Podemos definir o livro numa acepção mais ampla, como sendo
todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava,
fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus
conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças
e os vôos de imaginação. Estou aqui hoje no bairro de São José do
Albertópolis - Guaira. E estou analisando, nunca é demais louvar os
livros. Eles são como disse o poeta, a carne da alma e, em determinadas
circustâncias, podem ser mais do que isso. A cultura do manuscrito
está longe de ser uma cultura menor ou mais limitada do que a tipográfica.
A cópia de livros era considerada um trabalho intelectual na Idade
Média, ademais, não podemos nos esquecer de que, até o século
XV toda literatura existia, antes de mais nada, para ser recitada em
público e o manuscrito era apenas um instrumento acessório dessa
vasta e influente cultura oral, que nos deu pensadores como Pitágoras,
Sócrates e Demócrito e poetas como Homero e os trovadores medievais.
Do século V a.C. até o século XV de nossa era, o livro esteve associado
ao trabalho do escriba ou copista, que o forjava através de uma
laboriosa escrita e de invulgares iluminuras em rolos de pergaminhos,
papiro, velino ou papel de linho. Nem sempre o livro tinha um autor.
Quando tinha, o autor isto é, o poeta, o filósofo, o cientista, não era
propriamente aquele que escrevia : ele apenas ditava seus pensamentos
aos escribas, que depois os editavam em livros, naturalmente de
acordo com o maior ou menor refinamento literário de cada um.
O projeto da Enciclopédia influenciou profundamente a própria história
do livro. Não apenas deu o modelo dos chamados livros de referência
( dicionários, manuais e as próprias enciclopédias ), como também
contribuiu para um certo aperfeiçoamento da própria idéia do livro.
Muitos livros hoje produzidos, sobretudo nas diversas áreas da ciências
ditas exatas, utilizam procedimentos inspirados na Enciclopédias.
Informações paralelas, ilustrações detalhadamente comentadas,
glossários minuciosos, bem como índices analíticos e onomásticos
sofisticadíssimos, que possibilitam entradas não lineares no texto.
Mas a idéia do livro-maquina teria que desembocar na máquina
propriamente dita, no computador, onde daria nascimento a obras
eletrônicas audiovisuais e não-lineares, com acesso aleatório a qualquer
de suas partes, dotadas de mecanismos de busca extremamente
avançados, construidas sobre estruturas tridimensionais simultâneas,
que permitem dispor vários textos na tela ao mesmo tempo, para
leitura comparativa, ou abrir na tela janelas através das quais se
pode visualizar outros trechos relacionados ao texto atualmente
exibido, obras, ainda, que se pode distribuir e acessar por via
telefônica ou por ondas eletromagnéticas, através de bibliotecas
virtuais informatizadas. Na verdade, a história do livro sempre esteve
associada a dispositivos de escrita ou de leitura, de modo que a
assimilação da idéia do livro à tecnologia do período não é privilégio
de nosso tempo. Resta uma última questão a examinar . Por que
o livro impresso é substituído por dispositivos informatizados de
leitura, por livros-máquinas ou livros eletrônicos interativos que
trafegam em cabos telefõnicos ou ondas hertzianas ? Pode-se
explicar esse fenômeno sob um enfoque econônico, como uma estratégia
das multinacionais da eletrônicas e da informática para monopolizar
todos os mercados. Mas isso seria uma extrema simplificação.
-José Angelo Cardoso.-Poeta, contista , artista plástico.
Continuação na parte 3. Atenção.
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