Sob o declinar do ano 2006,
vai ainda o Outono no meio
e uma muito estranha invernia
fustiga de lés a lés o meu país
enquanto o povo-chão aflito
redobra de esforços e canseiras,
batendo-se contra a calamidade,
assaz corajoso, denodadamente
entre cheias, decepção e escombros.
Em nome do benquisto Natal
que só é quando é e menos será,
já se estendem negaças de má-fé,
sub reptícias e supérfluas atracções,
predadoras engenhocas sedutoras
que significam e instauram
o pleno invés da doação fraterna,
adulterando-lhe a essência
e corrompendo-lhe o desígnio.
Os ricos cada vez mais ricos,
inconscientes da famigerada praga
que simbolizam ao longo dos milénios,
sofismam permanentemente a caridade
e miserabilistas em náuseo descaro
organizam peditórios para os pobrezinhos
nos jornais, na rádio, na televisão,
exuberantes, ciosos da capitosa predação
em que se sentem solidários irmãos.
Oh... Até os ateus se interrogam
Como pode Deus desistir de existir?!...
António Torre da Guia |