Poesia tão antiga quanto a humanidade;- Poema: jôgo lúdico do cotidiano.
Maria do Socorro Xavier
Quando teria surgido a poesia na humanidade? Desde que o homem se maravilhou com a linda natureza ao seu redor, sem encontrar resposta para aquele encantamento, estaria fazendo poesia? Sua linguagem vai evoluindo, juntamente com sua sensibilidade e esta vai se apurando em mergulhos espirituais, psíquicos e mentais.
Seria possível a poesia entre os povos ágrafos? Por que não? O mistério, o maravilhar-se com o mundo, com o cosmos, o criar dentro de si interrogações e atitudes inebriantes, já pode ter sido uma pré-história da poesia. Apenas faltava-lhe manifestar por símbolos, pela palavra escrita, sua leitura do mundo e de si. Esse estágio plenamente atingido pelos povos civilizados, cujo parâmetro ocidental, os greco-romanos e, recuando no tempo e espaço,- os povos orientais, legando à posteridade belos versos.
Entre os povos da Mesopotâmia, do vale Tigre e Eufrates, encontra-se a epopéia de Gilgamesh. A Bíblia é fonte de criações literárias inspiradas: os salmos de David, os provérbios de Salomão e outros. A poesia e o poema são universais e históricos.
A poesia está para a história assim como o poema está paraa historiografia. A poesia pode ter surgido de momentos inexplicáveis, independentemente do homem dominar a escrita ou não. Constituindo-se num processo de evolução da humanidade, a partir da relação do sujeito com o objeto, inserido na natureza, na luta pela sobrevivência. O homem teve que usar de estratégias, portanto com o concurso da criatividade. neste sentido a história existe desde que o homem e sua poesia existem.
A representação gráfica do poema só é possível com o advento da escrita. A historiografia registra os fatos sob diversas concepções ideológicas, em todos os ramos do conhecimento humano: filosofia, ciência, literatura etc. vividos pela humanidade. esta façanha maravilhosa só é possível entre os povos ágrafos. Não se exclui a poesia. Ela está implícita na historiografia, poesia e poema, é óbvio como uma síntese: o instante contemplativo, o momento da criação poética, lavrada no papel em forma de poema, seja ele barroco, parnasiano, romântico, simbolista, moderno, surrealista, concretista, construtivista etc. A esta altura se atingiu um grau maior de refinamento de forma e conteúdo, às vezes mais de forma, às vezes mais do conteúdo e assim a humanidade vsai expressando seu sentir, vai cristalizando o seu passar sobre a terra.
O homem é por excelência capaz de simbolizar e produzir conhecimento. Só ele é capaz de manifestar a teia complexa dos seus pensamentos, imagens, idéias etc. Cada época, seus literatos e intelectuais captam o inconsciente coletivo das massas, transmitindo às gerações futuras seus valores, cristalizando assim as diversas épocas, tendências e expressões artísticas. Por exemplo, um dos traços mais marcantes de hoje é a complexidade e a diversidade. Observamos no modernismo uma tendência lúdico-irônica. Há uma forma que não é rígida, ganhando em conteúdo e liberdade de expressão. isto, a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, possibilitou no Brasil, o enriquecimento da poesia (poema) e da ficção. Por outro lado, vemos as novelas brasileiras, explorando temas de romance, dos escritores de ficção regionalista.
O lúdico está presente em todas s formaa e a semiótica, em todos os textos literários. É uma questão de releitura do expresso e do não expresso.
Quais os temas mais abordados pelos poetas? Todos. Se fizermos uma pesquisa, iremos encontrar os filosóficos, eróticos, desde a mais profunda introspecção narcisista, seus conflitos, medos, angústias, sofreguidões, até fatos observados do cotidiano. Este é fonte riquíssima; motivo de inspiração para manifestações poéticas, mais hilariantes ou trágicas. A vivência no trabalho, estudo, escola, família, vizinhança, associações; a violência, injustiças e até experiências na vida de tédio e solidão, constituem incremento à criatividade, imagens pelo poeta.
A poesia nasce dessa imaginação alada e aliada ao sentimento e clima momentâneo, da intimidade do sujeito com seu objeto, da afeição e da ingratidão, da carência e da ternura, do amor e do ódio, do desespero e da esperança. O fato é que a poesia existe, está em tudo e em todo o momento. A literatura é uma constante em nossa vida diária: alimenta instituições, é meio de vida (embora para poucos), alimenta egos e vaidades.
O poema é brinquedo, é jogo. Talvez o lazer que falta ao indivíduo, sem poder aquisitivo, compensa-se com o fazer poesia, no e com o cotidiano. É um brinquedo de gente grande. A poesia como arte tem funções didáticas e de prazer. Inclusive o que seria do ensino-aprendizagem, se não houvesse o colorido do prazer? E isso é propiciado entre outros, pelo lado lúdico do poema.
Será que “a poesia se faz com palavras e não com idéias”? Isto é lúdico!...
|