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Erotico-->16. UM DEDO DE PROSA -- 24/02/2004 - 09:31 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Esse sujeito — refletia Teotônio — é bem capaz de me livrar do isolamento. Acho que, se lhe der corda, vai conversar comigo, ajudando-me a passar as horas, podendo até ocorrer de me informar a respeito de como papai está se virando para arranjar o dinheiro.

Aguardou o momento mais propício e, quando o carcereiro lhe pediu para pôr o gorro, estava com o discurso preparado.

— Por favor, você poderia gastar uns minutinhos comigo?

— Pra quê?

— Tenho tido a sorte de ter alguém que me está tratando com dignidade...

— Os caras bem que me preveniram que você ia querer me enrolar.

— Pelo amor de Deus! Estou apenas desesperado com a solidão. Estou precisando que uma pessoa humana fique um pouco comigo, porque os meus pensamentos estão me transformando num louco, porque estou acreditando conversar com entidades espirituais...

— Você não tem nenhuma importância pra mim, embora me dissessem que é um dos principais no mundo da moda da gente grã-fina.

— Sou mesmo. No entanto, estes últimos tempos aqui tenho estado sob a pressão de morte iminente. Desculpe se estou falando de modo muito empolado. É que minha cabeça está desenvolvendo o hábito de refletir sobre os assuntos mais importantes da vida e não tenho tido oportunidade de testá-los.

— Mas você tem falado em voz alta.

— Tento não endoidecer de vez. Se não me sentir vivo, vou entrar em depressão e posso até forçar que me dê o corretivo disciplinar coerente com a condição de seqüestrado.

— Só se você me preocupar, a ponto de desrespeitar as regras que impusemos.

— É bem sobre isso mesmo que estou falando. Eu só desejo sentir que meus pensamentos estão tendo repercussão em outra mentalidade, ainda que não sejamos capazes de viver os mesmos anseios existenciais. Por exemplo, estou intrigado por que é que vocês se arriscam tanto para ganhar dinheiro. Será que vale a pena ficar com uns cento e vinte ou duzentos mil reais...

— Vinte mil.

— Como vinte mil?

— Você está pensando que estou aqui guardando você, ao mesmo tempo que trato com a família a respeito da quantia estipulada? Sou só um peão, meu caro.

— Existem outros prisioneiros, em outras dependências da casa?

— Você está querendo saber se são vinte mil por cabeça. São vinte mil pela temporada, esteja um só, estejam vinte.; leve uma semana ou fique mais de ano.

— Eu perdi a noção do tempo que estou retido.

— Problema seu.

Teotônio ouviu bater a porta. Tirou a máscara e respirou fundo. Acendeu a vela e verificou que havia uma grande tigela de vidro cheia de substancioso caldo. Estava quente. Provou com a colher de plástico. Sentiu fino gosto de condimentos variados. Parecia mistura de alcaparras, alcachofras e cogumelos. Não soube definir. Mas estava delicioso.

— Esse sujeito está me tratando muito bem. A ser verdade o que me contou, parece até trabalhador comum, exercendo profissão como qualquer outra. Vou ter de agradecer-lhe todas as gentilezas. Contudo, não posso promover-lhe nenhuma revolta, sugerindo-lhe sequer que me deixe sair, recompensando-o regiamente. Se está ganhando apenas vinte mil e se lhe oferecer quinhentos mil, quem sabe não se sinta um traidor?! No entanto, a lei das selvas deve imperar entre os criminosos. Para eles, a traição só se lava com sangue. Evidentemente, o feitor deve ser bem conceituado, para que se arrisquem os outros a ser ludibriados. Ladrão que rouba ladrão...

Teotônio teve o cuidado de não emitir tais conceitos em voz alta. Mas resolveu dizer umas palavras de reconhecimento, cuidando de apagar a vela, para que o de lá de fora achegasse o ouvido à fresta da porta:

— Senhor, pai de amor e bondade, abençoai o meu bondoso carcereiro, dai-lhe vigor para superar todas as dificuldades da vida, abri-lhe a mente e o coração para a verdade e perdoai-lhe os atos que contrariarem as vossas sacratíssimas leis. Oferecei-lhe o amparo de elevado espírito de luz, para ajudá-lo na caminhada redentora, em busca de vosso reino de paz e de justiça. Mostrai-lhe que meu coração, verdadeiramente, está alegre pelo que fez por mim, tratando-me a doença e alimentando-me com fartura. Especialmente, colocai-lhe no coração o meu sentimento de profundo afeto, por me ter proporcionado momentos de olvido desta terrível condição de exilado do convívio humano. Assim seja!

— Assim seja! — repetiu a voz que lhe dera a satisfação da conversa.

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