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Erotico-->9. A PRIMEIRA REUNIÃO -- 05/01/2004 - 09:04 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Estranharam Felícia e Rogério que muitos dos participantes tinham biografias semelhantes às suas, especialmente quanto à resistência aos estudos de caráter puramente científico. Das quarenta entidades reunidas, nada menos do que vinte e duas eram de espíritos que encarnaram vestes femininas na derradeira peregrinação terrestre. Dos demais, quinze eram homossexuais ou tendentes a ser, restando somente três, Rogério, Roberto e João, que tiveram existências caracterizadamente masculinas.

— Por quê? — ousou perguntar Felícia ao companheiro.

— Com certeza…

— Você tem a mania de começar com esse “com certeza”. Terá mesmo o conhecimento próprio da matéria ou tenta adquiri-lo mediante a informação prévia de que sua intuição está sendo haurida (“haurida”, veja só!) das vibrações que recebe dos mentores?

— Desculpe-me, querida irmã. Devo dizer que vou modificar o hábito, porque certeza não devemos ter de nada neste ponto evolutivo, aprendizes nesta “Escolinha de Evangelização”, com méritos muito restritos e imensa ignorância. Mas suspeito de que os seres eminentemente masculinos estabelecem diretrizes mais afeitas ao aprendizado das novidades no campo das descobertas e das invenções, ainda que subsistam com carências pronunciadas no setor intelectual.

— Acredita que sejam orientados pela cultura hodierna ou pode acontecer de que tenham firmado o procedimento desde muitas vidas anteriores?

— Ambas as coisas, com predominância na derradeira, porque precisam estar aptos ao entendimento dos últimos contributos dos luminares. Em todo caso, para a finalidade (que nos revelaram) de superior orientação terrena, dentro do terceiro milênio, porque estaremos sendo preparados para evitar o desbaratamento completo dos recursos naturais do planeta, é preciso que os seres obtenham domínio dos aparatos tecnológicos mais propícios a que se evite a catástrofe global.

— Será que o fim do mundo está tão próximo? Será a humanidade insensível, a ponto de prejudicar as gerações futuras?

— Do meu ponto de vista, sim. Mas estou, nesse sentido, extremamente curioso para conhecer os limites em que se situa a hecatombe, se possível em termos matemáticos, geofísicos, biológicos e dos demais ramos da etérea ciência.

— Meditei muito a respeito do que poderei oferecer, caro Rogério, para a salvação material dos seres necessitados de purgação terrestre. Cheguei à conclusão de que…

— Peço-lhe, copiando sua observação a respeito do meu com certeza, que não precipite conclusões. Tenha intuições, suspeitas, dúvidas, interesses, indagações, questionamentos.

— Muito bem colocado. De qualquer modo, estes três últimos dias transcorreram muito lentamente, como se a nossa expectativa sofreasse o decurso do tempo, obrigando-nos a concentrar-nos na memorização dos conteúdos dos disquetes.

— Vamos reunir-nos aos demais?

— Vamos.



As indicações precisas do meio eletrônico fizeram com que todos os da turma se considerassem velhos conhecidos. Trataram-se desde logo pelos nomes, sem inquirições supérfluas a respeito das expectativas e das disponibilidades individuais. Fator de natureza a conturbar outras classes, o conhecimento das perversões e das qualidades de cada qual estabeleceu o nexo vibratório que deu homogeneidade ao grupo.

Dessa forma, o burburinho cedeu logo que se ouviu melodiosa e suavíssima canção.

Adentrou o recinto o Professor Epaminondas, jovem no aspecto externo, que determinou as diretrizes gerais dos estudos. À medida que citava os mentores, segundo a programação curricular, estes iam surgindo pela porta lateral. Eram dezesseis professores e quarenta monitores, conforme previamente lhes havia sido informado.

— Estando todos presentes, vamos acolher o nosso mestre maior, Professor Maciel, para o “cavaco”.

Na mente de Felícia, que desconhecia o termo, registrou-se, claramente, a definição dele: “aula inaugural dos cursos superiores, segundo a gíria acadêmica.; bate-papo”. Mas não teve tempo de refletir sobre o sistema utilizado para os esclarecimentos periféricos ou suplementares: a presença do mentor principal da Escolinha de Evangelização atraiu a atenção de todos.

Era um homem maduro, de suavíssima expressão. Veio do fundo da sala, cumprimentando um a um os alunos, os instrutores e os professores, chamando-os pelos nomes e agradecendo-lhes a deferência da aceitação da condição de trabalhadores pela causa da humanidade.

Atrás da cátedra, permaneceu de pé, obrigando, com um gesto, que toda a assembléia se acomodasse, e deu início à palestra:

— Jesus, o divino pastor, é quem agradecerá o que vocês fizerem pelas ovelhas que se desgarram do rebanho. “Pai nosso, que estais nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade…”

Enquanto recitava a prece, desciam do alto tenuíssimas vibrações luminosas, de todas as cores, que bailavam no ar até se desfazerem junto às cabeças dos presentes. Era uma chuva de bênçãos provinda de outra esfera, promovida pelos espíritos superiores. Era o incentivo para o sacrifício que se solicitava de todos. Era, claramente, o indício de que o trabalho tinha importância transcendental. Era a comprovação de que os neófitos receberiam apoio e proteção de entidades situadas muito acima da zona umbrática em que se construíra a colônia.

Felícia não foi capaz de conter as lágrimas. Embebida nas emoções da hora, foi incapaz de se congraçar com os demais, para a recepção coletiva e uníssona dos etéreos… Falhava-lhe o intelecto na caracterização do fenômeno que, pela primeira vez, testemunhava. Mas julgou-se deveras apaniguada por cerrar fileiras sob tão auspiciosas promessas de bem-aventurança.

“Se me tivessem liberado a passagem para o círculo de vida seguinte, talvez não obtivesse tão integral felicidade. Graças a Deus!”



Quando silenciou o orador, Felícia pôde observar que o ambiente ganhara reflexos de luz dourada.

Maciel esclareceu:

— Benditos vocês, irmãos, que, de modo tão simples e emocionado, souberam receber o influxo de estímulos dos orientadores setoriais! Sei que nenhum de vocês, entretanto, saberia explicar como é que conseguiu a turma transformar as sensações de felicidade e prazer, as impressões de paz e amor, em luz capaz de alterar o ambiente, no sentido de favorecer o entendimento da boa vontade dos protetores e benfeitores. Quando forem capazes de conhecer os processos técnicos da geração energética, a partir…

O discurso prolongar-se-ia por mais algum tempo, mas Felícia foi incapaz de acompanhar o inteiro teor do tema. Não se aventurou, porém, a pleitear a tradução dos termos esotéricos para o ramerrão de sua condição intelectual inferior. Suspeitou que muitos estariam no seu caso, de forma que pôde imaginar que deveriam discutir a explanação do mentor, por certo gravada para ser posta à disposição dos mais fracos. Cansou-se, derreou-se e só se recuperou quando voltou a ouvir a melodia tranqüilizadora que fazia o contraponto sonoro das ânsias despertadas pelo cavaco inédito e incompreensível.



Ao erguer os olhos para a tribuna, Maciel já não estava. Foi quando o Professor Epaminondas recomendou que se formassem oito grupos de cinco elementos, para o estudo da questão: “Por que não fui capaz de entender muitos dos trechos da palestra do orientador?”

Irresistivelmente, Felícia, Rogério, João e Roberto se agregaram.

— Sinto-me constrangida, disse ela, forçando um pouco a sensação de isolamento, porque não temos nenhum outro espírito de condição feminina no grupo.

— Não seja por isso, irmã. Eis-me aqui para participar dos trabalhos junto a vocês.

— Seja bem-vinda, Maria. Creio que nos daremos muito bem!

— Sob as bênçãos de Jesus!

— Assim seja!

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