Porque eu gosto de culinária em geral, sempre ganho de presente livros de cozinha. Além dos meus, comprados ao longo de toda uma vida - e sem tempo pra fazer nem um terço das receitas - tenho também espólios de bibliotecas de amigas e de amigas de amigas, ad infinitum.
Enfim, no finzinho do ano passado, ganhei também, de uma amiga octogenária, um livro que a acompanhou sempre e que dele retirou receitas para seus fabulosos bolos com os quais presenteava a todos os felizardos que a conheciam. Trata-se de um livro "antigo", talvez da década de 1940, com copyright e autógrafo de Dolores Botafogo. É a sexta edição de um volumoso livro com o singelo título Bolos Artísticos .
Diverti-me bastante passeando por suas páginas. E foi assim que fui descobrindo os mais engraçados (ou intrigantes) nomes de receitas. Vejam, quer dizer, acompanhem, porque não vou poder mostrar as fotos ilustrativas de cada receita: Rêve D Amour - receita de bolo de noiva; Caixa de Madame de Sevignê [sic]; Shangri-lá , Carroça puxada por pássaro - a foto ilustrando este bolo é das coisas mais surrealistas: uma carroça cheia de feno com florzinhas, um garoto sentado na boléia e um enorme pássaro, mistura de pato (pelo bico) com avestruz (pelo tamanho), puxando tudo.
Há também uma aldeia havaiana, com casinhas estilo palafita; um bolaço chamado Princesa Isabel , outro com o nome Folha de parreira e realmente o bolo é uma enorme folha de parreira - mas para assegurar os gourmands de que se trata, vem juntamente a uma receita para fazer uns cachinhos de uva que se esparram pela dita folha.
Para batizado, um lindo bolo chamado Alvorada de rosas , e outro, Batistério - ambos de efeitos intrincadíssimos, com mil enfeites barrocos e carregados de chinoiseries . E para festa de Ano Novo, há uma sugestão de votos de prosperidade com o bolo Cornucópia da Fortuna . Há também uma construção adocicada, Sonho oriental , só que deveria ser outro sonho, e não oriental, porque o bolo é uma réplica de uma abóboda grega ou algo assim.
E não faltou patriotismo: há uma confecção perfeita, chamada FAB - com o símbolo completo da Força Aérea Brasileira, que devia estar fazendo bonito por ocasião da publicação do livro; e outro bolo, não tão encomiástico, chamado Vendaval , representando um barquinho e dois marinheiros, meio atrapalhados num mar azul-anilina.
E para sonhos mais tranquilos, uma Alvorada de rosas , um bolo Encantamento , um carroussel com bigas romans e fitas coloridas e, finalmente, o Matinata , os famosos sinos conjugados, badalando para a felicidade infinita do par que se casava e para quem o bolo se dedicava.
Um lindo livro. Um lindo passeio por um museu de açúcar e cores vivas, testemunhando um passado não muito longe de nós - mas tão distante!
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