O juiz ia saindo da Secretaria da Junta, quando voltou de repente. Era um juiz novo, ninguém o conhecia bem ainda.
- Vocês viram um pacotinho com um pastel que deixei no refeitório? Não o estou encontrando.
A diretora de secretaria levantou-se. Olhou rapidamente para a Malu que tinha fama de comilona. Chamavam-na, às vezes, Malu Magali, lembrando da personagem das histórias em quadrinhos.
Ela parecia nem ter ouvido o juiz, continuava a trabalhar.
- Não, doutor, eu não vi - a diretora falou meio sem jeito.
- Não tem problema. Acho que o pessoal da limpeza guardou em algum lugar. Era um pastel para o meu cachorro.
- Pastel prá cachorro? - quis saber a Malu, inesperadamente.
- Sim. Ganhei na casa de rações. É resultado de uma nova tecnologia, que emprega na massa intestinos de rã e no recheio puríssima proteína de minhoca. Dizem que o cachorro ganha força e energia e o pêlo fica lindo. Se vocês o encontrarem por aí, deixem na geladeira.
Saiu.
A Malu gastou todo o estoque de remédio para náuseas que havia na Junta.
- Malu, foi você quem o comeu?- perguntaram depois que ninguém encontrou o pastel e que viram que ela não estava bem do estômago.
Ela não abriu o jogo:
- Não, eu só fiquei com nojo. Já pensou se alguém comeu um pastel feito de minhoca e intestinos de rã?
Não fez lanche. Continuava enjoada.
No final da tarde, ela não resistiu e contou que realmente comera o pastel. A gargalhada foi geral. O pastel era feito com carne de soja, somente queriam pregar-lhe uma peça. A idéia foi do próprio juiz, quando soube da fama dela. Riram muito. Ela também, porém, não se emendou. Às vezes ainda encontra um lanchinho que parece não ter dono e come com vontade. Uma coisa, porém, mudou. Agora, ela examina bem o lanche antes da primeira mordida.
- Minhoca, eu ainda comeria, mas intestinos de rã, não - explica bem-humorada.
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20/06/98
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