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Teses_Monologos-->FUTEBOL BRASILEIRO - A ORIGEM DA SUA MAGIA -- 17/03/2003 - 08:58 (Joel Ribeiro do Prado) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ENTRE AS ARMAS DO BRASIL, A CHUTEIRA

Fonte inesgotável de craques que vão enfeitiçar os aficionados do jogo da bola em todo o planeta, o futebol brasileiro quase que agoniza enquanto opção de lazer nos limites domésticos. Estádios deteriorados, rendas medíocres, submissão ao capital aplicado oportunistamente pelos que o vêem como mera peça promocional; estas são as condições que estabelecem o paradoxo.

Somos pentacampeões porque a paixão dos brasileiros segue podendo se alimentar noutra fonte, prestes a se exaurir: a fonte das conquistas que a arte, mesmo maltratada por um desacerto administrativo, conseguiu alcançar nos embates internacionais, onde a emoção esteve sempre presente, trazendo um conteúdo cívico que outros eventos ou símbolos não conseguem estimular.

Para quem saiba olhar o soccer brasileiro não apenas pelo viés do misticismo, mas por ele, que é o que lhe fomenta a paixão, e também pelo ângulo do negócio lucrativo que lhe é inerente, a fórmula da redenção deve conjugar estes dois aspectos. Como?


ANDRAJOSA MAJESTADE

Nascido entre os de cintura dura e tendo a fleuma dos ingleses a embalar as transmissões radiofônicas das partidas, o futebol britânico, como outros, não incorporou a magia que o nosso adquiriu dos fantasiosos narradores que, antes do advento da televisão, esculpiam, sobre cada lance, formas e efeitos que, depois, os garotos que ouviam iam tentar reproduzir nos campos da várzea e já com a bola nos pés. Foi assim, meio que cinzelada pela retórica latino-brasileira, que a pelada verde-amarela, adornada pelos bordados e lantejoulas dos speakers, saiu da ingenuidade da infância promissora, chegou à adolescência impregnada de malícia e ufanismo e alcançou uma maturidade contraditória, de dupla personalidade, que a faz entrar em campo como uma majestade e a coloca de quatro fora dele.


CRÉDITOS AO RÁDIO

Teria sido mera coincidência? Canhoteiro, Luizinho, Garrincha e Pelé, entre outros tantos de virtuosismo inquestionável, foram contemporâneos de um rádio que, sem o contraponto da imagem, que só em alguns momentos atinge o nível estético das maravilhas, cunhava na consciência da meninada um espetáculo fantástico, onde a bola, tocada de modo inimitável por alguém que só poderia ser brasileiro, assumia, de repente e em plena trajetória, o desenvolvimento dinâmico e traiçoeiro de uma folha seca...(grande Didi!).

OS COVEIROS DA MAGIA

Com o advento da televisão, o futebol no Brasil colocou-se mais próximo do grande público, mas não veio pelas telinhas, senão de quando em vez, com o brilho das miçangas antes lavradas só pelo som. O rádio teve de dividir com a televisão, pouco a pouco, a atenção da torcida. Os grandes espetáculos, nem tanto os de exceção, como um FLA-FLU, vieram, à medida em que a TV os trazia para dentro das casas, despregando-se da sua moldura humana; moldura humana, lá nos estádios, de feições esculpidas pela paixão e pelo fanatismo, a soltar os seus gritos de guerra entremeados por interjeições: Ui! Ah! Oh!; palavrões: Filho da p...! P.q.p! - além de outras saudações carinhosas: Ladrão! Bicha! Gaveteiro! Mão de gato! Essa moldura humana, ainda que exista e até em maior espessura diante das telinhas das televisões, não adensa, mas, ao contrário, faz até com que se rarefaça o clima de arrebatamento, o frenesi do futebol, gerando uma negativa reação em cadeia: clima frio, performance medíocre, sonolência do telespectador, perda de interesse, baixa na capacidade de captar adeptos e os manter.

Como mais uma pá de terra, as atuais transmissões de futebol, salvo raras exceções, pecam pelo exagero de mau gosto. Os narradores do rádio de hoje, salvo alguns poucos, trocaram a criatividade pela histeria, passando a idéia de que falam rebolando e de salto alto, com aquele rabicho de afetação fonética de sempre, produzido pelo endurecimento do queixo e a compressão do palato pela ponta da língua, resultando no prolongamento e passagem do final do som pelo nariz. Os grandes speakers do passado eram brilhantes na fantasia e inflamavam os ouvintes com as imagens que criavam, sempre colocando a voz de modo emocionante, mas natural. O berreiro de hoje afunda ainda mais o espetáculo e, para afundar, mesmo, algumas emissoras, tanto de rádio como de televisão, esmeram-se, colocando microfones abertos próximos dos jogadores e dos técnicos, durante os jogos, conseguindo apenas emoldurar a mediocridade com palavrões, o que torna a sintonia uma exposição à chulice que devora primeiro os falsos ídolos; depois, a nossa paciência, culminando por tornar a coisa imprópria para os ambientes civilizados e despojada do fascínio de ontem.


A PROFANAÇÃO DA CAMISA

O nosso futebol estará bem quando, sem cometer os tantos sacrilégios que comete, entre os quais o de fazer da sua camisa um painel publicitário, puder ser tão pujante na captação de recursos financeiros, que garanta a preservação dos seus expoentes e, em decorrência direta disto, amplie o seu poder de arrebatar um maciço público presente nos estádios, mesmo havendo, mas já aí impactado pelo comportamento trepidante do que lhe seja mostrado desde as arquibancadas pela televisão, aquele outro público mais distante, mas não mais sonolento e volúvel, que fica numa engessada torcida doméstica e anônima. Teremos nesse momento o futebol-empreendimento nivelado por cima com o futebol-arte, penta ou já quem sabe heptacampeão mundial.

ESTRELAS CADENTES


O futebol torna-se uma emoção sem causa, um espetáculo espectral encenado sobre um pasto, quando os atores, tornados painéis humanizados de uma publicidade estranha e subordinadora, conseguem só de vez em quando fazer algo que valha para alguns deles um passaporte para o estrelato, mas quase nunca para que cheguem ao nível das estrelas de primeira grandeza, cuja luz ainda se derrama sobre os que as viram nascer, de tão intensa que ainda era, já ao se apagar, décadas atrás. Pelé, Garrincha e outros tantos brilharão por muitos e muitos anos ainda na memória dos que os viram atuar. Já os craques desta fase mais mercantil, quando chegam, por exemplo, a formar na constelação do selecionado brasileiro, aí mesmo começam a parecer estrelas cadentes que perdemos de vista e de fato, arrastadas que vão para outro firmamento e outros palcos, sobretudo os da Europa e da Ásia, que os levam de nós pelo poderio econômico que o nosso país e, no caso do futebol, os nossos clubes nunca tiveram ao mesmo nível do futebol-arte, talvez até porque à nossa economia, que é anã, tenha faltado uma indução tão criativa como a que os speakers aplicaram ao toque de bola dos nossos jogadores.

Cabem ao rádio e àqueles que emprestaram suas vozes e a sua emoção às transmissões do futebol os maiores créditos pela posição exponencial alcançada pelo Brasil dentro deste esporte em todo o mundo.

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