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Erotico-->6. FELÍCIA CONDESCENDE -- 02/01/2004 - 07:25 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ao acordar, na manhã seguinte, bem cedo, Felícia intentou fazer funcionar o aparelho para a reprodução de outra biografia, mas a operação falhou.

“Terei de concluir que o defeito esteja em mim, uma vez que estes instrumentos jamais se deixam perturbar por desgastes, imateriais que são.”

Foi pensar e encontrar-se diante do instrutor.

— Mestre, por que me surpreendes com tua aparição inopinada?

— Caridosa amiga, não me trate por tu, que esse não é o sistema de linguagem habitual no Brasil, pelo menos na região de onde você proveio.

— Queira perdoar-me…

— Vamos parar por aqui nessa atitude afetada. Diga logo que você se tem preocupado demais com o desejo de ascender a páramos de maior felicidade, enquanto não admite aprender outros fatores de crescimento intelectual, já que se considera emocionalmente equilibrada.

— Estou vendo, caríssimo…

— Nem caríssimo nem preclaríssimo. Trate-me sem nuanças de grandiosidade. Sei que não tive a mesma oportunidade de retratar-me perante meus desafetos e muito deverei peregrinar para trazê-los ao meu círculo de amizades. Você está…

— Não conheço tão profundamente a sua vida pregressa para poder chegar à conclusão de que esteja sendo falso para comigo.

— Por que você suspeita de malícia? Que a leva a refletir sobre essa atitude que mascara a verdadeira intenção? Pensa, por acaso, que eu seja mentiroso?

— Meu bom Rogério — permita-me a intimidade do nome próprio — eu devo preveni-lo de que reconheço perfeitamente quando as pessoas estão a obstar-me o desenvolvimento, tantas vezes me enredei com seres infelizes e perniciosos. Fui levando os trabalhos de sustentação moral, até o ponto de convencer tais incrédulas criaturas de que o melhor era afeiçoarem-se a mim, por força de se aproveitarem das lições práticas que lhes poderia fornecer, para a aniquilação das seculares travas que as impediam de progredir. Se você pensa que estou sendo simplesmente tola, ambiciosa ou ferinamente crítica em relação aos conhecimentos que se ministram nesta colônia, engana-se redondamente. Sei perfeitamente que existem muitos campos das ciências humanas e extraterrenas que me estão interditos (“de onde terá provindo semelhante termo?”), por causa de minha acendrada (“de novo?!”) ignorância.

— Não continue, prezada amiga. Parece que estamos tendo uma conversa de surdos. Jamais entraria pela minha imaginação que sua vontade de atingir outra esfera desde logo esteja caracterizando um caráter banal. É que, muitas vezes, a vontade pode parecer incongruente com os ganhos morais da alma. Pessoas extremamente importantes se sentem mais realizadas quando pleiteiam, merecedoras que são, funções e regalias mais condizentes com seu adiantamento cultural. Nem precisarei citar o exemplo de quanto sofreria um ser civilizado arremessado em meio de tribo indígena, condenada a ali permanecer por tempo indefinido.

— Prezo que me tenha entendido. Você deve ter percebido, nos últimos tempos, que não faço mais jus sequer ao meu nome. Muito menos tenho tido a tranqüilidade de habitar no “Tugúrio dos Afortunados”. Aparentemente, a minha existência está conflitante com o aspecto material desta dimensão. Ganhei o grande concurso da benquerença universal. Não há quem, em me conhecendo, que não se sinta à vontade para estar junto a mim, ouvindo-me com interesse quando discorro a respeito de todos os ganhos morais possíveis de serem realizados neste meio hostil.; hostil, sim, pelas vibrações exteriores provindas dos seres menos evoluídos…

— … encarnados ou imersos nas profundezas grosseiras do Umbral e das Trevas. Entendo, imperfeitamente embora, que os seres vencedores deveriam gerir o próprio destino. Eu mesmo não compreendo inteiramente por que é que recebi a missão de contemplá-la com a tarefa…

— Não precisa justificar-se. Eu mesma não iria imaginar que você é quem tivesse tomado a iniciativa de me cercear a liberdade de transferir-me para o círculo seguinte. Quer dizer, então, que você recebeu instruções para me levar a condescender com o desejo dos maiorais da Governadoria…

— Mais alto…

— As ordens provieram de onde?

— Eu as recebi de meu inquieto mentor.

— Conheço a “peça”.

— Pois ele me revelou que havia grave preocupação em relação à sua atitude de certa rebeldia…

— Inteira rebeldia, pode dizer sem medo. Tenho bons motivos para ela.

— Pois aí é que reside a questão principal. Você tem razão em muitos aspectos, porque é fora de dúvida que, de ponto mais elevado, teria visão mais abrangente dos problemas que afetam o desenvolvimento dos encarnados na terra, podendo agir de maneira mais eficaz do que se se mantiver junto a nós.

— Então?…

— Então, nada! Depende de sua boa vontade permitir-se receber aquele rol de informações no campo da materialidade corpórea (inclusive deste setor semimaterial em que existimos), para efetuar excelsa aprendizagem a ser empregada em não muito feliz vilegiatura pela carne.

— Que mais lhe passou o seu “inquieto” professor?

— Disse-me ele que os famosos termos técnicos…

— … cujos significados…

— … cujos significados estão passando em brancas nuvens pelo seu cérebro, são a linguagem mais corriqueira do estrato existencial para o qual você deseja dirigir-se.

— Eu aprenderia nas escolas de lá, não é certo?

— Não estou apto a lhe responder com certeza, mas penso que, enquanto os cursos lá são aprofundados, os daqui são mais propícios…

— Aqui é o pré-primário e lá o primeiro grau.

— Aqui é o maternal e lá o jardim-de-infância.

— Pois muito bem. Eu estava planejando levar avante o intento de vencer pelo cansaço. Nisto, porém, vocês são bem melhores. Leve-me para a implantação em minha mente dos projetos educacionais que vocês teceram…

— Creia que estamos sujeitos a erros, porque tudo dependerá de seu desejo de atender aos preceitos metodológicos dos professores da área científica. Entretanto, jamais nos passou pela cabeça que você poderia fracassar.

— Não perca tempo discorrendo sobre temas em que estou diplomada e habilitada a lhe dar aulas. Contudo, quero reservar-me o direito de passar algum tempo, durante a estadia forçada neste ambiente, junto a meus antigos companheiros de realizações mundanas. Você há de reconhecer que estarei como peixe fora d’água junto aos Joões e Robertos da visão tecnológica da existência.

— Se me permitir uma observação incompleta…

— Não tenha medo de exprimir as suas dúvidas, querido Rogério.

— Pois bem. Eu acho que é bem mais fácil quando as pessoas começam a evoluir através do intelecto, da razão, para depois se aperfeiçoarem na parte sentimental, emocional, do coração. Eu acho que a sua resistência, quando paro para pensar no assunto, está muito próxima de ser justa. É que sem uma das asas…

— Eu acho que tenho duas e que sei voar. A humanidade é que está precisando de diretrizes mais seguras para a preservação da natureza. Não foi essa a causa primordial do assédio à minha pessoa?

— Desculpe-me a minha fraqueza de caráter. Eu estou muito cru para entender a genialidade dos santos, daqueles seres que mereceriam conviver com Jesus e que estão sendo forçados a missões junto a energúmenos como eu.

— Pois, então, não abuse de minha paciência, antes que eu suspeite de que você esteja, simplesmente, querendo diminuir as qualidades de minha “performance”, já que alude tão distintamente a certo termo que empreguei relativamente ao coitado do Roberto.

Haviam caminhado durante a conversa, de sorte que se depararam diante do portal de entrada da “Escolinha de Evangelização”. Felícia se resignou:

— Se Jesus é por todos, haverá de me amparar nesta provação.

— Assim seja!

E os dois entraram decididos a enfrentar os desafios da nova condição existencial.

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