Por mais que se encolha, por mais que “cavoque” um velho trapo, não encontra jeito de evitar o frio. Frio que vai tomando conta dos ossos que vai enfraquecendo e deixando dor nas extremidades do corpo. Mas o frio do corpo não é só o que o perturba, há também o frio da alma e do coração. Que dói como se houvesse uma adaga gélida cravada entre as entranhas que a qualquer movimento dói mais e mais. Não há mais lagrimas para o pobre cão que um dia pensou ser amado, mas foi enganado pelo acaso do engano que causa o engano. Pobre e solitário cão vive por não ter alternativa, vive a dor de seu abandono sem saber ao certo como ficou assim.
E mais uma corrente de ar sopra em seu corpo descoberto, em tremores sentiu o desconforto que antes não conhecia, e sem entender o porque de sofrer assim, só lhe resta esperar e torcer pelo calor do sol, que agora parece nem existir. Pra quem pedir calor, quem vai entender o pobre cão? E o calor do coração, que também foi embora, pra quem pedir? Quem vai entender? Pobre cão, chorar já não adianta mais, não querem nem ouvir seu choro, e assim o escorraçam. Só o queriam por perto quando servia de cão de guarda. Agora é chato e desagradável e não presta mais pra nada, pois ficou reclamão e doente, manda-lo morrer pra longe foi a idéia que tiveram pra ele. Pobre cão...
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