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Erotico-->41. CONCLUSÃO de OS CÍRCULOS DA VIDA E DA MORTE -- 07/02/2004 - 08:56 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não se estimulou a turma a decifrar os sentimentos e pensamentos impressos na famosa fita magnética da gravação de Felícia. Sentimo-nos um tanto frustrados, porque víamos que tantos esforços não se coroavam no âmbito de nossas próprias atividades. A irmã, reconhecíamos, reunia muitos méritos, contudo, era como se nos deixasse para trás em prol de um ideal. Não compreendíamos também a euforia dos mentores, muito mais interessados em aclamar a saída de uma do que a se dedicarem ao elogio de tantos que vinham ganhando pontos preciosos para o atendimento das expectativas curriculares superiores da “Escolinha de Evangelização”, órgão sob cuja insígnia todos estávamos, mestres e alunos. Ninguém ousou, porém, levantar o problema, nem mesmo junto aos monitores, tanto nos sentíamos envergonhados com nós mesmos, porque não fizéramos jus à mesma regalia.

Foi João quem deliberou chamar a atenção do grupo de redação, na primeira oportunidade:

— Se vocês estão tão mal impressionados com os acontecimentos que envolveram Felícia, não estará na hora de discutirmos francamente o que nos leva a pensar e a sentir assim? Acredito que ascender aos páramos celestiais da eterna bem-aventurança há de ser o objetivo maior de todos. Por que, então, ficamos um tanto jururus com a felicidade alheia? Até parece que os trabalhos socorristas aos sofredores nos são atribuídos para nos sentirmos mais felizes, em plano superior, mais inteligentes, mais cultos, mais ungidos pela retórica evangélica, sem praticá-la deveras. É como se fosse um prêmio de consolação ir ao encontro dos desditosos encarnados, com sua miséria moral e material, para lhes revelar a verdade do carma da reencarnação e a necessidade de preservação dos meios de garantia dela. Temos de considerar-nos, realmente, apaniguados pelo Senhor, porque estamos tão próximos do círculo de vida transcendental ao nosso estágio umbrático, tanto que merecemos a companhia de alguém tão superior a nós na qualidade de coleguinha, com quem conversamos, de quem divergimos, por quem fomos orientados e a quem tivemos oportunidade de corrigir, não tanto pela consciência que tivemos dos problemas, mas por lhe servirmos de medida para o conhecimento da verdade. Acho que deveríamos engolir os pruridos de insatisfação causados por diversos fatores psíquicos e conhecer o inteiro teor da mensagem que Felícia reservou para nós, num momento que deve ter sido o de maior felicidade de sua existência. Que pensam da “nobreza” (ou da pobreza) de meu discurso?

João provocava as análises pejorativas pela manifestação francamente irônica, porque desacreditava, inclusive, dos próprios sentimentos. Mas não obteve repercussão favorável à crítica, porque o que quer que lhe dissessem poderia ser revertido para o próprio interlocutor.

Após algum tempo de pesado silêncio, prosseguiu:

— Ao menos, deveríamos transcrever algumas das falas do diálogo entre o Governador e a nossa ex-amiga.

Forçava o ex e exigia, pela postura mental, que lhe respondessem. Foi Odete quem resolveu deixar-se fisgar:

— Você não pense que vou cair em tão simplória armadilha. Basta saber que Felícia está se encaminhando para outra existência de muito maior expressão que a nossa para concluir que teremos uma protetora equivalente ao anjo guardião individual, que nos tem assistido e orientado toda vez que nos sentimos perdidos e rogamos por auxílio. Felícia jamais haverá de ser “ex-qualquer-coisa” para nós. Não era isso que você desejava ouvir?

— Era isso e mais a confirmação de que a audição da fita deve conter algumas lições para nós e para os irmãos encarnados que irão dar-nos a honra de sua leitura.

Maria resolveu participar:

— Conversei longamente com Epaminondas e ele é de opinião de que devamos manter os registros originais dos textos, sem aviltarmos a linguagem para favorecer os menos cultos, ao contrário do que nos havia sugerido Odete. Não gostaria de prosseguir a reunião, sem que definíssemos o nível de linguagem a ser adotado para o relatório aos mortais.

Fortunato desejou amainar a possível animosidade entre as damas:

— Acredito que...

Maria logo interrompeu:

— Você está com medo do “achismo”? Por que não diz “acho” ao invés desse impertinente “acredito”?

Fortunato prosseguiu imperturbável:

— Acho, quase com certeza (e sei que esse “com certeza” já mereceu comentários), que tudo o que fizermos não levará o público terreno a prestigiar as idéias e os sentimentos que lhe passarmos, uma vez que a realidade da vida que levam é por demais premente de necessidades materiais, para prestarem atenção nos atos mínimos do dia-a-dia. Assim que tomarem contato com a nossa informação, passarão a aguardar a ida à terra dos mensageiros e missionários, aos quais delegarão a tarefa de salvar a natureza. Se conheço bem o espírito do povo, irão menosprezar, inclusive, a qualidade superior do texto, se pautado pela linha mestra da linguagem literária. Ao contrário, se o vulgarizarmos, buscando o registro coloquial, aí dirão que os espíritos não são perfeitos, não são superiores, mesmo porque não nos declaramos tais, e nos relegarão ao esquecimento. Mais tarde, quando estiverem enfrentando o cataclismo universal, dirão, desmemoriados, que o Senhor é injusto por não tê-los prevenido do desastre. Vamos cumprir a nossa parte da melhor maneira possível, elaborando a mensagem como der, de acordo com nossos limitados recursos, arriscando-nos a oferecer um compêndio sem atrativos (muito maior sucesso obteríamos se escrevêssemos na linha das previsões apocalípticas) e oremos fervorosamente ao Pai, para que nos ajude, enviando-nos a inspiração de alguns irmãos de luz, não tanto para o trabalho em perspectiva, mas, essencialmente, para que algo se registre, insidiosa ou subliminarmente, que convença os seres humanos a seguir o rumo evangélico, qualquer seja a condição moral em que se encontre no instante da leitura.

Maria foi obrigada a reconhecer:

— Peço perdão por haver sugerido que você estivesse apenas querendo pôr panos quentes na frieza dos nossos ânimos, meu e de Odete. Vejo que está bem longe de seu pensamento o tal do “achismo”. Bem pensando, talvez se justifique a transcrição desta derradeira reunião do grupo para a deliberação final, antes da redação definitiva. Talvez mesmo deva ser assinalada a imperfeição de nosso caráter, para que os leitores não se suponham apenas marionetes dos espíritos que, como Felícia, ascendem a planos mais quintessenciados, desinteressados pela sorte dos que se encontram com as vidas sob ameaça. Confio em que a mensagem que se contém na fita irá prever a resposta a todas as desconfianças nossas e deles.

Odete aparteou:

— Quando desejei impregnar o texto com dizeres mais consentâneos com a mediocridade feminina, pensava nas pobres mulheres escravas da casa e da família. Entendi, posteriormente, pela leitura das anotações, que se estimulam os estudos e o progresso intelectual, no sentido da integração de todos numa sociedade mais justa, sem discriminações culturais, com a riqueza eqüitativamente distribuída por todos os filhos de Deus. Entendi, também, que o tema não se coaduna com o ideal de vida da maioria das pessoas, de forma que poucos serão atingidos pelos dardos de nossa crítica mais feroz. Sob tal aspecto, justificam-se plenamente a colocação de Fortunato e a proposta de Epaminondas. Cedo a minha opinião e me conformo (no bom sentido) ao padrão do grupo. Voto pela audição, discussão e transcrição da fita.

Todos de acordo, passaram a ouvir a gravação.

Houve mais de quinze minutos de absoluto silêncio. Não se reproduziam os pensamentos, não se sentiam as emoções nem se ouviam os comentários do Governador. De repente, a voz de Felícia, embargada, agradecia ao beneplácito da ascensão:

— Muito obrigado, caríssimo amigo, por me haver demonstrado que necessitava daquelas últimas lições. Creio que fiz por merecer o convite para seguir com os companheiros da outra esfera, pois não sou hipócrita nem falsamente modesta. Digo-o para o registro que me solicitaram os amigos. Reconheço que poderia ajudar muitos encarnados, se me sacrificasse em nova encarnação missionária. Contudo, tenho para mim que, se for tão importante a reencarnação de espíritos mais capacitados, não se recusarão os que habitam as regiões superiores, evidentemente muito melhor aparelhados do que eu em todos os aspectos. Se não o fazem é por terem sobejas razões, cuja explicação sou incapaz de oferecer. Por outro lado, onde quer que estiver, deverei atingir muitos outros tópicos de transcendental sabedoria, tornando-me, portanto, muito mais útil, se vier a ser requisitada a volver à crosta terrestre para o desempenho das atribuições por ora suspensas. Não vou propor-me desde já, mas posso dizer, com sinceridade, com integridade de caráter, que não farei nada que contrarie a vontade dos meus superiores. Sinto, adotando um ponto de vista mais abrangente, que os seres humanos encarnados saberão vencer os desafios que lhes serão colocados pelo ideário evangélico que subsidia a confecção do nosso texto. Agradeço e abraço muito efusivamente a todos os parceiros da última jornada e lhes prenuncio aventuras terrenas de muito sucesso, pela categoria espiritual de que são portadores. Podem contar comigo para tudo quanto precisarem, desde o presente momento até quando tiverem a mesma ventura que estou vivenciando. Conto com os diligentes monitores, instrutores, professores, mestres e mentores para o desenvolvimento do socorrismo evangélico nas personalidades dos alunos.

Seguia-se a nomeação de cada membro da “Escolinha de Evangelização”. Ao citar Maciel, lembrou-se da aula inaugural, rememorando todos os trechos que lhe ficaram no inconsciente, agora plenamente compreensíveis. Seguiram-se alguns instantes de forte vibração emocional. A transmissão se dava com a mesma qualidade como quando Felícia estava junto deles. Chorava naquele momento? Certamente, em pleno êxtase de felicidade. Os pensamentos descreviam a suavidade do ambiente de paz que existira durante a prece de Maciel e os amigos reunidos puderam perceber que tudo se repetia com maior intensidade, sob o patrocínio dos irmãos de muita luz presentes à entrevista.

Era a derradeira mensagem da amiga.



Ao voltarem para a classe, no horário de participação dos eventos e estudos particulares, levavam o rascunhão do texto, na capa do qual se lia: “Os Círculos da Vida e da Morte”.

Epaminondas abriu os trabalhos, cedendo a palavra a Maria, que proclamou:

— Está pronta a mensagem. Precisamos de um grupo afeito às tarefas de magnetização, para a transmissão aos encarnados por meio de psicografia. Quem se habilita?



Indaiatuba, de 03.04 a 04.06.96.

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