Silêncio. Não se ouve voz nenhuma.
Depois que meus vizinhos chegaram, já não ouvi mais nada. E isto foi à s duas e meia da manhã. Agora já sao quatro ou quase tanto. Estou sem sono E nem me aflijo com isto. Mais ou menos como os jogadores de xadrez do Fernando Pessoa.
Joguei bastante xadrez com o computador. Igual aos slot machines de Las Vegas e de Atlantic City, a cada tanto, o computador te deixa ganhar. Ganhei do computador. Porque ele deixou. É claro. Porque o computador está programado para ganhar até de qualquer campeão cujo sobrenome termine em - ov ou -off ou -nski . O computador não se deixar impressionar por sobrenomes de campeões. E com o meu então, nem pisca. Vai ganhando e me derrotando.
E o silêncio da madrugada continua. Até que o garoto do jornal passe (daqui a uns minutos vai passar e verá luz pela janela da sala), vai jogar o jornal no vestíbulo aberto, vai dar um assobio e seguir caminho. HOje vou vê-lo da janela - estará com seu cachorrinho branco ao lado. Ele e o cachorro se parecem com Tin-tin e o cãozinho (cujo nome me esqueci agora).
Lembro do médico belga que conheci (onde? na Bélgica, é claro) e que era um grande conhecedor das histórias do Tin-tin. Conhecia tanto as histórias quanto seu campo de pesquisa, moléculas e nao sei mais o quê. - Professor de Medicina e leitor de Tin-tin. Destas coisas da vida.
O que a madrugada me faz lembrar.
Outros silêncios. Nao tão prazenteiros como este. Silêncio a dois. (Sobre este eu conto depois.)
Este silêncio é tão agradável que gostaria que o dia não surgisse mais. Mas logo o sol vai aparecer. Tudo está tão agradável que nao quero dormir nunca mais.
Vou ficar acordada até o sol raiar. E aí vou dormir até o sol se pór.
Troquei o dia pela noite. Só por hoje. Porque é fim de semana. Dia do bom burguês. Domingo. Da boa burguesa também. Domingo. Pé de cachimbo.