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Teses_Monologos-->Linguistica Textual -- 03/04/2003 - 22:53 (Isabela Fani Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LINGÜÍSTICA TEXTUAL: Introdução
Nota Introdutória

O objetivo desta obra é apresentar ao leitor uma visão panorâmica do recente ramo da ciência da linguagem que se denomina lingüística textual.
Procura-se mostrar as causas do surgimento das chamadas gramáticas textuais, apresentar a sua conceituação e evidenciar-lhes a relevância, além de indicar as diferentes abordagens teóricas de que vêm sendo objeto; apresentam-se, também, diversas das acepções com que vêm empregando os termos texto e discurso.

Capítulo 1 – A Lingüística Textual

I – Origem

A lingüística textual constitui um novo ramo da lingüística que começou a desenvolver-se na década de 60, na Europa, e, de modo especial, na Alemanha.
Sua hipótese de trabalho consiste em tomar como unidade básica, ou seja, como objeto particular de investigação, não mais a palavra ou a frase, mas sim o texto, por serem os textos a forma específica de manifestação da linguagem.

II – Causas do surgimento das gramáticas textuais

Entre as causas que levaram o lingüistas a desenvolverem gramáticas textuais, podem-se citar: as lacunas das gramáticas de frase no tratamento de fenômenos tais como a correferência, a pronominalização, a seleção dos artigos (definido e indefinido), a ordem das palavras no enunciado, a relação tópico-comentário, a entoação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções, a concordância dos tempos verbais e vários outros que só podem ser devidamente explicados em termos de texto ou, então, com referência a um contexto situacional.
Dressler pondera que, nas gramáticas de frase, ficam excluídas vastas partes da morfologia, da fonologia e da lexicologia. Já a lingüística textual comporta diversas manifestações: cabe à semântica do texto explicitar o que se deve entender por significação de um texto e como ela se constitui. É tarefa da pragmática do texto dizer qual é a função de um texto no contexto (extralingüístico). A sintaxe do texto tem por encargo verificar como vem expressa sintaticamente a significação de um texto e como pode expressar o que está à sua volta. Estreitamente correlacionada à sintaxe do texto, está a fonética do texto, que, de modo análogo à fonética da frase, ocupa-se das características e dos sinais fonéticos da configuração sintática textual.

Ex. 1: As abelhas usam uma espécie de dança para informar às outras abelhas da colmeia sobre alguma fonte de pólen ou néctar que foi encontrada. Pois bem:

¨ A dança concretamente realizada – a seqüência dos movimentos e os tipos de movimento – formam a sintaxe das mensagens;

¨ O conteúdo referencial dessa mensagem – a informação sobre a direção da fonte de alimento, a distância em que ela se encontra etc. – é a semântica da mensagem;

¨ O modo como a dança funciona, enquanto um aspecto do comportamento das abelhas – como um meio de invocar as demais abelhas para irem explorar aquela fonte de alimento – tem a ver com a pragmática da mensagem.

Finalmente, pode se indagar quais as contribuições que a lingüística do texto pode dar a disciplinas afins não lingüísticas e de que modo pode ser enriquecida por elas: está aí o papel interdisciplinar da lingüística textual.

Ex.2:
Ajude a salvar tartarugas marinhas do Brasil.
Adote uma.

Há 15 anos, o Projeto Tamar protege as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção.
É um trabalho contínuo, que abrange da postura dos avós até o nascimento dos filhotes. Hoje, mais de 200 pescadores, que antes destruíam os ovos e matavam as fêmeas, são contratados pelo Tamar para realizar esta proteção durante todo o ano. Além de preservar os locais de desova, o Tamar protege parcialmente os locais de alimentação das tartarugas, onde o problema maior é a morte acidental durante as atividades de pesca.
O resultado desse esforço se traduz na permanência de 50% dos ninhos na praia, sem ameaça de predação, e na liberação de um milhão e meio de tartaruguinhas ao longo das praias brasileiras.
Contribua com R$ 50,00 e adote uma tartaruguinha e ganhe uma camiseta.

(Revista Veja, 8/03/95)

III – Momentos

Conte distingue três momentos fundamentais na passagem da teoria da frase à teoria de texto, frisando que não se trata de uma distinção de ordem cronológica, e sim tipológica, por não haver, entre eles, uma sucessão temporal, constituindo-se cada um deles em um tipo diferente de desenvolvimento teórico.
Apresenta, como primeiro momento, o da análise transfrástica, em que se procede à análise das regularidades que transcendem os limites do enunciado. A pesquisa circunscreve-se, ainda, a enunciados ou seqüências de enunciados, partindo-se, pois, destes em direção ao texto, definido, por exemplo, por Isenberg (1970) como “seqüência coerente de enunciados”. Seu principal objetivo é o de estudar os tipos de relação que se podem estabelecer entre os diversos enunciados que compõem uma seqüência significativa.
Entre essas relações, ocupam primeiro plano as relações referenciais, em particular a correferência, que é considerada como um dos principais fatores de coesão textual.

Ex.3: Imagine-se uma carta escrita por um brasileiro de Campinas a um amigo de são Paulo que se encontrasse no exterior, em que o primeiro se esquecesse de colocar data, local e assinatura, e que dissesse o seguinte:

Hoje o dia aqui está chuvoso. Nosso vizinho da esquina mudou-se para aquele palacete que comprou de meu avô. Não se esqueça de escrever logo para o nosso amigo de infância que mora na fazenda. Ele precisa daquela informação ainda esta semana.

A gramática textual surgiu com a finalidade de refletir sobre fenômenos lingüísticos inexplicáveis por meio de uma gramática do enunciado.

Ex. 4: Lidiane, “as luzes, por favor.”

Sendo o texto muito mais que uma simples seqüência de enunciados, a sua compreensão e a sua produção derivam de uma competência específica do falante – a competência textual – que se distingue da competência frasal ou lingüística em sentido estrito. Todo falante de uma língua tem a capacidade de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enunciados, e sua competência é, também, especificamente lingüística – em sentido amplo. Qualquer falante é capaz de parafrasear um texto, de resumi-lo, de perceber se está completo ou incompleto, de atribuir-lhe um título ou, ainda, de produzir um texto a partir de um título dado. São estas habilidades do usuário da língua que justificam a construção de uma gramática textual, cujas tarefas básicas são:

a) verificar o que faz com que um texto seja um texto, isto é, determinar os seus princípios de constituição, os fatores responsáveis pela sua coerência, as condições em que se manifesta a textualidade;
b) levantar critérios para a delimitação de textos, já que a completude é uma das características essenciais do texto;
c) diferenciar as várias espécies de textos.

Lang postulando ser o texto “o resultado de operações de integração”, ressalta que a significação de um texto (ou, ainda, a informação que ele veicula) constitui um todo diferente da soma das significações das frases que o constituem, visto possuir, com relação a esta, um “suplemento de significação”.
Entre os modelos de gramáticas textuais, destaca-se o de Petöfi que é uma gramática textual com uma base textual fixada de modo não-linear, isto é, a base textual consta de uma representação semântica, indeterminada com respeito às manifestações lineares das seqüências de enunciados. É a parte transformacional que determina as manifestações lineares do texto. Petöfi postula ser este modelo de gramática apto a tornar possível: a) a análise de textos, isto é, a atribuição a uma manifestação linear de todas as bases textuais possíveis; b) a síntese de textos, ou seja, a geração de todas as bases possíveis textuais; c) a comparação de textos. Neste modelo, o léxico, com suas representações semânticas intencionais, assume função relevante.
O segundo é o da construção das gramáticas textuais.
O terceiro, finalmente, é o da construção das teorias de texto. Adquire particular importância o tratamento dos textos no seu contexto pragmático: o âmbito de investigação se estende do texto ao contexto, entendido, em geral, como conjunto de condições – externas ao texto – da produção, da recepção e da interpretação do texto.

Levar em conta esses três critérios de análise – o sintático, o semântico e o pragmático – é indispensável na hora de examinarmos qualquer fato da língua. Por exemplo: muitas vezes um enunciado sintaticamente igual pode ter uma semântica e uma pragmática completamente diferentes se for pronunciado por um brasileiro e se for pronunciado por um português. Embora a língua aparentemente seja a mesma na forma e na organização das palavras, o uso dessas palavras pode ter significados e efeitos diferente aqui no Brasil e lá em Portugal. Por isso, podem surgir mal-entendidos na comunicação: um dos falantes pode usar as palavras com uma determinada intenção em mente e o outro entendê-las com outro significado e com outra intenção.

Ex.5: Um rapaz brasileiro, entrou numa loja em Lisboa e perguntou ao vendedor: “Tem filme para máquina fotográfica?” O vendedor, muito gentil, respondeu: “Ter, temos, mas não há”. O rapaz ficou confuso, e não é para menos. Ele não sabia que os portugueses não usam o verbo TER com sentido impessoal de HAVER, como nós brasileiros fazemos (e como eles, portugueses, faziam na Idade Média). Assim, o vendedor entendeu a pergunta como: “[Vocês] têm filme para máquina fotográfica?” Por isso respondeu: “Ter, temos [normalmente], mas [agora, neste momento] não há [filme na loja para vender]”.

Por isso, também, é preciso tomar muito cuidado com o uso do rótulo tradicional de erro. Um suposto erro sintático pode muitas vezes ser provocado por uma intenção do falante de deixar mais claro o significado que tem em mente. Esses aspectos pragmáticos são muito importantes no momento de estudarmos, entre outras coisas, as transformações que a língua sofre ao longo do tempo.

IV – Conceituação e relevância das gramáticas textuais

A gramática textual define-se em termos do tipo de objeto que se propõe descrever de maneira explícita – o “texto” ou “discurso”.
Do mesmo modo, a lingüística textual não deve ser caracterizada em termos de certos métodos ou modelos, mas, sim, do seu escopo, ou seja, dos tipos de objetos e de problemas que constituem o seu campo de estudo. Assim sendo, diz van Dijk (1978), não teria sentido tentar provar que a gramática de texto ou a lingüística textual são “incorretas”, já que elas resultam da decisão de se proceder a um estudo lingüístico (gramatical) do discurso, decisão esta que necessita de legitimação, mas não pode ser “refutada”.
Desde o momento em que se reconheça também como tarefa própria da lingüística o estudo das estruturas do discurso, não será mais necessário falar em gramática e lingüística de texto: elas estariam englobadas na gramática e na lingüística. Como ainda hoje não se adota , de modo unânime, este ponto de vista, uma série de argumentos poderia ser levantada a seu favor (cf. Van Dijk, 1978):

1) às teorias lingüísticas e às gramáticas em particular cabe dar conta da estrutura lingüística de enunciados completos, isto é, também de enunciados constituídos de seqüências de frases.

2) existem propriedades gramaticais além dos limites da sentença – por ex., as relações semânticas entre sentenças.

Ex.6: Tabuleta na porteira de um sítio: CACHORRO

3) o estudo do discurso permite chegar a generalizações sobre as propriedades de períodos compostos e de seqüências de frases.

Ex.7: O homem estava preocupado.

Seu carro submergido parou, por fim, e ele estava completamente só.

Estava muito frio e escuro.

O homem tirou o casaco, abaixou o vidro da janela e saiu do carro tão rapidamente quanto possível.

Em seguida, usou toda sua força para se movimentar o mais rapidamente que podia.

Sentiu-se mais calmo quando por fim conseguiu ver as luzes da cidade, embora ainda estivessem muito distantes”.


“O homem estava preocupado. Seu carro submergido parou, por fim, e ele estava completamente só. Estava muito frio e escuro. O homem tirou o casaco, abaixou o vidro da janela e saiu do carro tão rapidamente quanto possível. Em seguida, usou toda sua força para se movimentar o mais rapidamente que podia. Sentiu-se mais calmo quando por fim conseguiu ver as luzes da cidade, embora ainda estivessem muito distantes”.

4) certas propriedades lingüísticas fazem parte de unidades supra-sentenciais – por ex., fragmentos, parágrafos de um discurso, como também a noção de macroestrutura.

5) o relacionamento entre gramática e pragmática pressupõe uma descrição gramatical também de seqüências de frases e de propriedades do discurso como um todo – por ex., para dar conta das relações entre atos de fala e macroatos de fala.

Ex.8: A: Você trouxe as coisas que pedi?
B: As que estavam lá em cima?
A: Não, as que deixei no quintal.
B: Ah, vou buscá-las.

Embora esse texto faça pouco sentido para um estranho, os interlocutores se entendem perfeitamente, complementando as lacunas através de inferências baseadas em seu conhecimento partilhado.

6) uma gramática textual fornece uma base mais adequada para um relacionamento sistemático com outras teorias que se ocupam do estudo do discurso, como a estilística, a retórica, a poética etc.

7) uma gramática de texto oferece melhor base lingüística para elaboração de modelos cognitivos do desenvolvimento, produção e compreensão da linguagem (e, portanto, do discurso).

8) uma gramática textual fornece melhor base para o estudo do discurso e da conversação em contextos sociais interacionais e institucionais, e para o estudo dos tipos de discurso e usos de linguagem entre culturas.

V – O conceito de texto

Sobre o termo texto, diz Stammerjohann que se trata do conceito central da Lingüística Textual e da Teoria de Texto, abrangendo tanto textos orais quanto escritos que tenham como extensão mínima dois signos lingüísticos, um dos quais, porém, pode ser suprido pela situação, no caso de textos de uma só palavra, como “Socorro!”, sendo sua extensão máxima indeterminada. De maneira geral, a lingüística textual trabalha com textos delimitados, cujo início e cujo final são determinados de um modo mais ou menos explícito. As demarcações mais evidentes são decorrentes de alterações na interação pragmática dos indivíduos que produzem ou recebem um texto. Um sermão, um diálogo, um livro constituem textos devidamente delimitados.
No plano do conteúdo, os significados ordenados de todos os signos do conjunto do texto podem ser designados de sentido. À semântica textual, como parte da lingüística textual, cabe indagar-se sobre as regras válidas para a determinação recíproca dos signos verbais no texto e a sua compatibilidade dentro do contexto.
A sintaxe textual inter-relaciona-se com essa semântica ao indagar-se sobre a contribuição, no texto, das instruções dos morfemas sintáticos à redução da complexidade da significação e à informação de um sentido global. Esses morfemas e sintagmas que, de maneira particular, trazem uma contribuição à formação do texto denominam-se elementos constitutivos. A uma descrição completa dos elementos constitutivos de que dispõe uma dada língua para a estruturação de textos denomina-se gramática textual.

Ex.9: Poxa, que calor aqui!

a- Em uma sala cujas janelas estão fechadas;
b- Em um automóvel cujo ar condicionado está ligado;
c- Em uma sala cuja lareira está acesa.

Cabe á gramática textual explicar o que faz com que um texto seja um texto, propriedade esta que se denomina textualidade.

VI – Texto ou Discurso

As diferentes concepções de texto ou discurso acabaram por criar uma confusão entre dois termos, ora empregados como sinônimos, ora usados para designar entidades diferentes.
Uma das causas da confusão é o fato de , em algumas línguas, como o alemão, o holandês etc. só existir o termo texto, a partir do qual se criaram as denominações “gramáticas de texto” e “lingüística de texto”, mesmo porque o inglês, a par do termo discurso, possui também o termo texto, embora mais usado para referir-se ao discurso escrito. Essa ambigüidade, que ocorre em todas as línguas românicas, levou ao estabelecimento de dois termos técnicos diferentes.
Em um discurso, ocorrem, normalmente, incorreções gramaticais falsas interrupções, incoerência parcial etc. o texto, por sua vez, é mais abstrato, produto de vários componentes, não só gramaticais como estilísticos, retóricos, esquemáticos (p. ex., a narrativa), além de outras estruturas não concernentes à lingüística propriamente dita.
Pode-se concluir, portanto, que o termo texto pode ser tomado em duas acepções: texto, em sentido lato, designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano, (quer se trate de um poema, de uma música, uma pintura, um filme, uma escultura etc.), isto é, qualquer tipo de comunicação realizado através de um sistema de signos. Em se tratando da linguagem verbal, temos o discurso, atividade comunicativa de um falante, numa situação de comunicação dada, englobado o conjunto de enunciados produzidos pelo locutor (ou por este e seu interlocutor, no caso de diálogo) e o evento de sua enunciação. O discurso é manifestado, lingüisticamente, por meio de textos (em sentido estrito). Neste sentido, o texto consiste em qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se, pois, de uma unidade de sentido, de um contínuo comunicativo contextual que se caracteriza por um conjunto de relações responsáveis pela tessitura do texto – os critérios ou padrões de textualidade, entre os quais merecem destaque especial a coesão e a coerência.

Capítulo 2 – Precursores da Lingüística Textual

2.1 – Precursores do Lato Sensu

Três grandes linhas de pensamento podem ser citadas como precursores da lingüística textual: a retórica, a estilística e o formalismo russo.
“A Retórica é, acima de tudo, uma técnica que deve permitir, a quem a possua, atingir, dentro de uma situação discursiva, o objetivo desejado; ela tem portanto um caráter pragmático: convencer o interlocutor da justeza de sua causa”. (Todorov, 1971:81)
A Estilística, alimentada pela retórica, pela gramática e pela filosofia, surge como um segundo precursor. Até pouco tempo atrás, a frase era considerada a unidade lingüística mais alta e assim, todas as relações acima do nível da frase deviam constituir o objeto da estilística, isto é, o plano do texto ficava-lhe pelo menos teoricamente reservado.
Hoje, porém, a lingüística deve fornecer à estilística os fundamentos necessários tanto no plano da frase, como no texto. Seu objetivo é caracterizar as propriedades inerentes à estrutura dos textos em geral.

2.2 – Precursores do Stricto Sensu

Entre os representantes da lingüística estrutural podem-se mencionar diversas reflexões voltadas para o texto, entre elas análises funcionais das frases e germes de análises do discurso. Lingüistas como Hjelmslev, Harris, Pike, Jakobson, Benveniste e Pêcheux, além de outros, podem ser considerados precursores da lingüística do texto.
Hjelmslev foi talvez, o primeiro a esboçar uma definição de texto. Texto para ele, significa toda e qualquer manifestação da língua, curta ou longa, escrita ou falada.
Jakobson já como membro do Círculo Lingüístico de Praga, contribui eficazmente para conduzir a Lingüística ao estudo do discurso, ao redefinir e ampliar o estudo das funções da linguagem.
E.Benveniste pode ser considerado um dos primeiros dos estudos sobre o discurso. Salienta que somente no quadro ao discurso, isto é, da língua assumida pelo homem, e sob a condição da intersubjetividade, é que se trona possível a comunicação.
Outro precursor direto dos atuais estudos sobre o discurso é M. Pêcheux, que considera a língua como condição de possibilidade do discurso.
Zellig Harris não nos oferece uma teoria do discurso, mas apresenta-nos um modelo de análise que é por ele definido com um “método de pesquisas, em qualquer linear. Para ele a diferença entre enunciado e texto não é apenas uma diferença de nível quantitativa, mas, sim, qualitativa, visto que se trata de unidades heterogêneas.

Capítulo 3 – A Lingüística Textual na Europa

Este capítulo tem por objetivo examinar os trabalhos que vem sendo realizados por vários lingüistas no campo da gramática textual, surgida na Europa, onde vem tendo grande impulso nas últimas décadas, em diversos países, especialmente na Alemanha.
Focalizar-se-ão. Portanto, daqui por diante, as obras de alguns destes autores.

Halliday

Seguindo a linha funcionalista introduzida na Inglaterra, postula a existência de três macrofunções: a ideacional, a interpessoal e a textual. A primeira corresponde ao que costuma chamar de função cognitiva ou referencial da linguagem; a segunda, ligada à posição que o locutor assume perante o ouvinte no processo da enunciação; a terceira, finalmente, é aquela que permite a estruturação de textos de modo pertinente ao contexto, já que toda a língua possui elementos capazes de justificar e explicar essa adequação.
Halliday e Hasan (1973), definem o texto como “realização verbal entendida como uma organização de sentido, que tem valor de uma mensagem completa e válida num contexto dado”. Assim, “o texto é unidade da língua em uso, unidade semântica (...) não de forma e sim de significação”. Ele não consiste numa simples soma de períodos ou orações, mas é realizado por seu intermédio. A textualidade - aquilo que faz com um texto seja um texto - depende, em grande parte de certos fatores responsáveis pela coesão textual. Sendo os principais fatores de coesão textual: a referência, a substituição, a elipse, a conjunção e a coesão lexical.
Os trabalhos de Halliday têm servido de base para inúmeras pesquisas no campo da gramática de texto, especialmente, por parte daquelas que se orientam do enunciado para o texto.

Weinrich

É um autor que não apresenta propriamente um modelo de gramática textual. Ele postula a necessidade daquilo que se poderia chamar “macrossintaxe do discurso”, com base em diversos aspectos discursivos, tais como a sintaxe dos tempos verbais, a do artigo, a questão da subordinação e da coordenação, entre outros.
Para Weinrich, o texto é uma seqüência linear de lexemas e morfemas que se condicionam reciprocamente, e que de modo recíproco, constituem o contexto. Cabe a sintaxe textual guiar o leitor/ouvinte dentro desta rede de relações, dando-lhes pistas quanto à decodificação por meio de instruções, ou seja, sinais que orientam, facilitando-lhe a compreensão global ao texto. Entre estes sinais encontram-se os artigos, certos advérbios e as formas verbais.

Ducrot

Entre o posicionamento de Weinrich e o de Oswald Ducrot, há vários pontos de contato, embora existam também pontos de vista divergentes. Ambos empenham-se no estudo dos elementos constitutivos do texto, isto é, dos morfemas e sintagmas que, de maneira particular trazem uma contribuição à formação de um sentido discursivo global.

Isenberg

Seu objetivo primordial é construir, ainda que parcialmente, um mecanismo apto a engendrar textos, isto é, uma gramática de texto que deve der um modelo da competência lingüística do falante e não dos processos postos em ação na construção de um enunciado em situações concretas de discurso.
Define a gramática textual como um mecanismo finito capaz de gerar um conjunto potencialmente infinito de textos, com suas propriedades formais e semânticas. Isenberg procura fundamentar sua gramática de texto na teoria padrão, postulando, porém, como unidade básica de estudo, o texto e não i enunciado.

Lang

Examina a tendência muito difundida na época de se postular a necessidade de entender ao texto o campo da lingüística porque “há fatos lingüísticos cuja explicação exige que se recorra a um contexto exterior às fronteiras da frase”. Para ele, o significado de um texto (ou a informação que ele traz) é um todo que é mais do que a soma (ou a lista) dos significados das frases que o constituem e tem propriedades que justificam que se estenda ao texto o campo da gramática.
Conclui afirmando não haver até então uma definição precisa de texto e que uma gramática de texto não poderá estabelecer-se senão progressivamente, pela integração sucessiva em todos os aspectos; ela não substituirá a gramática da frase, porém, originará um setor particular da lingüística onde se operará a junção com outras ciências.


Dressler

Tem por objetivo principal construir um mecanismo apto a engendrar textos, isto é, uma gramática de textos que deve ser um modelo da competência lingüística do falante. Percebe-se que a semelhança de van Dijk procura fundamentar sua teoria de texto na teoria gerativa, tomando como ponto de partida o significado, mas propondo, como unidade básica de estudo, o texto e não o enunciado. Para ele, o texto é signo lingüístico primário, a unidade fundamental da língua, e o homem fala ou escreve por meio de frases, mas de textos.
Neste terceiro capítulo, após todos os demais componentes textuais, Dressler passa a cuidar especialmente da pragmática do texto, afirmando que ela “trata das relações de um elemento lingüistico com seus produtores, usuários e receptores na situação comunicativa” (p. 131).
Enfim, cabe à pragmática do texto inseri-lo na sua situação comunicativa. Para tanto, segundo Dressler, tornar-se necessário o recurso a outras ciências, como, por exemplo, a teoria da comunicação, a sociologia, a psicologia, visto que existe uma série de problemas que, por enquanto ainda não vêm encontrando soluções satisfatórias, exigindo, portanto, uma bordagem interdisciplinar.

Van Dijk

Procura demonstrar que a análise de um texto é redutível a uma análise frasal, pois o falante de uma língua conhece as regras subjacentes às relações interfrásticas (anafóricas, pronomes, tempos verbais, definitivização, tópico, comentário, foco, ênfase, pressuposição, implicação etc.), sem as quais não poderia, produzir enunciados coerentes: “já que o falante pode produzir/interpretar um número infinito de discursos diferentes, sua competência é necessariamente textual”(1977:208).

Petöfi

Dedica-se, cerca de dez aos, à elaboração de uma teoria do texto. O objetivo de suas pesquisas tem sido o de construir uma teoria semiótica dos textos, capaz de explicar simultaneamente os aspectos extra-textuais (externos ao texto), compreendendo estes não apenas as condições externas de produção e recepção de textos, como também o componente semântico-extensional – a interpretação, no sentido lógico do termo.
Petöfi considera o texto a unidade de base da gramática, à qual cabe estudar e descrever todos os aspectos das relações que podem existir entre enunciados de um texto, o que exige, necessariamente, que se ultrapassem os limites do enunciado. Além disso, do ponto de vista da comunicação, a troca e o registro de informações ocorrem quase sempre por meio de textos.
Os trabalhos de Petöfi atingem elevada complexidade, visto que tem por objeto não apenas os fenômenos textuais, mas a própria lingüística textual, cujos fundamentos o autor vem pesquisando e questionando continuamente e para a qual vem tentado forjar um instrumental adequado.


Conclusão:

Concluímos no decorrer do nosso trabalho, que a Lingüística Textual, com esta nova concepção de texto, revolucionou e evolucionou, abrindo caminhos para o conhecimento, o qual necessita e exige novas e eficientes formas de representação permitindo ao homem, organizar cognitivamente o mundo, pois determinados aspectos de nossa realidade social só são criados por meio da representação dessa realidade e só assim adquirem validade e relevância social, de tal modo que os textos não apenas tornam o conhecimento visível, mas, na realidade, sócio-cognitivamente existente.
A Lingüística Textual torna-se, assim, cada vez mais, um domínio multi – e transdisciplinar, em que se busca compreender e explicar esse objeto multifacetado que é o texto – fruto de um processo extremamente complexo de interação construção social de conhecimento e de linguagem.

RESUMO DO LIVRO LINGUISTICA TEXTUAL
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