Usina de Letras
Usina de Letras
30 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62330 )

Cartas ( 21334)

Contos (13268)

Cordel (10451)

Cronicas (22543)

Discursos (3239)

Ensaios - (10406)

Erótico (13576)

Frases (50709)

Humor (20055)

Infantil (5474)

Infanto Juvenil (4794)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140845)

Redação (3313)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6220)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Erotico-->17. CONFIANÇA -- 25/02/2004 - 07:47 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A voz pareceu muito próxima, como se o sujeito estivesse dentro do quarto.

— Posso acender a vela? — perguntou timidamente.

— Vou fazer mais. Vou trazer um lampião e, em lugar de você colocar o gorro, vou vestir o meu capuz, de forma que poderemos ficar mais à vontade e você vai poder me contar as coisas que achar importantes.

— Eu vou ficar eternamente agradecido.

— Não seja hipócrita. Dentro de vinte e quatro horas depois de solto, irá esquecer até que existi.

— Mas não vou mesmo.

— Ô se vai, do mesmo jeito que não quer recordar-se de certa pessoa, conforme declarou outro dia.

Teo não teve o que responder. Ouviu a porta fechar-se sem estrondo e pôs-se a aguardar impaciente pela volta do outro. Enquanto isso, achava muito estranho que despertasse o interesse dele a ponto de recordar-se de frase dita de maneira incompleta e, portanto, misteriosa.

— Quem mandou ficar falando em voz alta?! Agora ele está a par de segredos que só existiam dentro de minha mente. Será que vou ter de conversar com ele a respeito de tema tão amargo? Sobre isso, não falei sequer ao analista. Aliás, suspeitava ele desde sempre que lhe escondia algo importante, tanto que não me deu alta. Fiquei devendo a marcação de outras consultas. Tinha medo de que me revirasse o passado e descobrisse que fui vil...

Deu-se conta de que falava em voz alta.

— Se o meu algoz estiver escutando, vai ficar sabendo...

— Claro que estou escutando.

— Mas você não saiu?

— Não foi uma vez só que fingi ter saído, batendo a porta e permanecendo aqui. Agora, quero saber se ainda está disposto a me agradecer pela eternidade.

— Peço-lhe desculpa por lhe ter dado a impressão de falsidade, porém, tudo o que pedi a Deus foi absolutamente sincero. Posso ser bastante franco?

— Esteja à vontade.

— Quando pedi que Deus o amparasse, queria dizer que lhe tirasse os vícios de procedimento, como esse estratagema vergonhoso de me colocar em tão má situação moral.

— Não me faça rir. Você está seqüestrado. Não está em condições de censurar coisa alguma. Quer dizer que o seu mundo moral está em nível superior a toda esta opressão física que está sofrendo?

— Os cuidados que estou tendo com a morte — porque não estou acreditando que sobreviva — me conduzem os pensamentos para as coisas da espiritualidade. Estou querendo me preparar para o pior, para o advento da outra vida. Só posso fazer isso se pensar seriamente nas coisas que fiz, separando o que não é honesto, para solicitar perdão ao Pai, em preces de muita contrição. As vezes em que me confessei aos pés dos sacerdotes, sempre fui sincero, procurando arrepender-me dos atos que ofendiam a Deus, porque era muito presunçoso, julgando todos os semelhantes pessoas inferiores. O meu “carrasco” — ponha a palavra entre aspas — deve merecer de mim o respeito que devo a todas as criaturas do Senhor.

Enquanto falava, o quarto ia iluminando-se por causa do lampião, cujo pavio se incendia bem devagar. Pôde Teotônio verificar que o “carrasco” era um homem atarracado, de tez morena, conforme observou pelas mãos sem luvas. Entretanto, o capuz obstava a visão da fisionomia.

— Agradeço-lhe, senhor, a confiança que está depositando em mim. Pode ter a certeza de que estou reconhecido pela amabilidade dos serviços que me vem prestando.

— Poupe os “muito-obrigados”. Quem sabe, depois que os seus pagarem, você reserve pra mim outros quinhentos mil, para demonstrar a verdade dos sentimentos.

Pensou Teo na manobra psicológica de que estava sendo vítima e arrefeceu o entusiasmo em relação às gentilezas de que estava sendo alvo. “Afinal de contas, o cara está infringindo as leis. Com certeza, se eu tentar fugir, vai ser ele mesmo quem irá me imobilizar ou atirar pelas costas. Preciso tomar mais cuidado, que esse sujeito não passa de marginal, velhaco a ponto de me engodar com pequenos favores.” Em voz alta:

— De qualquer forma, posso prometer não descrever você para a polícia. Pelo menos, vou comentar que fui muito bem tratado.

— Ótimo! Desse jeito, vai encorajar as pessoas, para que não dêem trabalho quando se virem presas nos cativeiros. Sempre é bom estimular as reações de aceitação da realidade. Você não está de acordo? Se as pessoas vierem para cá revoltadas, seremos obrigados a despachá-las logo ou a prendê-las de forma que vão ficar muito mais preocupadas do que deveriam.

— Posso saber se você já “despachou” alguém?

— O que é que você acha?

— Pelo modo como me trata, bem diferente do outro, acho que ninguém deu motivo.

— Pois é aí que você se engana. Trouxe outra muda de roupas. Está na hora de você tomar um banho quente, porque deve estar com febre. Está?

— Fiquei tão contente com sua presença que nem senti o que se passava comigo. Agora que está dizendo, sinto-me quente. A idéia do banho é muito boa. Mas precisa tirar a corrente do pé.

— Arregace a calça e passe pela corrente. Se molhar, não tem importância. Depois eu deixo você trocar.

— Você vai ficar me vendo tomar banho?

— Vou. Por quê? Está envergonhado?

— Vergonha nenhuma. Era só para saber.

— Então, o que é que está esperando?

Teotônio resignou-se a despir-se na frente do outro, temeroso de algum assalto sexual.

“Que medo mais absurdo! Será que subjetivamente eu esteja desejando exatamente isso?”

O pensamento lúbrico perturbou-o e ele se lavou rápido, constatando que o corpo estava esquálido. Aproveitou-se da água do chuveiro para esconder as lágrimas. Penalizava-se pela proximidade do desaparecimento corpóreo.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui