Novos Poemas Perdidos
A Professora Regina Igel, pela leitora carinhosa, pela amiga que encontrei.
Inviolável Corpo.
corpo-claro
como estas manhãs
sem sonhos
corpo-raro
margem impossível
de alheia travessia
corpo-abrigo
intervalo
entre
o vivido
e o imaginado
corpo-corpo
inútil corpo
como corpo qualquer
corpo-gozo
que se gasta
no prazer
de outro corpo
que se gasta em outros
que outros corpos
é o prazer que
se gasta
em nós
e assim nos
é dado
sofrer.
Á Emily Dickson
a palavra está morta
irremediável -
mente -
morta
bruta, besta,
alucinada -
mente -
morta
a palavra está morta
e, como um cancro,
apodrece em nós
Partilha
toma estes braços
que já não servem
estes olhos
que já não sentem
estes pés
a medir passos
a deixar rastros
na pétrea superfície
dos dias
toma estas palavras
que já não prestam
a esta voz
de boca inútil
de desejo fútil
a marcar a carne
a roer a carne
no intervalo perfeito
dessa perfeita falta
de amor
toma esta ausência
em mim assimilada
esta angústia estúpida
que já não vale
nada.
P.S - Como podem ver, cometi novamente a audácia de alguns versos. A poesia, talvez, seja nosso lugar no mundo, nossa forma perfeita de ser nessa vida de enganos, roucos, interditos enganos. Mas não quero, nunca quis ou desejei, para mim, a pretensão de poeta. Continuo acreditando que, no fim das contas, qualquer forma de expressão é uma resistência contra a "cal abrupta dos dias", contra os anjos e demónios que povoam essa realidade de aparências e sobressaltos. A poesia: um modo de resistir, sem desassossegos grandes, Ã s vilanias do tempo.
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