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Erotico-->30. INQUIETAÇÕES -- 27/01/2004 - 08:09 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Muitos, ao se recordarem de quais seriam os próximos postos de observação, temeram que se repetiriam enfadonhamente as paisagens destruídas do Sudeste e do Sul e solicitaram esclarecimentos. Epaminondas reuniu o grupo ainda sobre as querências gaúchas e esclareceu:

— É sobremodo penoso observar as devastadas regiões, principalmente quando se tem a certeza de que não se reconstituirão jamais, sem que sejam banidos os habitantes humanos. Mesmo assim, regiões como as do Estado de São Paulo, sozinhas, sem a presença dos homens, levariam mais de quinhentos anos para a restauração das matas. conforme se encontravam ao tempo do descobrimento e ainda sem a grandiosidade primitiva e demais recursos da fauna. Entretanto, o cálculo desse tipo de projeção somente é feito para o cotejo com os que se fazem em função do auxílio que a terra irá requerer para não expulsar os habitantes. Se lhes parece insana a luta, quase impossível, também devemos estimar os esforços que todos deveremos empreender, na confiança de alcançarmos sucesso, com a ajuda de tantos abnegados em todos os quadrantes das esferas espirituais, altamente empenhados em realizar trabalhos de forte impacto ambiental, pela formação ecológica das porvindouras gerações, aquelas que terão a antevisão do cataclismo mundial, sofrendo, portanto, com a perspectiva da tragédia e não com ela em si mesma. Pois bem, muito do que está ocorrendo na selva amazônica tem de ver com essa esperança, pois, apesar de estarmos perante terríveis acontecimentos geológicos, ainda restam vastas regiões incólumes, a fornecer oxigênio para os seres vivos. O que importa, nesse caso, é saber como extrair os benefícios de tão ricas flora e fauna, ao mesmo tempo que se dá à natureza meios de se refazer, o que a tornaria, de certa forma, intocada. É na inteligência humana quintessenciada pelo evangelho do Cristo que se encontrarão os subsídios científicos capazes de resguardar o que resta e de melhorar os trechos francamente destroçados. Se vocês tivessem conhecimentos geomorfológicos e geológicos da região iriam ter a exata convicção de como se criou a extensa floresta em terreno quase totalmente inadequado para a extração, porque o processo de reconstituição haverá de ser muitíssimo mais demorado do que aquele do interior de São Paulo a que me referi. Podemos comparar os efeitos da dendroclastia de hoje com a que se praticou onde se encontram os desertos africanos. Vocês pensam que sempre existiram esses imensos areais? No início do século XX, existiam densas florestas em muitos lugares onde hoje só existem desolação e inospitalidade. Eis que se prenuncia futuro de pouca perspectiva vital para...

Felícia, preocupada com o tamanho do discurso e imaginando a reprodução dele no livro que ia escrever, quis atenuar a necessidade dos leitores de seguir tão enredada exposição. Assim sendo, ousou interromper, para perguntar:

— Querido mestre, não queira antecipar as conclusões, por favor. Sabemos que a terra está na iminência...

Epaminondas, sorrindo compreensivo, sugeriu um daqueles problemas que interessavam aos professores:

— De que tipo de iminência se trata: iminência para o próximo século ou iminência para daqui a trezentos anos?

— Certamente, a iminência a que me refiro está na exata correlação existente entre as observações que somos capazes de realizar, com a possibilidade de intervenção nos processos de degeneração, quando tivermos renascido e assumido postos de comando ou de influência intelectual. Quando estivermos agindo (espero que proficuamente), tais cálculos deverão ser refeitos a cada nova atividade em favor ou contra a natureza.

— Não será exatamente isso que se pretende de vocês, a partir do momento em que se dedicarem aos estudos de caráter científico?

— Percebo que o mestre está ministrando conhecimentos específicos no campo terrestre para forçar-nos à deliberação do regresso à colônia, para encetarmos a caminhada rumo a esse setor da sabedoria material, a qual está intimamente ligada aos eventos que nos darão o suporte para o aprendizado evangélico, assim que nos habilitarmos nas virtudes superiores em prol de sua aplicação a favor dos semelhantes. Poderíamos, se for essa a sua intenção, deixar de testemunhar a desgraça territorial brasileira em andamento?

— Poderiam, sim, porque temos recursos para oferecer visões reais significativas, toda vez que nos requisitarem, sem os entraves das tremendas vibrações emanadas dos que se julgam ameaçados em sua autonomia, para efeito das realizações meramente materiais, onde pretendem ter todos os direitos, porque se arriscam à perda do mais precioso bem terreno, ou seja, a vida física, e à imersão nas trevas, porque, para o que fazem, necessitam matar ou escravizar, num território que é selvagem não apenas pela contextura florestal, mas também pela aplicação do poder de destruição sobre os seres humanos. Querem porque querem a efêmera felicidade dos sensores corpóreos e desprezam toda conquista eminentemente moral. Glorificam-se pela repercussão de seus feitos nas mentes dos pares, porque são capazes de submeter os semelhantes aos guantes poderosos de sua vontade. Vivem sem lei que os puna, sem polícia que os alcance, sem consciência que os acuse. Haverão de constituir-se nos piores para o convencer dos cientistas, tanto que muitos estrangeiros alimentam, desde há algum tempo, a cobiça da invasão criminosa, com a desculpa da preservação do oxigênio, da água e do solo, em função da vida da humanidade. Essa não será a solução dos próceres, dos doutos, dos sábios, dos evangelizados, mas quem se oporá, quando se divulgar que a “desertificação” da região amazônica representará o mesmo que duzentas bombas atômicas, como as que destruíram as cidades japonesas? E existe outro fator a incentivar a guerra militarizada, qual seja, a economia paralela à dos governos oficiais, a partir da utilização da proteção florestal para o plantio e a industrialização de diversos itens no campo das drogas alucinógenas, cujas conseqüências urbanas vimos no Rio de Janeiro e teremos oportunidade de conhecer em outros centros densamente povoados, onde os crimes se multiplicam para a conquista das riquezas e dos prazeres.

Felícia percebeu que havia submersos muitos problemas mais, ocultos pela superfície daquela exposição propositadamente simplificada para que pudesse reproduzir. Agradeceu a boa vontade do professor e calou-se, esperando que mais alguém se pronunciasse a respeito de voltar para a colônia. Mas a classe permaneceu curiosa quanto à possibilidade de registrar por si mesma os eventos referidos por Epaminondas.

“Terão os companheiros a impressão de que o mundo gozará de muito tempo mais antes de oferecer sérios problemas para a saúde dos habitantes? Estarão vendo a saudável aparência de muitos e a contristadora condição da maioria como problemática a ser resolvida apenas no âmbito dos arranjos legais de pequena monta, como se a decisão de fornecer leite para as crianças fosse suficiente para que venham a crescer fortes e inteligentes? E as habitações, com todos os insumos infra-estruturais para o saneamento básico? E a educação, para efeito de melhoria no desempenho profissional em todas as áreas?”

Iria muito mais longe nas cogitações, se não tivesse sido estimulada a pronunciar-se a respeito do que ouvira.

— Acredito que, se nos dedicarmos à apreciação dos problemas atuais, iremos crescer dentro do programa de estudos de forma mais coerente com o que deveremos executar quando encarnados. Contudo, não podemos olvidar que fomos nós mesmos que provocamos a viagem, durante a qual não estamos amealhando conhecimentos no campo rigorosamente disciplinar das matérias, sejam puramente científicas, sejam de aplicação psicológica, para não enfatizar os modelos que se elegem dentro dos sistemas filosóficos, como a dinâmica da relação que guardam entre si os diversos princípios e seus corolários. Sei que não estou sendo absolutamente clara, porque não pretendo dissuadir ninguém da deliberação de prosseguir a vilegiatura. Apenas gostaria de apressar a viagem, para “não perdermos o bonde da história”.

Foi João quem desejou um esclarecimento de Epaminondas:

— Por favor, mestre, quanto tempo gastamos até agora com esta pesquisa rudimentar?

— Quer que empregue o sentido de tempo terreno ou você está preocupado com o que poderíamos ter realizado na colônia, se lá tivéssemos permanecido?

— Poderia referir-se a ambos?

— Claro! Em termos de rotação da Terra ao redor de seu eixo, passamos cerca de quinze vezes pelo mesmo local do espaço.

— Quinze dias.

— Isso mesmo, porque não nos concentramos nos tópicos, pela influência externa, a qual nos promove estremeções emocionais de largo espectro.

— O que quer dizer...

— ... que, se estivéssemos resguardados pelas defesas da colônia, poderíamos ter aprendido, pelo menos, duas das matérias de maneira integral.

— Então, estamos perdendo tempo!

— Absolutamente não. Do jeito que estávamos enfrentando os estudos, vínhamos gastando muito mais tempo. Após o regresso, não nos deixaremos envolver por nenhum sentimento restritivo do intelecto, de forma que faremos os mesmos estudos em dez por cento do tempo atualmente disponível.

Felícia foi quem agradeceu as explicações:

— Apreciei muitíssimo que João e Epaminondas tivessem sido tão didáticos. Dessa forma, não precisaremos amoldar o diálogo para fixação do nosso texto. Acredito que, do jeito que conversaram, vai ser possível aos humanos compreender esse importante tópico de suas interrogações sobre os eventos do etéreo. O dia não está inteiramente perdido.

A sutileza da observação provocou o riso da turma, que se preparou para o transporte às selvas amazônicas.

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