tenho facilidade, a ponto de me manter aceso e compenetrado, acompanhando todos os assuntos. Espero não estar dando-lhe a impressão de que me deva considerar alguém superior.

— Você está sendo honesto comigo?

Teotônio sentiu que o outro estava querendo a confirmação afetiva do que, pelo raciocínio, expusera com tanta riqueza.

— Claro! Não pense que me seja agradável ficar preso e, ao mesmo tempo, tentar ser supérfluo ou imbecil. Os pensamentos, no meu caso, devem refletir tudo o que acho ser o essencial. De que me adianta ficar inventando idéias só para você me ouvir. O que quero é ter alguém que possa meditar comigo seriamente sobre a minha desoladora condição. Não para que tenha pena de mim, mas para que saiba como é que a pessoa se sente afastada do convívio dos seus, arremessada num escuro buraco, cheia de medo do que lhe possa acontecer.

— Estou tendo uma idéia que deu certo outras vezes e me ajudou na minha função.

— Se puder ajudar em alguma coisa...

— É simples. Você quer alguém com quem possa se entreter. Pois existe outro rico, desesperado, que não compreende a razão de estar sendo retido, quando imagina que o resgate já tenha sido pago.

— Foi pago?

— E eu é que sei?!... O que sei é que me mandaram manter o cara calado e ele está feito louco.

— Ponha-me com ele. Não é isso que você pretende?

— Vista a máscara.

Teotônio sentiu-se reviver. “Agora vou poder medir a distância entre os quartos e avaliar como é que se podem juntar os prisioneiros, no caso...”

— Não tenha idéias. Devo prevenir que vai ficar de capuz o tempo todo, até que o cara se acalme. Depois vou trazer você de volta. Vai ser só um pequeno passeio.

Teotônio contou vinte vacilantes passos, como se tivesse passado muito tempo doente. Mas convalescia e isso era encorajador.

Ouviu destravarem um trinco e ranger uma porta. Foi empurrado sem grosseria.

— Doutor Jônatas, está aqui o costureiro Teo, em nosso poder desde algum tempo. Vocês vão ficar juntos. Tratem de trocar todas as idéias que julguem convenientes para esclarecerem a reclusão forçada. Não façam planos de fuga. Serão inúteis. Mas amparem-se na angústia de sua condição. Vocês poderão ficar sem os capuzes, se se mantiverem tranqüilos.

Teotônio ouviu bater a porta. Em seguida, tirou o gorro. A escuridão era completa. Tateou no escuro e encontrou o lampião e os fósforos. Com cuidado, acendeu o pavio. Enquanto a luz crescia, foi observando que o quarto era a exata reprodução do outro. Sentado sobre o colchão, viu um mascarado, que estendia os braços para a frente.

— Fique calmo, Doutor Jônatas. Eu também sou prisioneiro.

— Quanto pediram de resgate?

— Três milhões.

— Pois de mim querem quinhentos mil. Mas como é que minha mulher vai arranjar tanto dinheiro?

— Eles não lhe mostraram as contas do valor de suas posses?

— Disseram que tenho quinze milhões. Mas é mentira. No máximo, as minhas empresas valem dez ou doze.

— Pois eu não possuo mais do que dez, no total, e eles querem três. Tem alguma coisa errada aí.

Do outro lado da porta, alguém deu uma risada.

— Estão caçoando da gente — observou o Doutor.

— Vamos ficar em paz com eles, por uns momentos. Essa política me tem valido favores preciosos, como remédios, banhos e comida de melhor qualidade.

— Foi pra isso que te trouxeram aqui: foi pra me acalmar, pra me submeter.

— Que é que podemos fazer?

— Eles que me matem, pra ver se conseguem arrecadar alguma coisa.

— Mas essa não é uma boa solução para nós.

— Você vai ver. Quando conseguirem o dinheiro, eles matam a gente, mesmo assim.

— Pelos noticiários que tenho lido, são poucos os que morrem. A não ser quando são capazes de reconhecer os raptores.

— Os nossos estão muito escolados. Você é o costureiro Teo, o famoso figurinista?

— Eu mesmo.

— Então, é pelo seu nome que está valendo mais. Os jornais devem estar noticiando a toda hora. Eu sou um modesto produtor de alimentos industrializados. Emprego milhares de pessoas. A notícia de meu desaparecimento deve estar provocando a revolta de muita gente. O disque-denúncia deve estar fervilhando de chamadas. Por isso, valho menos. Acho que eles querem se livrar logo de mim.

— Deus te ouça!

— Você sabe que o sujeito tinha razão em nos juntar?! Esta conversa está sendo útil. Eu até encontrei uma luz no fim do túnel. Quem sabe eles não me atirem e me deixem sair?!...

— Você está ferido?

— Levei uma cacetada na cabeça.

— Eu estou contundido no peito, aqui do lado.

Teotônio levantou a camisa. Foi só aí que atentou que o outro estava ainda com a máscara.

— Vamos tirar o capuz.

— Não posso. Está com o cadeado.

— Não está, não. Eles tiraram e você nem percebeu.

— Será?!...

De fato, estivera tão entretido com a revolta que não examinara o fecho.

Teotônio ajudou-o a retirar o grosso capacete, igualzinho ao seu, descobrindo que o Doutor era calvo e fortemente infestado de pústulas, por todo o crânio.

— Não é à toa que tem estado bravo. A sua cabeça precisa de tratamento. Tem tomado banho?

— Tenho me lavado na pia.

Teotônio foi verificar a condição do banheiro. Havia um chuveiro. Abriu-o e a água jorrou.

— Vou ajudar você a tomar um banho.

— Pode deixar que eu faço isso sozinho.

Enquanto o outro se tranqüilizava sob a água quente, Teotônio foi obrigado a voltar ao seu quarto.

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