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Erotico-->31. A VIAGEM PROSSEGUE -- 28/01/2004 - 07:19 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A visão da floresta amazônica não trouxe informação que não se contivesse nas palavras de prevenção de Epaminondas. O desmatamento caminhava a passos de gigante e as projeções não continham óbices de natureza a retardar a devastação. Os poderes políticos, francamente de acordo com o aproveitamento econômico da área, faziam coro com os que clamavam contra o desperdício das riquezas extrativas, havendo diversas instalações dizimadoras de recursos com as placas dos serviços federais, estaduais e municipais. Não houve necessidade de muita pesquisa para constatar-se que muitas figuras públicas se enriqueciam, utilizando-se do poder de comando para a realização de projetos particulares. A impressão de que os naturais da terra eram ingênuos caiu definitivamente pela facilidade com que se deixavam envolver nas explorações de suas próprias reservas, a troco de comodidades mínimas e de grandes vícios. Onde se notavam resistências, viam-se os traços característicos das tensões a se resolverem pelo trucidar de populações inteiras. Enfim, a timidez da proteção oficial não autorizava cálculos otimistas de resguardo dos habitantes, da flora, da fauna e das jazidas minerais, com a conseqüente poluição das águas, afetando, inclusive, a sobrevivência dos povoamentos ribeirinhos.

O grupo deliberou não ficar mais tempo por ali e desejou arremeter-se na direção do sertão nordestino, de antemão sabendo o que iriam encontrar. Nada já surpreendia os alunos, mas, assim mesmo, estarreceram-se com o descaso dos próprios miseráveis em alcançar algo de melhor para si e para suas famílias.

No plano espiritual, ficava mais evidente o atraso daquela gente, tantas eram as tentativas frustradas das encarnações, sem proveito algum, porque o sofrimento não era tido na conta do processo cármico e os indivíduos que cedo retornavam mais não viam do que ódio em suas próprias almas, constituindo-se em declarados inimigos daqueles que, por ignorância, por incultura, por menoscabo da vida alheia, não se importavam se os rebentos vingavam ou sobreviviam às doenças e à fome.

Suspeitou-se de que algo havia de desproporcional, porque, não longe dali, na orla marítima, muitos viviam na opulência.

Fortunato pediu ajuda a Epaminondas:

— Não vejo por que tanta discrepância. Se uns possuem tanto, não seria lógico que todos pelo menos um pouquinho tivessem? De onde vêm os recursos dos abonados que não podem atravessar a barreira geográfica para oferecer um pouco mais aos miseráveis? Sempre ouvi dizer que verbas enormes eram enviadas e desviadas. Será que o sistema continua sendo esse mesmo?

Epaminondas não quis oferecer razões para que os alunos crivassem os perversos de dardejantes vibrações de malquerença. Temeu pela impropriedade das reações e iniciou os esclarecimentos por um estremecido pai-nosso. Após a prece, reivindicou dos pupilos que não volvessem os olhos para a alma dos viventes, mas que limitassem seu campo de visão aos problemas físicos.

João desejou seguir na esteira do mestre:

— Bem poucos locais visitamos tão inóspitos quanto o sertão. Mas não nos foi difícil de distinguir prósperos núcleos, onde a irrigação se faz regular e o trabalho cientificamente planejado. A existência de quem esteja progredindo economicamente faz acreditar na possibilidade de se estender a mesma filosofia por todos os recantos. Há muitos açudes, embora nem sempre projetados com eficácia para a finalidade agrícola, servindo muito mais aos reclamos dos latifundiários. Em todo caso, outros estão à disposição dos trabalhadores rurais que teimam em aguardar que o céu lhes envie as águas da fartura, porque o solo é fértil. Mas os agricultores são atrasados e não têm nenhum cabedal que lhes forneça panorama mais vasto das necessidades básicas. No entanto, são pessoas de arraigada fé nos poderes espirituais, para além do que se pudesse considerar razoável.

Epaminondas interrompeu a peroração:

— Vejo que o interesse de vocês se volta irresistivelmente para a paisagem humana, mesmo quando o tema proposto foi explicitamente amarrado nos problemas ecológicos. Mas aceitarei a justificativa, se me disserem que vocês irão trabalhar com as pessoas, para que as populações reformulem os projetos de vida material em função do interesse coletivo. Pois bem, devo adiantar que o abandono em que se encontram os mais afetados pela miséria tem muito que ver com antigos problemas de desfeita aos princípios da generosidade, do amor e das virtudes. Como notaram, os seres no campo espiritual se desentendem entre si e com os viventes. Essa situação irá perdurar por muito tempo, até que a civilização se sinta na necessidade de ocupar o espaço rústico do sertão, trazendo a sua tecnologia mais avançada, ou, o que é mais provável, até que a desgraça mundial estenda suas garras para sufocar os poucos que restarem.

Impressionados com a crueza da descrição, os alunos desejaram visitar as praias, para absorção da beleza paradisíaca dos recantos ainda não contaminados. Eram grandes extensões da mais portentosa natureza, que nada indicava estar ameaçada. Ao se aproximarem das capitais, no entanto, os aglomerados populacionais iam num crescendo de ocupação territorial, inclusive com a exploração dos recursos naturais para o lazer de incontável população flutuante, turistas de diferentes regiões do país e do mundo. As festas regionais foram resumidas em transmissão a partir da colônia e todos puderam inteirar-se da incrível vocação dos nativos e dos estrangeiros para a captação da maior quantidade possível de emoções transitórias e materiais. Mas o montante de dinheiro que se movimentava para onde ia? Ficava entesourado, justamente, nos cofres dos mais espertos, que desses existiam em todos os postos da escala de poder.

Felícia quis saber dos colegas se algum havia que pudesse descrever o que se passa no coração dos abonados, mas Epaminondas obstou a exposição a que diversos se aprestavam, explicando:

— Temos tido a oportunidade de analisar com muita profundidade a natureza particular dos seres humanos residentes no país. Vamos dar que muitos estão sendo praticamente intimados a raciocinar em termos materialistas, apesar da expressiva quantidade dos que se dedicam ao aprendizado das leis de Deus e se aplicam com afinco na ajuda dos menos afortunados. O Brasil, apesar dos fortes contrastes das diferentes regiões, palpita sob o manto protetor de Jesus. Quando visitarmos a Europa, iremos encontrar seres com muito maiores bens materiais mas sem a vitalidade dos brasileiros, como se derrotados tivessem sido pela própria civilização que construíram sobre bases menos injustas, em termos sociais. Mas não quero antecipar. Vamos apenas crer em que temos problemas que necessitam de soluções a curto, médio e longo prazo. Eis o que cada qual deve definir com precisão, para darmos curso aos projetos de implantação de missionários nas diferentes regiões. Essa definição onde iremos buscar? Nos estudos sérios. As terras de além mar esperam por nós. Apenas para estimular o ânimo de vocês, alguém percebeu quantos dias levamos para percorrer o Norte e o Nordeste?

Rogério pensou em responder que seis dias, conforme as vibrações que captou dos colegas, mas Epaminondas foi fulminante:

— Não levamos mais do que cinco horas. Acho que estamos progredindo bem depressa.

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