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Cordel-->Apologia do Martelo de Dez Agalopado -- 21/01/2002 - 10:27 (José Mario Martínez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Foi na praça central de Caruaru;
estavam, Gerineldo e Padim Ciço,
conversando na porta dum cortiço
lanchando, dum farnel, pirarucu.
Então foi que se ouviu maior rebu
e - atentos - foram padre e afilhado
ouvir um cantador meio aloprado
- no entanto, rigoroso e sistemático -
invocar, com lirismo democrático,
o martelo de dez agalopado:

Senhores, eu não gosto de poesia,
acho uma coisa assim... meio careta
pra rimar sempre usando de mutreta,
"Poeta é fingidor", Pessoa dizia.
Assim pensava eu até que um dia,
por mil métricas já desenganado,
me encontrei com um verso atropelado
que me fez revisar esse conceito
e pensei: Vamos ver se levo jeito
no martelo de dez agalopado.

Quem me fez conhecer o tal martelo?
Egídio - quando não! - velho doutor
do verso popular e professor
de cordel, junto a Fiúza e ao Marcelo.
Poeta de pijama e de chinelo,
vou eu, de português espanholado,
arriscando dar conta do recado
sem errar no "e" fechado e aberto.
Tomara que desta vez fique certo
no martelo de dez agalopado.

Soneto? Para que tanto artifício?
Isso é coisa do ano mil quinhentos,
no dois mil e dois sopram outros ventos,
não precisa de tanto sacrifício.
Rimar quatorza versos acho vício
que poucas vezes é recompensado;
requere-se um esforço que é danado
e afinal, o que dá é decepcionante.
Melhor é o batimento alucinante
do martelo de dez agalopado.

Tem cabra que tá achando que poesia
consiste em expressar os sentimentos,
não entende que tem outros elementos,
sem eles fica pouca porcaria.
Precisa concissão e de harmonia
para um poema bem estruturado,
fazer fluir legal o palavreado
reservando pro fim uma surpresa,
e o ritmo que acomoda tal beleza
é o martelo de dez agalopado.

Martelo não precisa de cupincha
que ao fim da cantoria bata palma;
fingindo-se de morto chega n´alma,
galope que não zurra nem relincha.
Martelo é surpreender que nem Garrincha
dibrando toda vez pro mesmo lado.
Precisa não ser baita complicado,
isso é que muita gente não consegue.
Dificil é acertar passo de jegue
no martelo de dez agalopado.

Nem quero ouvir falar verso sem rima,
que é coisa de poeta desconexo:
quem lê, mais duma vez fica perplexo,
pois verso sem rimar só desanima.
Pensar em verso branco me dá grima
e me deixa os cabelos arrepiado.
Quem quiser ser poeta desregrado,
que cante pra si mesmo, se interessa.
Poeta de verdade só se expressa
no martelo de dez agalopado.

A décima espinela é meritória,
seu ritmo surpreendente e elegante,
a rima rigorosa e consonante
e dá para contar mais duma estória.
Mas ao verso de sete falta glória
que sobra ao decassílabo arretado.
Se tu estiver com forças e inspirado,
querendo conquistar um doce amor,
tu te lembra que a décima tem cor
no martelo de dez agalopado.

Dez versos por estrofe, que não sobra,
dez sílabas por verso até o acento,
barca de dez por dez tem sentimento,
mas sem exagerar, se não soçobra.
Assim completarás singela obra
com dez por dez formando um bom quadrado,
e, querendo ficar mais caprichado,
e bom para saúde que nem rubo,
fazendo dez estrofes tens um cubo
no martelo de dez agalopado.

Ouviu tais maravilhas nosso amigo,
que com o Padre Ciço matutava,
que logo - bom rapaz - se entusiasmava
pensando em se vingar do jeito antigo.
Ninguém o ouviu falando do inimigo
pois ele era do tipo reservado,
mas sei que o que falou tá bem falado
pois disse em sacramento e contrição,
embora nunca vide confissão
em martelo de dez agalopado.

"Pai Ciço, por favor, vê se me ensina,
preciso me vingar do Coronel,
quem sabe se fazendo um bom cordel
consigo conjurar minha cruel sina!
O canto deste poeta me ilumina,
queria que a mulher volte a meu lado!
Quem sabe mudo o rumo do meu fado
usando uma canção, meu Padim Ciço,
que - dizem - tem poderes de feitiço:
o martelo de dez agalopado!"

Padim Ciço responde: "Tu te manca,
tô vendo tá dificil de entender,
se tu quer recobrar quem mal te quer
melhor é tu entender conversa franca.
Se tu chegar de viola ele te espanca,
jagunço é que não falta ao desgraçado;
tu chega de peixeira bem armado
e arranca as tripas dele; me obedece,
e até que esteja morto vê se esquece
o martelo de dez agalopado".


J. M. Martínez 21/1/2002





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